Ninguém se entende com os números, mas há uma conclusão comum: a GNR conta este verão com menos efetivos no terreno. Para o Ministério da Administração Interna (MAI) são menos 201 militares que no ano de 2017, um número reforçado pela entrada de 900 novos militares, 350 dos quais já em estágio. Mas, para a Associação de Profissionais da Guarda (APG), as contas são outras: este ano há menos 620 militares no terreno, o número correspondente aos guardas que entraram na reserva no ano passado, uma vez que estes novos militares só estarão disponíveis a partir de setembro. Logo, não se pode contar já com eles.

Em resposta oficial ao Diário de Notícias desta sexta-feira, o MAI refere que sem contar com os militares do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) e do SEPNA — que têm funções específicas no verão — em 2017 existiam 21.458 guardas, enquanto este ano de 2018 são 21.257, o que se traduz em 201 militares a menos. Recorde-se que, em casos de incêndio, são os militares dos postos territoriais os primeiros a intervir. E que os relatórios dos incêndios de Pedrógão, por exemplo, dão conta de que no fatídico dia 17 de junho de 2017, em que 47 pessoas perderam a vida por causa do fogo, estavam nos postos da GNR locais um militar, e dois na patrulha.

O MAI espera ainda que este número de efetivos seja reforçado pelos 900 militares que entraram na Guarda, 350 dos quais já estão em estágio. Os restantes só terminam o curso no final de 2018, seguindo depois para o estágio. “Não podemos esquecer que estes estagiários só terminam o estágio em setembro e que, até, lá não podem fazer todo o trabalho operacional”, lembrou, no entanto, ao Observador o presidente da APG, César Nogueira. Não podem passar uma multa ou, sequer regular o trânsito. O responsável explica que, pela primeira vez, estes estágios são de seis e não de três meses. “Precisamente para reforçarem os postos da GNR de onde saíram militares não só para a reserva, mas também 600 para o GIPS”, recorda.

“Pelas nossas contas, nós temos menos 620 militares que passaram à situação de reserva, todos os outros que entraram são estagiários e não vão resolver nada no terreno”, diz César Nogueira ao Observador.

Recorde-se que, tal como anunciou o ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita, ainda este mês o GIPS será reforçado com 600 militares que estão agora a ser formados, saídos dos vários postos da GNR, num cenário que já motivou uma pergunta do Partido os Verde ao MAI — mas que ainda não obteve resposta. Entre as questões solicitadas, os deputados Heloísa Apolónia e José Luís Ferreira perguntam ao ministro se tem consciência da situação de alguns postos do interior do País, onde já faltam militares.

Também os números dos militares que saíram das messes da GNR para se juntarem ao serviço operacional são diferentes. O MAI diz que são 190 os guardas que vieram reforçar o trabalho no terreno, mas César Nogueira diz que são menos de metade, contando os 74. “E mesmo esses foram para os postos e não tinham a bagagem necessária para o terreno, porque passaram toda a vida na messe e precisavam de uma reciclagem que ainda não foi feita”, assegura.

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