Rui Bento está de saída da Uber. O português responsável pela entrada da tecnológica em Portugal, em 2014, estava desde setembro de 2018 à frente do negócio da Uber Eats no sul da Europa. Cinco meses depois de ter começado a liderar a entrega de comida ao domicílio em mercados como o português, o espanhol e o italiano, Rui Bento avança ao Observador que chegou a altura de “abraçar novos desafios e de resolver novos problemas”.

“Estou muito grato à Uber pela oportunidade que me deu de trabalhar com pessoas incríveis e de fazer parte desta mudança tão significativa na forma como as pessoas — e coisas — viajam nas cidades. Deixar a Uber foi uma decisão difícil, mas estou muito entusiasmado com os meus próximos passos“, afirmou ao Observador.

O português de 34 anos que lançou e expandiu o negócio da Uber e da Uber Eats em Portugal sai de um dos unicórnios (empresas avaliadas em mais de mil milhões de dólares) mais valiosos do mundo já com os TVDE (transportes de passageiros em veículos descaracterizados) regularizados em Portugal e com o negócio da Uber Eats em várias cidades.

Para trás, ficam as várias batalhas legais que travou desde que trocou o emprego que tinha na Apple, em Londres, pela abertura do mercado da Uber em Lisboa.

“Foi impressionante assistir à forma como viajar de Uber passou rapidamente de uma novidade a algo quotidiano — um sinal de que tínhamos passado a fazer parte das cidades portuguesas. Foi gratificante viajar com muitos motoristas que encontraram na Uber uma oportunidade económica importante, que fez a diferença para as suas famílias”, afirmou.

Depois das várias manifestações dos taxistas — que ficaram para a história pelo recorde de adesão que tiveram –, das notícias sobre a precariedade do trabalho de alguns motoristas e do veto de Marcelo Rebelo de Sousa à regulamentação que estava há mais de um ano parada no Parlamento, Rui Bento explica que sai da Uber com sensação de missão cumprida.

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Com o benefício da retrospeção, é fácil encontrar coisas que hoje faria de forma diferente. No entanto, acredito que tanto eu como a restante equipa da Uber Portugal trabalhámos sempre com toda a dedicação e com a convicção de que estávamos a fazer o melhor para os nossos utilizadores, parceiros, cidades e, em última análise, para a sustentabilidade da operação no nosso país”, explica.

Fonte oficial da Uber acrescenta: “O Rui foi fundamental no desenvolvimento e expansão da marca e operação da Uber em Portugal e na região do sul da Europa. Estamos-lhe muito gratos por tudo e desejamos-lhe as maiores felicidades para os seus próximos desafios”.

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No blogue post em que esta segunda-feira anuncia a saída, o engenheiro informático explica que “não fazia ideia no que se estava a meter” há 1.592 dias, quando decidiu aceitar a oferta que “lhe virou a vida de cabeça para baixo”. E que continua sem fazer ideia no que se está a meter agora. “A minha vontade de pegar num problema e fazer parte de uma solução que pode tornar o mundo num lugar um pouco melhor continua a mesma. Isto levou-me até à Uber há quatro anos e é essa vontade que me está a levar a seguir o meu próprio caminho agora. Até certo ponto, não sinto isto como uma mudança: sinto que é uma continuidade.”

Para trás, ficaram perto de cinco anos de “voltas e reviravoltas, dignas de uma produção de Hollywood”, conta, enumerando os ataques por parte das organizações de taxistas, os processos judiciais, o escrutínio público e o debate político em que esteve envolvido durante esse tempo. “Não havia dois dias iguais e rapidamente me habituei aos estúdios de televisão, aos corredores do Parlamento, e fiz a minha primeira visita a um tribunal. Foi assim que comecei a perceber que eram estes os subprodutos da inovação e da rutura”, escreve.

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“Resolver problemas era o que queria fazer quando me juntei à Uber e é o que quero continuar a fazer. Dar um passo em direção ao desconhecido parece-me a melhor forma de continuar a tentar resolver problemas. Por isso, agora, vou optar pela estrada menos percorrida, aquela que ainda não está pavimentada. Não faço ideia de até onde me levará, mas estou ansioso por descobrir”, escreve.

