“Devo assegurar que não haverá instabilidade”, disse João Lourenço, o Presidente de Angola, em resposta a jornalistas portugueses quando questionado sobre os avisos deixados por Isabel dos Santos sobre os riscos de uma futura crise política em Angola. As declarações da filha de José Eduardo dos Santos, ex-presidente angolano, foram feitas depois de ser conhecida uma entrevista muito dura dada pelo sucessor ao semanário Expresso e depois de uma reação do pai em que este negou a acusação de que tinha deixado os cofres do país vazios.

Isabel dos Santos alerta para possível “crise política profunda em Angola”

Sobre os negócios de Isabel dos Santos, o Presidente angolano não quis acrescentar mais explicações aos jornalistas portugueses presentes para uma entrevista conjunta que decorreu no último dia da visita de Estado a Portugal. Poucos minutos depois de se ter iniciado esta entrevista, uma cidadã angolana interrompeu uma pergunta de um jornalista portuguesa sobre os eventos de maio de 1977 em Angola. João Lourenço foi confrontado com a morte do pai desta angolana durante os acontecimentos que marcaram uma conflito do MPLA e que terá levado à perseguição e tortura dos que criticavam o então Presidente, Agostinho Neto.

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João Lourenço não interrompeu a intervenção, mas disse que não havia tempo para a ouvir o poema que a cidadã se preparava para ler. O momento era para a conferência de imprensa, o resto dos assuntos poderiam ser tratados depois desse momento.

Angola. “Órfã do 27 de maio” quis ler um poema, mas João Lourenço não deixou

O Presidente angolano começa por dizer que as relações com Portugal são muito boas, mas “não são excelentes”. “O objetivo é chegarmos ao 10. É atingirmos a excelência nas nossas relações. Não se pode dizer que já sejam excelentes. São muito boas daí termos obrigação enquanto políticos de continuar a trabalhar no sentido de atingirmos a tal nota 10!”

Nas relações com Portugal, João Lourenço destaca o apoio no repatriamento de capitais para Luanda, apesar de Portugal não ser o maior esconderijo do dinheiro. “Essas fortunas estarão espalhadas pelo mundo fora, muito provavelmente em locais nunca antes imaginados. É nossa obrigação, com os meios que qualquer estado dispõe, e com os contactos que deve fazer com outros estados, tentar localizar essas fortunas”, disse.

Questionado sobre quando Angola terá condições para responder às necessidades alimentar da população, João Lourenço lembrou que tem cinco anos de mandato para o fazer e que tem o direito de se candidatar a um segundo mandato.

“O meu mandato é de cinco anos, portanto é minha obrigação lutar no sentido de conseguir, ou pelo menos aproximar-me, desta meta ainda no primeiro mandato, se for possível”, apontou. “Caso contrário, e uma vez que todos nós temos o direito de lutar por um segundo mandato, conseguir isso no segundo mandato [e último, se for o caso, por limitação da Constituição]”.

Houve ainda perguntas sobre a dívida às empresas portuguesas. “Não sou técnico, sou político”, disse o Presidente em relação à dívida às empresas portuguesas. “Uma coisa é declarar, ou é certificar.” A dívida que foi confirmada é de 200 milhões de euros, disse, acrescentando que Portugal concorda com a certificação feita.

João Lourenço convida Marcelo a visitar Angola em março

João Lourenço anunciou que convidou Marcelo Rebelo de Sousa a visitar Angola entre 6 e 8 de março do próximo ano. O presidente angolano, que já tinha referido que a visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola estava prevista para o início do próximo ano, divulgou estas datas no final de um almoço privado oferecido pelo Presidente português, no Palácio de Belém, em Lisboa.

“Aproveito esta ocasião para comunicar que convidei o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a visitar Angola no período de 6 a 8 de março do próximo ano, com chegada a Luanda no dia 5 do mesmo mês”, declarou João Lourenço, com o chefe de Estado português ao seu lado, ambos sem gravata.

Artigo atualizado com a data da visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola