Oitenta anos depois da publicação em Itália do Manifesto da Raça, que lançou as bases para a lei racial que proibiu os judeus de terem cidadania italiana e de ocuparem cargos públicos, a presidente da câmara de Roma decidiu que vão ser mudados os nomes das ruas e praças da capital italiana que eram dedicados a figuras que assinaram o documento de 1938.

Virginia Raggi, que foi eleita em junho de 2016 pelo eurocético Movimento Cinco Estrelas, anunciou esta sexta-feira, num discurso perante habitantes do bairro Trionfale, que a rua com o nome do zoólogo Edoardo Zavattari e o largo dedicado ao psiquiatra Arturo Donaggio, dois dos subscritores do manifesto, seriam renomeados. Os habitantes terão uma palavra a dizer, podendo votar numa das dez opções já propostas pelo comité de toponímia da cidade de Roma.

Segundo a imprensa italiana, Virginia Raggi pediu aos habitantes de Roma que participem no processo, para que “os cidadãos possam saber quem eram as pessoas cujos nomes tinham sido dados a estas ruas”, e apelou a que sejam escolhidos nomes de “cientistas que tiveram a coragem de se opor” àquelas ideias.

O Manifesto da Raça foi publicado em julho de 1938 e assinado por 42 cientistas próximos do regime ditatorial fascista de Benito Mussolini. O documento foi o primeiro passo para a aprovação, no mesmo ano, das leis que proibiam os judeus de exercer cargos públicos em Itália e lhes retiravam a cidadania italiana.

Segundo o manifesto, os italianos eram descendentes da raça ariana, pelo que todas as outras raças (sobretudo os judeus) eram entendidas como inferiores. Aquele documento é entendido como uma das maiores evidências da influência do regime de Hitler sobre a Itália do tempo de Mussolini.

A autarca quer, também, aproveitar esta mudança nos nomes das ruas de Roma para colocar mais mulheres na toponímia local. “Esse é um elemento frequentemente esquecido”, disse Raggi, concluindo: “todos temos um lugar na História”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR