Cerca de 15 horas depois de ter tido início, a cimeira extraordinária do Conselho Europeu que visa definir os altos cargos para a próxima legislatura foi suspensa. Embora haja um acordo à vista, o impasse mantém-se e Donald Tusk suspendeu os trabalhos e agendou nova reunião para terça-feira às 10h00 (hora de Lisboa).

A indefinição ainda se mantém mas parece mais perto de vir a ser desfeita. Segundo avança a agência Reuters, que cita dois diplomatas, os líderes dos 28 países europeus estão perto de fechar um acordo para a distribuição dos mais altos cargos europeus e de dar ao socialista Frans Timmermans a presidência da Comissão Europeia.

Tem sido uma ronda de negociações longa. Desde as 20h00 de domingo que os Chefes de Governo e Chefes de Estado dos vários Estados-membros se têm desdobrado e reuniões, sobretudo bilaterais, para conseguirem montar o complicado puzzle da distribuição de cargos. São fundamentalmente cinco os cargos que estão a ser negociados: além do Presidente da Comissão Europeia, discute-se a primeira vice-presidência da Comissão, a presidência do Conselho Europeu, a presidência do Parlamento Europeu e o cargo de alto representante da Política Externa da UE — uma espécie de Ministro dos Negócios Estrangeiros da União Europeia.

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A distribuição de lugares decorrente das eleições europeias tornou este xadrez político especialmente complicado. Não há maiorias e o tradicional binómio socialistas-conservadores não é suficiente para distribuir os principais cargos entre si. Juntaram-se os liberais que já têm peso suficiente para reclamar para bloquear as decisões e para chamar a si um dos cargos. Assim, a distribuição envolvia muita diplomacia e várias horas de negociações.

O acordo que teve o dedo de António Costa

O Observador sabe que o acordo que reunia mais consenso entre os líderes da União Europeia era o que colocava Frans Timmermans na Comissão Europeia, atribuía a presidência do Conselho Europeu aos liberais — provavelmente ao belga Charles Michel — e os restantes três ao Partido Popular Europeu. Segundo conta o Politico, este acordo terá tido o dedo de António Costa, que terá arquitetado a ideia com Martin Schulz, como conta o próprio.

Esta distribuição de lugares pareceu agradar a Angela Merkel, que via aqui a possibilidade de colocar Weber num dos outros lugares — impedindo que se falasse de uma derrota, mas também não era do desagrado de Emmanuel Macron e de Mark Rutte, que dialogaram em nome dos liberais, por ficarem com créditos para exigir a presidência do BCE. Pedro Sánchez, que representa os socialistas, era o mais satisfeito.

Estes quatro líderes têm sido os principais motores das conversações. Mas já se sabia que não seria fácil convencer os líderes conservadores do leste, que não gostam da escolha de Timmermans. Por dois motivos: o primeiro, que é incómodo para todo o PPE, é o facto de a Comissão Europeia poder ficar nas mãos dos socialistas, que não são a família europeia com maior representação; o segundo, e talvez o principal, é o facto de o holandês ser o rosto das sanções impostas a alguns países do leste, como a Hungria ou a Polónia.

Quando Donald Tusk deu início ao Conselho Europeu no domingo o relógio marcava as 20h00, um atraso de três horas em relação à hora prevista provocado pelas negociações que levariam os principais líderes europeus a fechar o acordo acima referido — que é já conhecido como “acordo de Osaka”. Pouco menos de duas horas depois, Tusk tomou uma decisão arriscada para evitar votações, que podiam terminar com um Conselho Europeu completamente partido, e suspendeu os trabalhos para dar início a conversações bilaterais com todos os líderes europeus presentes, que também iam reunindo entre si de forma paralela.

Esse processo, na verdade, ainda decorre mas parece já estar a surtir efeito: as informações que chegam de Bruxelas, onde decorrem as reuniões, dão a entender que o nome do socialista Timmermans para suceder a Jean-Claude Juncker parece estar a reunir cada vez mais consenso. Resta saber em troca de quê e quais os arranjos que terão de ser feitos à solução concebida por António Costa para que haja o consenso necessário para aprovar a distribuição dos altos cargos.

Cimeira europeia já recomeçou. Líderes europeus estão reunidos