Para António Costa, Portugal devia ter estado “mais alerta a tempo e horas” para evitar a tragédia dos incêndios em Pedrógão Grande, que causou 66 mortes, mais de 200 feridos e mais de 500 casas destruídas. “É preciso que o país se habitue a não aguardar pelas tragédias para dar importância àquilo que é efetivamente estrutural”, afirmou Costa. O que é “estrutural”, disse, é “a necessidade de revitalizar o interior e a necessidade de fazermos a reforma da floresta”.

Ao mesmo tempo que vamos fazendo esse trabalho de longo prazo, não podemos deixar de dar resposta no imediato àqueles que carecem dela. Preparámo-nos para o que aí vem para evitar tragédias como as do ano passado. Hoje estamos mais bem preparados, com mais equipamento, mais recursos. Mas obviamente há esses dois problemas de fundo que subsistem.”

O líder do Governo falava aos jornalistas à saída da missa celebrada este domingo na Igreja de Pedrógão Grande, a propósito da data que este domingo se assinala, de um ano passado sobre o incêndio do município. Costa disse que, desde esse dia, “foi feito um esforço de limpeza” da floresta “como não era feito há muitos anos” e garantiu que a legislação de 2006 ainda é suficiente, “havia era um incumprimento generalizado”. No entanto, “num ano não é possível limpar o que durante décadas se foi acumulando”, acrescentou.

“Logo no início da legislatura arrancámos com a unidade de missão de valorização do interior. Mas esses dois temas”, a valorização do interior e a reforma da floresta, “só ganharam visibilidade com esta tragédia”, lamentou o primeiro-ministro. Em relação às responsabilidades do Estado na tragédia, Costa afirmou que o melhor é “aguardar serenamente que o Ministério Público conclua as investigações, que a justiça cumpra os seus tempos.”

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Temos um território muito extenso e um interior muito abandonado e estamos a sofrer consequências deste processo de alterações climáticas que está a criar situações de maior risco do que no passado”, defendeu.

O primeiro-ministro não foi convidado para a homenagem aos mortos e feridos, organizada pela Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande. Ao contrário do Presidente da República, que foi convidado. Costa desvalorizou: “Não vale a pena alimentar a especulação. Temos tido uma relação muito boa com a associação de vítimas e nestes momentos de dor e sofrimentos devemos respeitar a vontade e a forma como cada um quer viver os seus momentos de dor. É o respeito que devo a todas as famílias e àqueles que perderam os seus entes queridos.”

“Hoje estamos aqui. E daqui a um ano? E depois?”, pergunta Marcelo, um ano depois de Pedrógão

Este domingo, é um dia para recordar a memória das vítimas, sublinhou o primeiro-ministro: “É um dia de nos curvarmos pela memória daqueles que faleceram, relembrar a dor daqueles que ficaram, daqueles que perderam os seus familiares, dos que ficaram gravemente feridos e que permanecem com traumas.”

Costa destacou ainda “a força extraordinária que toda esta população tem demonstrado na reconstrução deste território”. Das primeiras habitações destruídas, “só três [pessoas] não tiveram vontade de as reconstruir” e também a a “generalidade” das empresas quis reerguer-se. “Estão aqui prontos para a luta, para reconstruir este território e a sua vida. É nesse grande esforço que temos de nos concentrar.”