“Desgraça”, “expulsem-no”, ouviu-se no parlamento britânico quando o deputado trabalhista Lloyd Russell-Moyle se dirigiu à Mesa e segurou o bastão cerimonial que ali repousa. Bastou este gesto para, por momentos, a Câmara dos Comuns ficar impedida de passar ou aprovar leis no meio de mais um aceso debate sobre o Brexit.

O bastão cerimonial representa a autoridade da rainha no parlamento britânico. Como explica o The Guardian, sem este objeto, não se podem aprovar ou sequer discutir leis. Exatamente por isso, Russell-Moyle segurou no bastão em protesto com o rumo do debate em que foi anunciado o adiamento da votação sobre o acordo do Brexit.

O presidente da Mesa rapidamente ordenou que o deputado largasse o bastão e este devolveu-o para que fosse reposto. “Pararam-me antes de sair do parlamento e não ia lutar com alguém com uma grande espada na cintura”, disse o representante.

Russell-Moyle tirou este símbolo de poder da câmara dos comuns porque, defende, “a vontade do parlamento em governar foi eliminada”. E continuou: “senti que o parlamento tinha abdicado do seu direito soberano para governar”. O representante foi suspenso da Câmara dos Comuns durante o resto do dia.

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Inicialmente o momento não foi transmitido no canal do parlamento da BBC. Mas, depois de o vídeo ter sido partilhado no Twitter por um jornalista do canal britânico, o momento tornou-se viral.

O bastão cerimonial é deixado no centro da mesa do parlamento todos os dias pelo sargento de armas que tem como função manter a ordem no parlamento em caso de desacatos. Este objeto está desde o século XVI no parlamento britânico e já foi segurado indevidamente noutras ocasiões, também em protesto.

No passado, outros deputados já seguraram este símbolo britânico de soberania, mas foram raras as ocasiões. A última vez foi em 2009, quando John McDonnell, também do partido trabalhista, segurou no bastão em protesto contra a expansão do aeroporto de Heathrow. Antes disso, em 1988, houve um incidente que danificou o bastão, quando outro deputado do partido trabalhista segurou no bastão e o atirou ao chão contra a introdução de um novo imposto.

Noutra ocasião, em 1976, um deputado do partido conservador levantou o bastão em protesto quando os representantes eleitos trabalhistas começaram a cantar o hino do partido num debate. E mais atrás, ainda, em 1930, outro representante dos trabalhistas segurou o bastão para protestar a suspensão de um colega da câmara.

O caso mais antigo registado com o bastão cerimonial, porém, remonta a 1653, quando Oliver Cromwell ordenou que este fosse retirado depois de o parlamento ter sido dissolvido mas continuado em funções.