Valdemar Alves, presidente da Câmara de Pedrógão Grande, tinha apenas 14 anos quando partiu da pequena vila do distrito de Leiria rumo a Lisboa à procura de trabalho com o primo em segundo grau Tomás Correia, atual presidente da Associação Mutualista Montepio Geral: “Não é terra que proporcionasse oportunidades”, explica Tomás Correia ao Observador.

Primeiro, Valdemar Alves passou por uma empresa de medicamentos, a Sandoz, onde foi paquete, tendo indo depois trabalhar para Coimbra, quando tinha cerca de 18 anos. Regressou posteriormente a Lisboa. Com cerca de 20 anos, concorreu aos quadros da Polícia Judiciária, onde esteve até se reformar. Foi lá que conheceu Francisco Moita Flores, com quem voltaria a trabalhar na Câmara de Santarém como seu assessor.

Nascido a 31 de Outubro de 1948, o autarca é descrito pelo primo como um “rapaz muito feliz”, “de uma família muito humilde que cuidava dos seus filhos, procurando dar-lhes o melhor e proporcionar-lhes oportunidades”. “Nós somos como irmãos. Crescemos juntos, vivemos juntos e sofremos muitas coisas juntos”, acrescenta o presidente da Associação Mutualista Montepio Geral.

Apesar da distância física, o autarca “manteve sempre uma ligação forte a Pedrógão”, refere Tomás Correia, acrescentando que o primo, casado e com dois filhos, sempre trabalhou como “voluntário”, ajudando as pessoas e as instituições da vila.

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“Ele considera-se um grande devedor daquela gente. Aquela gente muito simples que, com base em meia dúzia de princípios, transmitiu-nos tudo. Ajudou-nos a crescer e permitiu-lhe fazer a sua vida profissional”, acrescenta.

O regresso a Pedrógão Grande deu-se em 2013, quando encabeçou a lista do PSD enquanto candidato independente à Câmara — uma candidatura que contou com o apoio de Moita Flores. Venceu com 56,59% dos votos. “O Valdemar candidatou-se a pedido de muitos pedroguenses. Ganhou as eleições com mais de 50% dos votos e tem desempenhado o seu trabalho de forma exemplar, tanto do ponto de vista profissional, político e social”, diz Tomás Correia.

Valdemar Alves, presidente da Câmara de Pedrógão Grande © Fernando Fontes/Global Imagens

O corte com o PSD e uma nova candidatura com o PS

Valdemar Alves é novamente candidato à Câmara de Pedrógão Grande às autárquicas que se realizam no próximo mês de outubro. Desta vez é candidato pelo PS, como independente. Isto porque a concelhia de Pedrógão Grande e a distrital de Leiria do PSD aprovaram o nome de João Marques, antigo autarca da vila. Em declarações à Lusa, o atual presidente da Câmara não escondeu o choque. “Foram buscar-me a Lisboa e agora fazem isto [apoiarem outra candidatura]. Foi uma surpresa para mim”, afirmou Valdemar Alves. “A minha recandidatura é uma questão de honra”. E deixou ainda um aviso à Comissão Coordenadora Autárquica do PSD: “Vou ser o próximo presidente da Câmara de Pedrógão Grande”.

Na altura da apresentação da candidatura, António Sales, deputado e presidente da Federação do PS de Leiria, não poupou elogios ao candidato, destacando o seu trabalho, nomedamente a “criação de uma zona empresarial, cujas projeções apontam para a criação de 163 postos de trabalho, um investimento já admitido no âmbito dos fundos comunitários do Portugal 2020, e a requalificação de vários espaços públicos – tais como a criação do parque verde de Graça, mercado de Vila Facaia, o recinto da Feira de Pedrógão Grande, a piscina municipal ou o centro de saúde”.

Elogios que se voltaram a repetir a propósito da tragédia que assola o concelho de Pedrógão Grande. “Conheço-o há vários anos. É uma excelente pessoa, um grande presidente de câmara e um grande homem, como foi possível ver pelo acompanhamento que tem feito deste processo e pela forma como tem tratado os cidadãos de Pedrógão Grande. Tem sido inexcedível”, refere António Sales ao Observador.

“Ele sabia que esta tragédia podia acontecer a qualquer momento”

“O Valdemar é um apaixonado pela sua terra e pelas pessoas da sua terra”, acrescenta Tomás Correia. “Deve estar a sofrer muito nesta altura como todos os pedroguenses, mas o Valdemar sempre viveu intensamente os problemas daquela gente”, contou ao Observador quando estava a caminho de Pedrógão Grande. Desde ontem que o presidente da Associação Mutualista Montepio Geral tem tentado ligar para várias pessoas na localidade, mas praticamente sem sucesso. Apenas conseguiu trocar SMS e falar com duas pessoas. Nenhuma delas foi o primo.

“Há mais de 40 anos que o Valdemar tem vindo a alertar para o facto de termos naquela região de pinhal a maior ilha do país. Uma ilha de enorme riqueza florestal, mas razoavelmente abandonada e, por conseguinte, causadora de tragédias muito fortes. Ele sabia que esta tragédia podia acontecer a qualquer momento”, diz Tomás Correia.