“Obrigado, Itália”. Não foi numa sala convencional, como a sede do partido ou um hotel, que o líder do partido de extrema-direita eurocético Liga escolheu agradecer o primeiro lugar nestas eleições Europeias. Foi, sim, no sítio a partir do qual tem feito grande parte da política italiana dos últimos meses: no Twitter.

Foi a forma de alimentar o veículo através do qual Matteo Salvini tem comunicado com os eleitores. Seja em campanha eleitoral, seja já no governo — onde está como ministro do Interior, em coligação com o Movimento 5 Estrelas —, é nas redes sociais que Salvini explica o que pensa e o que sente. E a tática, parte de uma estratégia maior deste antigo partido separatista do norte de Itália tornado nacionalista, tem dado frutos.

Itália. No jogo do caos político, Matteo Salvini traz uma carta na manga

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A sondagem à boca das urnas da RAI 1 coloca o partido de Salvini em primeiro lugar nestas eleições Europeias, com 27% a 31% dos votos. É uma vitória clara, sem margem para dúvidas, que fará o partido passar de apenas cinco eurodeputados para uns prováveis 25. É que em 2014 a Liga — que à altura ainda se chamava Liga do Norte — não foi além dos 6% nas eleições Europeias. Agora, Matteo Salvini surge como rei e senhor da política italiana.

As projeções, no entanto, revelam uma surpresa: o regresso do Partido Democrático, ex-força política do centro-esquerda do antigo primeiro-ministro Matteo Renzi (agora liderado por Nicola Zingaretti). Em 2014, tinha sido o claro vencedor, elegendo 31 eurodeputados. Mas ninguém esperava que conseguisse o segundo lugar em 2019, com 21% a 25% dos votos. Basta recordar que, nas legislativas de 2018, o tradicional partido do centro-esquerda caiu para terceiro, sendo ultrapassado pela Liga e pelo 5 Estrelas.

O reverso da medalha dessa surpresa é a queda do 5 Estrelas, que deverá ficar em terceiro lugar (18,5%-22,5%). O partido de Luigi di Maio, que indicou o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, parece estar a desgastar-se com o exercício do poder — e com o combate contra o aliado governativo, a própria Liga.

As divisões entre Salvini e Di Maio têm marcado os últimos tempos, nomeadamente no tema preferido da Liga, a imigração. O ministro do Interior protagonizou recentemente um episódio inusitado, quando foi informado num programa televisivo em direto de que um navio com migrantes foi autorizado a entrar no porto de Lampedusa por um procurador siciliano, desafiando a ordem de “portos fechados” para navios com pessoas resgatadas no Mediterrâneo.

“Não mudei de ideias e o ministro sou eu”, declarou nessa entrevista. Os eleitores, aparentemente, concordam. Di Maio até pode ser vice-primeiro-ministro, mas, para os italianos, quem manda é Matteo Salvini.

Artigo atualizado para corrigir a referência ao primeiro-ministro italiano. É Giuseppe Conte e não Luigi di Maio.