A deslocação do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, à base militar de Besmayah, Iraque, para visitar o contingente português, na segunda-feira, durou apenas três horas mas foi a que suscitou mais preocupações de segurança, admitiu o ministério.

Cumprindo ao minuto os horários previstos, o Falcon da Força Aérea Portuguesa partiu do aeroporto de Figo Maduro, Lisboa, no domingo às 12h15 para Creta, Grécia, de onde levantaria no dia seguinte, para Bagdade. Em coordenação com o comando da coligação anti grupo radical Estado Islâmico – Daesh no acrónimo em árabe – liderada pelos EUA, o Estado-Maior General das Forças Armadas estabeleceu o nível de risco da deslocação entre os “50 a 80%”.

“É uma avaliação de risco muito volúvel”, admitiu esta terça-feira, em declarações à Lusa, o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, antes de embarcar para regressar a Lisboa. “Não conhecemos os dados todos e estamos a lidar com terrorismo”, disse Pina Monteiro, sublinhando que na preparação desta deslocação sobressaíram duas condicionantes: a proteção individual e a disponibilidade e natureza do voo de Bagdad para Besmayah. É que, disse, estava fora de questão “circular [por via terrestre] no Iraque” e a deslocação do aeroporto de Bagdade até Besmayah teria de ser feita por meios aéreos.

Assim, Portugal recorreu aos meios dos EUA, que disponibilizaram dois helicópteros UH-60 Blackhawk para transportar a comitiva, dividida também segundo critérios estabelecidos pelo EMGFA: o ministro da Defesa e o CEMGFA não poderiam ir juntos. Portugal, que pagará aos EUA o transporte nos helicópteros, estava limitado às condições da cedência daqueles meios, programando uma visita curta, com um horário que não permitia deslizes, disse.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para seguir viagem naqueles helicópteros de transporte e assalto – com quatro atiradores norte-americanos, dois para cada helicóptero – era preciso usar equipamento de proteção específico: capacetes e coletes de proteção balística, óculos, supressores de som para proteger os ouvidos e luvas.

Os óculos, luvas e supressores de som foram distribuídos ainda no Falcon, pouco antes de aterrar em Bagdade, pelo ajudante de campo do ministro da Defesa, capitão Eduardo Brás, que captou eficazmente a atenção da comitiva ao fazer, entre o bem-humorado e o sério, uma espécie de “mini briefing” de segurança.

“No helicóptero, se ouvirem um `trumtrumtrum´, é normal, é o rotor do helicóptero a trabalhar. Se ouvirem um `tshiuuu´, é sinal de que a cabeça deve estar baixa. Se ouvirem um `tratatata´, o próximo barulho pode ser um `tchack´, como se fosse o barulho de um chicote, e se o ouvirem isso não é muito bom”, disse, enquanto retirava com gestos cuidadosos o equipamento da caixa.

Com experiência no teatro de operações mais perigoso, o Mali, em 2014, o capitão Eduardo Brás visou chamar a atenção para a necessidade de cumprir as regras de segurança, em caso de algum imprevisto. Antes disso, cada elemento da comitiva já tinha também pendurado ao pescoço chapas de identificação militares, com o respetivo nome, número de cartão de cidadão e grupo sanguíneo.

Depois de um voo de 25 minutos entre Bagdade e Besmayah (cerca de 50 km para sudeste), os helicópteros da coligação aterraram na base militar Grá Capitan, com o ministro da Defesa a tentar cumprir um programa que afinal não cabia em menos de três horas – o último ponto, o jantar no refeitório geral, foi cancelado.

Uma cerimónia militar, um discurso, uma reunião com o comandante da base, o general espanhol Rabadan, uma apresentação por parte do comando de caráter classificado, um segundo “briefing” apenas respeitante à força portuguesa, troca de lembranças, assinatura do livro de honra, uma volta de autocarro pela base, uma visita à exposição na “Casa de Portugal” – os militares aproveitaram a visita do ministro para comemorar o Dia de Portugal – um jantar e um café eram os itens na agenda da visita.

Entre tudo, houve um ponto que, segundo o ministro da Defesa, não estava previsto e que o surpreendeu: quando os militares em parada cantaram o Hino Nacional, sobrepondo a sua voz em uníssono ao instrumental que saía dos altifalantes.

Esta visita foi a primeira de um ministro português à força nacional destacada na base militar de Besmayah por onde já passaram 160 militares, em rotação, desde 2015, que dão formação e treino aos militares iraquianos que combatem o grupo radical EI. A deslocação ao Iraque já tinha sido tentada há um ano, mas acabou por ser abortada por imperativos de segurança, segundo fontes da Defesa.