Chérif Chekatt, o autor do atentado no mercado de Natal em Estrasburgo, foi esta quinta-feira morto pela polícia. O Ministro do interior francês Christophe Castaner confirmou a notícia com uma curta declaração:

Às 21h [20h em Portugal continental] uma equipa de uma brigada especial no terreno, composta por três funcionários da polícia nacional, viu um indivíduo que deambulava pela via pública. Foi interpelado, virou-se de frente para os funcionários da polícia e disparou. Os funcionários neutralizaram então o atacante. Estou orgulhoso”, afirmou.

O presidente da câmara municipal de Estrasburgo, Roland Ries, também já falou, aludindo à resposta da equipa policial aos disparos de Chérif Chekatt: “Gostava de congratular as forças policiais que tornaram possível este desfecho, que era necessário”.

Poucos minutos depois, o auto-proclamado Estado Islâmico reivindicou a autoria do ataque em Estrasburgo. O grupo terrorista descreveu Chérif Chekatt como “um soldado” seu, numa declaração citada pelo site de uma empresa especializada na monitorização de atividade jihadista e extremista, a SITE Intelligence Group.

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As forças de segurança terão abatido o suspeito no interior de um armazém no número 74 da rua Lazaret, no sul de Neudorf, em Estrasburgo, onde a polícia tinha feito uma primeira grande operação esta tarde. Uma das estratégias da polícia para encontrar o suspeito — como é habitual nestes casos — foi a divulgação do nome e características físicas de Chérif Chekatt. Segundo a Polícia Nacional Francesa, o atacante tinha 1,80 m, “pele morena”, “constituição física normal” e uma “marca na testa”. A polícia francesa alertou a população que se tratava de um “indivíduo perigoso” e pediu que as pessoas não interviessem diretamente, mas, ao mesmo tempo, apelou a que ligassem para um número criado para o efeito (197) caso tivessem informações sobre a localização do suspeito.

“O atirador virou-se e, de repente, estava de frente para ele”. Os testemunhos de quem esteve em Estrasburgo

Antes de ser abatido, o atacante estaria ferido na sequência da troca de tiros com militares que patrulhavam o mercado de Natal, no momento do ataque.

Natural de Koenigshoffen, pertencente ao distrito de Estrasburgo, Cherif Chekatt era bem conhecido da polícia, sobretudo por crimes comuns, nomeadamente assaltos a bancos. Mas estava também sinalizado pelas autoridades desde 2015 como “fiché S” (suspeito de radicalização terrorista).

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Um dia longo para a polícia

Esta quinta-feira, o procurador de Paris, Rémy Heitz, tinha confirmado a detenção de mais uma pessoa, a quinta desde terça-feira, no âmbito do atentado no mercado de Natal em Estrasburgo.

As autoridades francesas confirmaram também durante o dia que subiu para três o número de mortes na sequência do ataque terrorista de terça-feira no mercado de Natal em Estrasburgo. Há ainda uma vítima em morte cerebral e mais 12 feridos, quatro deles em estado grave e oito ligeiros. Mais de 720 polícias e outros membros de forças de segurança estiveram mobilizados na caça a Chérif Chekatt, entretanto abatido.

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As vítimas, que são 16 no total, têm entre 20 e 65 anos. Já se conhece a identidade de duas das três vítimas mortais e da pessoa que está em morte cerebral.

As operações não decorreram apenas em França, uma vez que as autoridades admitiam a possibilidade de Chérif Chekatt ter fugido para a Alemanha ou para a Suíça. O mercado de Natal de Estrasburgo esteve fechado esta quinta-feira e a cidade de Estrasburgo esteve cercada. Esta sexta-feira, o mercado irá reabrir.

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Mega-operação realizada em Neudorf

Na primeira mega-operação policial no bairro de Neudorf, em Estrasburgo, as autoridades entraram com armas automáticas nas casas da população, sendo que o trânsito naquela zona chegou a estar cortado durante cerca de uma hora. A polícia aconselhou a população local e os jornalistas a não se aproximarem do local.

