O locutor de rádio, Rui Maria Pêgo, viu o artigo de opinião que publicou esta terça-feira, no Observador, ser banido da rede social Instagram. O autor do texto escreve sobre homofobia e, em concreto, sobre um caso de agressões contra um casal gay, registado este fim de semana em Coimbra.

Em “Medo de Semáforos“, um texto escrito para a Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, numa parceria com o Observador, Rui Maria Pêgo, que recusa “pactuar com o silêncio”, lembra como a homossexualidade foi apenas descriminalizada em 1982 e como muitos continuam a olhar para a questão da orientação sexual com preconceito e, por vezes, com violência. E lembra um caso ocorrido este fim de semana em Coimbra, em que um casal gay foi agredido.

A certa altura o autor refere, até, que antecipa “o ódio nos comentários” que vai receber ao artigo. O que Rui Maria Pêgo não antecipou foi que os comentadores fossem denunciar “por discurso de ódio” o artigo ao ponto de ele ser banido da rede social Instagram.

Medo de Semáforos

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Numa publicação na rede social Instagram, Rui Maria Pêgo denunciou pelas 15h00 que a publicação com o texto que tinha escrito tinha sido apagada pelo Instagram. “Não sei quem denunciou o post como discurso de ódio quando este já constituía uma denúncia de… Discurso de ódio!”, escreveu. “Não consigo deixar de achar graça, sabem? Ao hacker, comentador online ou beata com um bom plano de dados: não fique incomodado/a com as dezenas de comentários de apoio digital. Não vem aí o apocalipse gay!”, prossegue.

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O @instagram acabou de apagar o meu último post sobre o texto que escrevi para o @observadorontime dentro da parceria com os @globalshaperscommunity . Não sei quem denunciou o post como discurso de ódio quando este já constituía uma denúncia de…Discurso de ódio! Comprova-se, parece-me, a pertinência do texto. Não consigo deixar de achar graça, sabem? Ao hacker, comentador online ou beata com um bom plano de dados: não fique incomodado/a com as dezenas de comentários de apoio digital. Não vem aí o apocalipse gay! A água que lhe sai da torneira não vai fazê-lo ouvir @arianagrande… Nem se tornará o lip synch O desporto nacional. Com pena minha, confesso! Fica aqui um beijinho e uma promessa: não vamos a lado nenhum, baby. O link continua na bio e os comentários difamatórios nas stories. Lutar por uma voz não é só necessário. É fundamental. ???

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O caso foi imediatamente comentado por Nuno Markl. “É por isso que tendo a odiar a humanidade — por me parecer, quase todos os dias, que a internet está carregada de ignorantes”, começou por dizer. Depois acabou por fazer ele próprio uma publicação sobre o tema. “O Instagram, seja com bots ou com gente, legitimou injustiça e homofobia em estado puro. E isso é uma vergonha”, conclui.

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Tive a sorte de conhecer a Internet em 95, quando ela deu os seus primeiros passos em Portugal. Era um mundo simples, cru, mas livre, fascinante e invulgarmente saudável. Não havia muito ódio. Celebrava-se e criava-se a amizade, em fóruns e em plataformas como o Telnet (Portugal Virtual, lembram-se?), o IRC, etc. Depois toda a gente foi dando isto como adquirido. Toda a gente se acomodou, ganhou confiança, e por cada avanço na sofisticação do “ciberespaço”, vários passos eram dados para trás. As redes sociais, com a sua promoção do “gostar” e a sua bastardização reles da outrora respeitável palavra “amigo”, tornaram-se pasto para manadas de odiadores ruminarem o seu ódio impunemente e, aqui e ali, conseguirem sentir que são a norma. Por exemplo, quando conseguiram esta tarde que o post que o @ruimariapego fez no Instagram sobre a crónica que escreveu para o @observadorontime, uma urgente denúncia do discurso de ódio… acabasse censurado. Só há uma coisa que me irrita mais do que a vitória de vilões: é a vitória de vilões activamente apoiada por instituições que se dizem modernas e plurais. O Instagram, seja com bots ou com gente, legitimou injustiça e homofobia em estado puro. E isso é uma vergonha.

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O Observador tentou, sem sucesso, contactar com Rui Maria Pêgo.