O secretário de Estado da Administração Interna (MAI), Jorge Gomes, desmente ao Observador ter pedido demissão esta madrugada, na sequência dos incêndios deste fim de semana, que provocaram a morte a, pelo menos, 41 pessoas nas regiões Norte e Centro, como avançou a RTP. Antes, já fonte oficial do MAI tinha também desmentido a informação.

Questionado diretamente sobre a notícia que dava conta do alegado abandono do Governo, pelas 2h00 desta quarta-feira, Jorge Gomes respondeu: “não, não é verdade”.

O desmentido chegou depois de já fonte oficial do MAI ter negado, ao Observador, tal notícia: “O Ministério da Administração Interna desmente categoricamente qualquer demissão do Secretário de Estado da Administração Interna”.

A RTP dizia ainda que podiam avançar mais demissões no Ministério da Administração Interna esta quarta-feira.

Esta notícia chega depois de, na noite de terça-feira, o Presidente da República ter deixado claro que está em falta um pedido de desculpas dos responsáveis políticos às famílias das vítimas dos incêndios e que é preciso “retirar todas, mas todas as consequências” destas tragédias (os incêndios deste fim de semana e os incêndios de Pedrógão Grande) , sendo que se exige “uma resposta rápida e convincente” e um “novo ciclo”, que poderá ter novas pessoas.

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Um discurso brutal. O que disse Marcelo nas entrelinhas

“O certo é que a fragilidade existiu e existe e atinge os poderes públicos. E exige uma resposta rápida e convincente. Abrir um novo ciclo obrigará o Governo a ponderar o quê, quem, como e quando melhor serve esse ciclo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, num discurso duro, com vários recados ao primeiro-ministro António Costa que se tem negado a demitir a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.

Também esta terça-feira Assunção Cristas anunciou que o CDS-PP vai avançar com uma moção de censura ao Governo por ter falhado em “cumprir a função mais básica do Estado: proteger as pessoas”. A moção será discutida e votada na próxima terça-feira e o PSD já disse que votará a favor. Já o PCP deu a entender que votará contra. O CDS-PP será recebido esta quarta-feira, às 20h00, pelo chefe de Estado, no Palácio de Belém, em Lisboa. Também o PCP será recebido às 21h00.

CDS entrega quinta-feira moção de censura ao Governo. PSD votará a favor

Jorge Gomes já tinha sido o protagonista do Governo na tragédia de Pedrógão Grande e, na noite deste domingo, o seu discurso por ocasião dos fogos na região Centro e no Norte do País recebeu inúmeras críticas, à semelhança, aliás, do que aconteceu com a ministra Constança Urbano de Sousa e o primeiro-ministro.

O secretário de Estado disse que tinham de ser as pessoas a defender-se: “Têm de ser as próprias comunidades a ser proativas e não ficarmos todos à espera que apareçam os nossos bombeiros e aviões para nos resolver os problemas. Temos de nos autoproteger, isso é fundamental”.

“Não podemos ficar todos à espera que apareçam os nossos bombeiros e aviões para nos resolver o problema”

Esta quarta-feira o Governo será certamente confrontado na Assembleia da República com o tema da vaga de incêndios deste fim de semana, que provocou pelo menos 41 mortos, durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro.

O PSD escolheu como tema “o falhanço do Estado”, o PCP a “prevenção e resposta aos problemas dos fogos florestais”, além de questões económicas e sociais, e o PEV “questões relacionadas com o drama dos fogos florestais”.

Jorge Gomes, o empresário que conheceu Costa quando estava no Governo Civil de Bragança

Jorge Gomes, 65 anos, candidatou-se por duas vezes à Câmara de Bragança, em 2001 e em 2009, tendo obtido, das duas vezes, um resultado sem expressão contra Jorge Nunes, do PSD.

Entre 2005 e 2011 foi Governador Civil de Bragança e foi aí que conheceu António Costa, quando o PS estava no Governo e o primeiro-ministro de agora era o ministro da Administração Interna de então. Jorge Gomes foi ainda presidente da Federação Distrital de Bragança do PS entre 2011 e 2014 e chegou a ser membro da Comissão Política nacional dos socialistas. Em 2015 foi o escolhido por António Costa para assumir a secretaria de Estado da Administração Interna.

Até à política, a sua carreira tinha passado pelo mundo empresarial, sobretudo ligado à informática, mas a sua dinâmica na liderança de associações empresariais dava-lhe dimensão.

Quem é Jorge Gomes, o rosto das piores notícias?