O relatório de análise aos incêndios de outubro de 2017, produzido pela comissão técnica independente, que integra 12 peritos e que é liderada pelo professor universitário João Guerreiro, vai ser entregue esta terça-feira ao parlamento. A data de entrega do relatório foi comunicada pelo presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, a 2 de fevereiro, na conferência de líderes parlamentares, em Lisboa.

As centenas de fogos que deflagraram no dia 15 de outubro, o pior dia de fogos de 2017 segundo as autoridades, e que atingiram 27 concelhos da região Centro, provocaram 46 mortos e cerca de 70 feridos. Estes incêndios destruíram total ou parcialmente cerca de 800 habitações permanentes, quase 500 empresas e extensas áreas de floresta nos distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu. Esta foi a segunda situação mais grave de incêndios com mortos em Portugal, depois de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria.

A comissão técnica independente já tinha apresentado um relatório quanto aos incêndios rurais de junho de 2017 na região Centro, em particular o fogo que deflagrou no dia 17 em Pedrógão Grande e que se propagou depois a vários concelhos limítrofes. O relatório final dos fogos de junho, que analisa incêndios em 11 concelhos dos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco ocorridos entre 17 e 24 de junho, refere que, apesar de o fogo de Pedrógão ter tido origem em descargas elétricas na rede de distribuição, um alerta precoce poderia ter evitado a maioria das 64 mortes registadas.

Apesar de a contabilização oficial indicar 64 vítimas mortais nos incêndios de junho, há registo de um total de 66 mortos, já que houve ainda registo de uma mulher que morreu atropelada ao fugir das chamas e uma outra que estava internada desde então, em Coimbra, e acabou também por morrer. Deste fogo resultaram ainda mais de 250 feridos. O relatório dos incêndios de junho refere também que “não foram mobilizados totalmente os meios disponíveis” no combate inicial e houve falhas no comando dos bombeiros. A GNR fica, por outro lado, ilibada de direcionar carros para a Estrada Nacional 236, onde morreram cerca de metade das vítimas.

O documento aponta falta de conhecimento técnico no sistema de defesa florestal e falta de preparação dos atuais sistemas de combate às chamas para as alterações climáticas, confirmando, por outro lado, falhas de comunicação do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP). Na sequência da divulgação do relatório, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou que o Governo assumiria todas as responsabilidades políticas, se fosse caso disso.

Além das 112 mortes registadas nos incêndios de junho e de outubro, há registo de, pelo menos, mais cinco vítimas mortais nas regiões Norte e Centro nos fogos rurais ocorridos no último ano. Os incêndios florestais de 2017 consumiram cerca de 500 mil hectares de floresta e destruíram mais de duas mil casas, empresas e explorações agrícolas.

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