Foi tudo escolhido a dedo para que nada falhasse no lançamento do Movimento 5.7. O espaço à beira rio, em Belém, a música de fundo – “instrumental bossa-nova, foi o que nos pediram”, confirmou o DJ -, e a informalidade do encontro davam à cerimónia um tom de descontração pouco comum em ações políticas. Sem lugares sentados, à exceção de dois sofás, a sala foi sendo ocupada aos poucos. Primeiro por anónimos, depois por algumas figuras públicas. Políticos eram poucos, mas também os havia. Todos estavam vestidos a rigor para a ocasião – optando pelo estilo casual chic.

Miguel Morgado ia recebendo as pessoas com o à-vontade típico de um anfitrião que recebe uma festa em sua casa. Os empregados iam circulando discretamente entre os convidados com bandejas repletas de flutes de espumante e copos de vinho ou cerveja. Os convidados, num movimento automático, esticavam os braços para se servirem de bebida sem interromper as conversas. Quase nos esquecíamos de que se tratava do lançamento de uma plataforma política. Não fosse pelo pequeno palco e pelo painel de fundo com o logótipo do movimento e quase parecia um sunset para aproveitar o fim de semana com cheiro a verão.

Para sermos rigorosos, foi no primeiro sábado da primavera – uma coincidência que Miguel Morgado aproveitaria mais à frente para o seu discurso político -, que o movimento que pretende “federar as direitas” se reuniu pela primeira vez desde que nasceu. O objetivo era dar a conhecer esta plataforma, mas de um modo mais ligeiro que o tradicional. “Não vos queremos maçar muito”, explicou Miguel Morgado já no palco, ladeado por Cecília Meireles, vice-presidente do CDS, e Carlos Guimarães Pinto, presidente do Iniciativa Liberal. Numa intervenção com pouco mais de dez minutos e sem discurso escrito, o deputado do PSD assumiu que o movimento pretende reunir as várias direitas com uma cola fundamental: “Nós não somos socialistas“, disse.

“Temos de dizer que rejeitamos o socialismo estatista, o socialismo do centralismo, o socialismo da estagnação, o socialismo da corrupção e das clientelas. Temos de dizer que rejeitamos estes socialismos todos em bloco, sem qualquer compromisso“, afirmou, identificando o principal adversário deste movimento. Para isso, Miguel Morgado quer contar com a participação das diferentes direitas. “Queremos mesmo preservar a nossa heterogeneidade, ela é o nosso ponto de partida”.

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Apontando para Carlos Guimarães Pinto, explicou que a plataforma precisa do “espírito reformista e crítico dos liberais“, assim como, disse voltando o olhar para Cecília Meireles, precisa “dos conservadores, pela defesa que fazem das instituições, e dos democratas-cristãos, pelo seu entendimento moral da política”. Depois de uma pausa intencionalmente mais prolongada atirou a frase que mais galvanizou as cerca de 200 pessoas que enchiam o espaço Espelho d’Água, em Belém: “Mas precisamos também de sociais-democratas não socialistas“. A sala aplaudiu com entusiasmo, com gritos de apoio e gargalhadas. “Precisamos dos sociais-democratas que coloquem como prioridade da sua atuação os membros mais desfavorecidos da nossa sociedade”, completou.

A farpa a Rui Rio estava dada. Afinal, há mais cola além do não-socialismo a unir as pessoas do Movimento 5.7. O resto da intervenção de Miguel Morgado voltou a centrar-se no ataque aos socialistas, que culpa pela “estagnação económica do país“. “Este é primeiro fim de semana da primavera, um tempo de renovação e renascimento. É também o fim de semana que põe término a um longo inverno socialista”, concluiu.

Movimento 5.7. Como o CDS juntou a sua voz à voz deles

Antes, tinham discursado Cecília Meireles e Carlos Guimarães Pinto. A vice-presidente do CDS atacou “os polícias do pensamento”, “a agenda ideológica” que se pretende ensinar nas escolas em detrimento “do pensamento crítico” e defendeu a iniciativa privada, considerando que “deve estar no primeiro lugar das prioridades políticas“. A também deputada centrista sublinhou, ainda, a importância da criação deste “espaço aberto”, mas avisou que deve “ter tempo e profundidade” para ter sucesso. “Não é fácil e não é rápido, mas é isso que nos dá alegria para cá estarmos”, resumiu.

Já o líder do Iniciativa Liberal, fez uma dura crítica à direita tradicional. “Tenho algum pejo em dizer que sou de direita porque a direita em Portugal sempre foi socialista”, disse. “A direita entregou uma geração inteira ao Bloco de Esquerda. Não podemos voltar a cometer esse erro”. Mostrando-se confiante no sucesso desta plataforma, marcou o contra-ponto daquilo que tinha sido um discurso mais conservador da dirigente do CDS. Algo que, para Miguel Morgado, não é um problema. Antes pelo contrário: é parte “da riqueza” deste movimento.