“Trata-se de uma operação de busca semelhante às que ocorreram nas últimas 36 horas. Não anuncia nada, e deixemos que o inquérito prossiga”, declarou perante o Senado o ministro do Interior, Christophe Castaner, citado pela agência Lusa. “As buscas decorrem em diversos locais. De momento, ninguém pode dizer que a pessoa que procuramos se encontra em determinado local”, confirmou uma fonte policial. Um outro responsável policial precisou que esta operação foi desencadeada no âmbito do inquérito, mas não tem “por objetivo imediato” a detenção do suspeito.

O suspeito, contudo, acabou mesmo por ser encontrado e batido numa segunda mega-operação da polícia no sul de Neudorf, em Estrasburgo, durante esta quinta-feira.

[Veja no vídeo como a segurança foi reforçada em toda a França]

Informações divulgadas mais tarde dão conta de que o alegado terrorista  não integrava nenhuma rede terrorista e não teve ajudas, segundo as investigações. “Nada indica que estivesse integrado numa rede” terrorista, explicou o ministro do Interior francês, Christophe Castaner, sublinhando, numa entrevista à emissora Europe 1, que não há indícios de que tenha contado com “proteções particulares” durante a sua fuga.

Castaner insistiu que os três polícias, que enfrentaram a tiro Cherif Chekatt no bairro de Neudorf e o abateram, não o encontraram “por sorte” como alguns fizeram parecer, mas sim pelo “trabalho no terreno” que desde o primeiro minuto foi realizado.

“Desde o primeiro momento que a investigação se orientou para o seu bairro de origem”, disse o ministro, acrescentando que “tudo fazia pensar” que o suspeito não saiu dali após o ataque que cometeu no mercado de Natal, no centro de Estrasburgo, no Nordeste da França.

https://observador.pt/2018/12/14/suspeito-do-ataque-em-estrasburgo-nao-estava-integrado-em-rede-terrorista/

Três antigos companheiros de crime de Chekatt — suspeitos de estarem envolvidos num assalto que acabou num homicídio —  foram ouvidos esta quinta-feira de manhã por um juiz, mas segundo o Le Parisen não terão dado qualquer informação que permitisse chegar à localização do atacante. Aliás, para falarem sobre qualquer assunto sobre o atentado, estes homens têm de estar sob custódia dos serviços de investigação antiterrorista, o que não era o caso. Dois destes três cúmplices de Chekatt num crime anterior também estão referenciados como “ficha S” (sinalizados como suspeitos de terrorismo). A investigação ainda não chegou à conclusão se Chekatt fazia parte de uma célula terrorista local ou se agiu sozinho, a hipótese que a polícia considera neste momento mais provável.

Caça ao homem em França, Alemanha e Suíça

Num primeiro momento, os investigadores pensaram que o atacante se tinha refugiado em Kehl, a cidade alemã mais próxima de Estrasburgo, mas um raide das autoridades francesas e alemãs não confirmou as suspeitas. O presidente da região de Grand Est, Jean-Luc Marx disse, citado pelo Figaro, que as autoridades francesas continuavam “naturalmente articuladas com as autoridades alemãs”. As autoridades suíças, na fronteira que fica a 130 quilómetros de Estrasburgo, também reforçaram a segurança.

Outro dos atos da polícia foi a detenção de quatro familiares de Chériff Chekatt: o pai, a mãe e dois irmãos estão sob custódia da polícia desde quarta-feira. A quinta pessoa detida ao final da tarde desta quinta-feira era próxima do suspeito, mas não fazia parte da sua família. O suspeito nasceu em Estrasburgo e tinha um longo cadastro judicial, com 67 registos que resultaram em 27 condenações em França, Alemanha e Suíça. O jovem de 29 anos radicalizou-se na prisão e, por isso, estava sinalizado como “ficha S”.

Segundo o Le Parisien, que citou uma fonte próxima da investigação, durante uma das várias estadias na prisão, em 2008, Chériff Chekatt colocou um poster de Bin Laden na sua cela.

As operações policiais para capturar Chériff Chektt foram lideradas ao mais alto nível pelo ministro do Interior Christophe Castaner, que passou o nível de alerta terrorista para o máximo, o que aumentou os poderes policiais e reforçou a vigilância. Segundo o governante a segurança foi reforçada em todos os mercados de Natal.