Os motores rotativos, também conhecidos como Wankel, por terem sido concebidos pelo engenheiro alemão Felix Wankel, em 1929, sempre apaixonaram os amantes da mecânica e muitos fabricantes de automóveis. Não porque conhecessem Felix, mas porque admiravam o potencial da sua invenção, especialmente porque o motor rotativo, com o seu rotor triangular, consegue realizar três explosões por cada rotação do veio, enquanto um motor a quatro tempos convencional se fica por apenas uma explosão para cada duas rotações (da cambota). Como se isto não bastasse, consegue girar mais depressa e gera muito menos vibrações, especialmente quando comparado com o movimento alternado dos pistões nas unidades a quatro tempos.

Mas nem tudo foram rosas para os motores rotativos, tendo sido este o motivo pelo qual foram abandonados por todos os fabricantes de automóveis que o consideraram como hipótese. Da Rolls-Royce à Porsche, passando pela Mercedes, Alfa Romeo, Citroën, Ford, Nissan, GM, Toyota e Suzuki, muitos foram os que testaram o Wankel sem nunca o chegar a produzir, por acharem que as vantagens não compensavam.

Os construtores que avançaram com o motor rotativo foram a NSU, em 1964, e a Mazda, em 1967, com a marca alemã (entretanto adquirida pela Audi) a desistir primeiro, e a Mazda a mantê-lo ao conseguir resolver os complexos desafios tecnológicos que a invenção de Felix Wankel levantava. A Mazda produziu o desportivo RX-8 até 2012 no Japão (e 2010 na Europa), com os seus 1,3 litros e 231 cv, já depois de vencer as 24 Horas de Le Mans em 1991, conseguindo ser não só a única marca japonesa a ganhar a mítica competição, como a única a fazê-lo com um motor rotativo.

O que verdadeiramente vitimou os motores tipo Wankel foram as crescentes restrições anti-poluição, uma vez que o motor rotativo, devido à sua concepção, tinha tendência para eliminar pelo escape gasolina ainda por queimar (devido à longa câmara de combustão), além de queimar óleo proveniente da lubrificação e de ter problemas com a resistência dos segmentos. Em resumo, foram as emissões que mataram o motor rotativo.

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Por que retoma a Mazda algo que já abandonou?

Bem, para começar, porque a evolução tecnológica não pára e o que ontem era impossível de atingir, amanhã pode ser fácil, graças a novos materiais ou novas soluções. Talvez seja com isto que a Mazda está a contar quando anuncia, através de um dos seus vice-presidentes, Martijn ten Brink, que o motor Wankel estará de regresso em 2019, como extensor de autonomia para veículos eléctricos.

Já é conhecido que a marca japonesa continua a desenvolver os actuais motores a gasolina e a gasóleo, além de conceber novos motores térmicos a gasolina, que funcionam com as vantagens dos diesel (como é o caso do Skyactiv-X), tal como se sabe que o construtor anuncia igualmente para breve os primeiros veículos híbridos e 100% eléctricos. Contudo, desconhecia-se que os técnicos japoneses continuavam a trabalhar na solução eléctrica com extensor de autonomia – solução popular nos EUA, mas não na Europa.

As vantagens deste sistema são várias, a começar por poder circular em regime 100% eléctrico nas zonas urbanas, como qualquer modelo eléctrico, para depois recorrer ao motor a gasolina como gerador de energia, quando a bateria acaba e não há postos de carga nas proximidades.

É precisamente aqui que entra o motor rotativo, já não a funcionar com rotores duplos, alimentados por turbocompressores, como acontecia no RX-8, mas sim com unidades simples e atmosféricas, funcionando exclusivamente a um regime fixo, para accionar o gerador de energia. Nesta condições, sem variação de regime e sem tanta necessidade de potência, acredita a Mazda que é possível ultrapassar os problemas de outrora, mantendo contudo as vantagens de sempre, no capítulo das reduzidas dimensões e vibrações.