Foram anunciados esta quinta-feira os seis romances finalistas deste ano do Man Booker Prize, um dos prémios literários mais prestigiados a nível mundial, que distingue anualmente as melhores novas obras em língua inglesa. Dos seis romances finalistas à categoria ficção, quatro foram escritos por mulheres e dois foram escritos por norte-americanos. Recorde-se que até 2014, o prémio Man Booker, que começou a ser atribuído em 1969 com o nome Booker-McConnell Prize, incluía apenas autores oriundos da República da Irlanda, do Zimbabué e dos países da Commonwealth. Desde esse ano, passou a premiar livros de autores de todas as nacionalidades, desde que sejam publicados no Reino Unido e em língua inglesa. Nos últimos dois anos, os vencedores foram O Vendido e Lincoln no Bardo, de dois escritores norte-americanos: respetivamente Paul Beatty e George Saunders.

Everything Under, romance de estreia da escritora britânica Daisy Johnson, de 27 anos, é um dos grandes destaques da lista de seis finalistas, por ter tornado a sua autora na mais jovem finalista de sempre do prémio. Na crítica ao livro, o jornal The Guardian chamou-lhe “um fascinante romance de estreia”. Já a escritora e integrante do júri (presidido este ano por Kwame Anthony Appiah) Val McDermid descreveu-o como “uma variação moderna do ‘Rei Édipo’ de Sophocles”, na qual “o mundo natural é evocado com uma sensibilidade sinistra”.

Também The Long Take merece nota de destaque. Escrito pelo escocês Robert Robinson, de 63 anos, trata-se de um romance que mistura prosa, verso e fotografias, narrando, segundo resume o The New York Times, vivências de um veterano da Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos, em plena era de ouro de Hollywood. É um romance que “desafia géneros” literários e que “oferece uma voz e uma forma literária únicas”, apontou esta manhã Jacqueline Rose, escritora e integrante do júri, na conferência de imprensa de revelação dos finalistas, que decorreu em Londres.

Os seis romances finalistas do prémio Man Booker de este ano (Jack Taylor/Getty Images)

Milkman, romance experimental sobre uma jovem rapariga irlandesa escrito pela também irlandesa Anna Burns, de 56 anos, uma “história sobre a inação e as suas enormes consequências”, é outro dos finalistas, assim como Washington Black, obra da escritora canadiana de 40 anos, Esi Edugyan, que narra a aproximação improvável de um escravo ao irmão do seu dono, depois de os dois fugirem de uma plantação de cultivo em Barbados. Esi Edugyan já tinha sido finalista deste prémio em 2011, com o livro Half Blood Blues. O vencedor, nesse ano, foi The Sense of an Eding, de Julian Barnes.

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A norte-americana Rachel Kushner, possivelmente a autora mais conhecida dos seis escritores finalistas da edição de este ano do prémio Man Booker (já foi, por exemplo, finalista por duas vezes do prémio literário norte-americano National Book Award), também entrou na “shortlist” com o romance The Mars Room, simultaneamente satírico e realista, passado numa prisão para mulheres na Califórnia. O romancista e professor universitário do estado do Illinois, Richard Power, de 61 anos, foi o outro escritor norte-americano a tornar-se finalista do Man Booker este ano, pelo livro épico-ecológico, crítico da destruição das florestas naturais, The Overstory.

O júri do primeiro, da esquerda para a direita: Jacqueline Rose, Kwame Anthony Appiah (o presidente), Val McDermid, Leo Robson e Leanne Shapton (Jack Taylor/Getty Images)

Com valor monetário de 56 mil euros, o Man Booker Prize é um dos prémios literários mais reputados do mundo, tendo um grande impacto. Segundo a estação alemã Deutsche Welle, o vencedor do ano passado, George Saunders, viu as vendas do seu livro distinguido com o Man Booker subirem mais de 1.000%, na semana seguinte ao anúncio da vitória.

Entre os livros da “longlist”, isto é, a primeira seleção do júri, que não entraram no lote de finalistas estão Warlight, do escritor canadiano nascido no Sri Lanka, Michael Ondaatje, Normal People, de Sally Rooney e Sabrina, o primeiro romance gráfico para o Man Booker Prize, da autoria de Nick Drnaso.

Pela primeira vez, um romance gráfico é candidato ao Man Booker Prize

O vencedor da edição de este ano do prémio será anunciado dia 16 de outubro. Kame Appiah, presidente do júri, revelou-se confiante quanto à probabilidade de vitória de uma obra relevante: “Todos os finalistas são verdadeiros milagres de invenção estilística. Em todos eles, a linguagem ocupa o palco principal. E ainda assim, nos restantes aspetos que os definem, são fantasticamente diferentes, explorando um conjunto de assuntos que variam também no espaço e no tempo”, afirmou Appiah, durante a conferência de imprensa.