Desde que Rui Bento deixou a liderança dá área dos transportes na Península Ibérica para liderar o negócio da entrega de comida da Uber no sul da Europa que ainda não há um novo líder para a Uber Portugal. O processo de recrutamento continua a decorrer e iniciar-se-á um novo para a liderança da Uber Eats no sul da Europa.

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No mercado português, a app que liga utilizadores a motoristas da Uber concorre com a Taxify, Cabify e Kapten. O negócio de entrega de comida ao domicílio compete com a Glovo, noMENU e SendEAT.

Da providência cautelar dos taxistas à regulamentação para as TVDE

Pouco tempo depois de a app da Uber ter surgido no mercado português, a ANTRAL – Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros apresentou uma providência cautelar contra a empresa, por considerá-la um “sério risco para o público em geral”. O Tribunal da Comarca de Lisboa aceitou os argumentos dos taxistas, mas a Uber nunca deixou de funcionar nas cidades em que estava presente: a providência tinha como destinatário a sede da empresa nos EUA e a Uber Portugal respondia à filial na Holanda.

Em 2015, os taxistas alegavam que a app de transportes era “uma prática de concorrência ilegal, dificilmente controlável, fortemente prejudicadora deste setor e de difícil reparação”. Era só o início daquela que se tornaria o motivo de luta mais feroz do setor do táxi. Seguiram-se várias manifestações nas ruas de Lisboa e Porto, com números recordes de adesão, noitadas à porta do aeroporto, alguns episódios de violência e um último protesto, em setembro de 2018, que manteve vários táxis parados na Avenida da Liberdade, já com a regulamentação para os TVDE aprovada.

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Na última manifestação, o objetivo dos taxistas era suspender o diploma e levá-lo à consideração do Tribunal Constitucional, mas tal não chegou a acontecer. A 12 de julho de 2018, o Parlamento aprovou aquela que ficou a ser conhecida como “lei Uber” com os votos a favor do PS, do PSD e do PAN, e com os votos contra do BE, PCP e Verdes, sendo o CDS-PP a única bancada parlamentar a abster-se na votação. A 31 de julho, Marcelo Rebelo de Sousa promulgou o diploma, depois de a 29 de abril o ter vetado.

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Para conseguir o parecer favorável do Presidente da República, a legislação que recai sobre a Uber, Cabify, Taxify e Kapten teve de incluir duas novidades face à primeira versão: permite que as empresas que desenvolvam a atividade de transporte em táxi também possam prestar serviços para estas plataformas, desde que o façam com veículos não licenciados como táxis e cumprindo com a legislação em vigor para os TVDE; e inclui o pagamento de uma taxa de 5% ao Estado, que incide sobre as taxas de intermediação cobradas nos serviços prestados no mês anterior “ou, na sua falta, por cálculo da taxa a cobrar ao operador e notificação das guias de receita a partir de estimativa das taxas de intermediação cobradas”.

A lei passa a ser plenamente aplicável a partir de 1 de março e todos os motoristas que prestam serviços através destas plataformas têm de estar registados no Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT). Até 8 de fevereiro, dos mais de 6500 motoristas com que a Uber trabalha em Portugal, até ao final de janeiro apenas 349 estavam registados com o IMT, segundo avançou o Público. Mas fonte da Uber disse ao Observador que era “necessário avaliar a possibilidade de uma prorrogação” do prazo.

Quatro anos e meio depois de a Uber ter entrado em Portugal, a par com a Cabify, a discussão pública já está em torno de outra novidade da mobilidade partilhada, as trotinetes elétricas. A Uber é parceira e investidora da Lime, sendo que em alguns países já incorpora esta possibilidade na sua app e, para breve, espera-se a entrada das bicicletas Jump no mercado português, segundo avançou ao Observador Alexandre Droulers, responsável pelas novas mobilidades da empresa na Europa.

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