O dinheiro público desperdiçado na América Latina e Caribe seria suficiente para erradicar a pobreza extrema na região. Segundo os dados divulgados pelo Banco Ibero-americano de Desenvolvimento (BID), são desperdiçados anualmente 220 mil milhões de dólares (cerca de 170 mil milhões de euros), o que equivale a 4,4% do PIB regional.

Esta quantia, se bem invertido, seria o suficiente para acabar com a pobreza extrema na região”, garante Alejandro Izquierdo, economista chefe do BID, citado pelo El País.

Segundo o BID, existem três fontes principais de ineficiência que se manifestam, em maior ou menor escala, em todos os países desta região. Entre estas figuram as compras públicas, que apresentam problemas nas propostas, na seleção de projetos de investimento adequados e de corrupção. Alcançar a eficiência neste parâmetro poderia significar uma poupança equivalente a 1,5% do PIB.

Também as transferências do Estado para os cidadãos são uma das fontes de ineficiência, sendo comum que os recetores do dinheiro do Estado nem sempre sejam os que mais necessitam, fomentando a desigualdade social. Neste fator, poupança poderia ir até 1,7% do PIB.

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Os salários públicos são igualmente um problema. De acordo com o BID, estes gastos correspondem a 29% do orçamento de Estado, mais do que os 24% que a OCDE recomenda.

O BID alerta que os gastos públicos mal geridos têm consequências pesadas para o futuro das populações. E conclui: em tempos de restrições orçamentais é essencial fazer mais com menos.

No entanto, o BID nota que, na América Latina, a tendência dos últimos anos tem sido aumentar as despesas públicas, algo que considera ser uma política “errada”. Os gastos correntes aumentam nos anos economicamente bons e os cortes no investimento público, feitos nos anos maus para equilibrar as contas, são imediatamente absorvidos pelas despesas públicas, explica a instituição. Como consequência, esta “política de corte nos gastos que foca somente o investimento público” prejudica o crescimento económico ao privar sistematicamente o investimento privado, “principal motor do crescimento”, do capital público que necessita.

Isto implica uma decisão consciente de priorizar os gastos correntes em detrimento dos investimentos na construção do futuro. Em poucas palavras, o presente em detrimento do futuro”, conclui o BID.

Para inverter a situação, o BID recomenda o investimento nas infraestruturas, que tem vindo a ser sistematicamente reduzido desde os anos oitenta, perda que ascende aos 10%. Este é, segundo os autores do relatório, o tipo de gasto que fomenta a economia. “É o tipo de gasto que dinamiza o crescimento, porque contempla o investimento privado. Sem prestar um bom serviço público de transportes e portos, o setor privado não participa da mesma forma”, considera Izquierdo. Outro investimento sugerido é a educação.

Os latino-americanos podiam ter acesso a mais e melhores serviços de educação, saúde, segurança e infraestruturas. Isto significa reduzir a criminalidade, obter melhores resultados PISA [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes], aumentar a esperança média de vida e proporcionar mais infraestruturas”, concluiu o presidente do BID, Luis Alberto Moreno.