A morte de um civil às mãos das milícias na quarta-feira deu origem a uma sucessão de confrontos entre estas e a população no bairro muçulmano PK5 em Bangui, capital da República Centro-Africana (RCA), que prosseguem ainda.

Desde quarta-feira à noite, o bairro PK5 é palco de disparos envolvendo grupos criminais”, disse esta quinta-feira à comunicação social o porta-voz da missão da ONU no país (Minusca), Vladimir Monteiro, citado pela agência France-Presse.

“Estes confrontos foram deflagrados por crimes crónicos cometidos pelos bandos criminosos contra os comerciantes do bairro”, acrescentou.

A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras contabilizou uma dezena de feridos nesta quinta-feira de manhã no bairro, que há várias semanas vivia em paz.

“Isto começou com um confronto entre um vendedor de combustível a um grupo de jovens armados”, disse à AFP Awad al Karim, imã da mesquita Ali Babolo, situada no PK5. De acordo com o imã, o vendedor de combustível recusou pagar uma taxa imposta pelas milícias de autodefesa do bairro.

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Em represália, dois jovens que se deslocaram num motociclo lançaram uma granada para junto de civis desarmados. Um homem de 40 anos foi morto, segundo Awad as Karim, e o seu corpo foi transportado para a mesquita.

Na sequência do incidente, a família do defunto procurou vingar-se com a ajuda de uma milícia rival do mesmo bairro, de acordo com vários testemunhos de fontes contactadas pela AFP.

Os confrontos prolongaram-se durante a madrugada desta quinta-feira e continuaram ao longo de toda a manhã, não obstante a Minusca ter deslocado efetivos militares para o bairro muçulmano.

O PK5 é palco de violências esporádicas desde 2014. Foi neste bairro que se refugiaram muitos muçulmanos de Bangui na sequência dos confrontos entre rebeldes agrupados na coligação Séléka e grupos anti-balaka, que devastaram a capital da RCA depois da queda do Presidente François Bozizé em 2013.

Desde então, o país de 4,5 milhões de habitantes, classificado como um dos mais pobres do mundo e onde os grupos armados se confrontam nas províncias pelo controlo dos recursos, nunca mais conseguiu estabilizar-se.

O Governo controla cerca de um quinto do território. O resto é dividido por mais de 15 milícias que procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.

Foi assinado um acordo de paz em Cartum, capital do Sudão, no início de fevereiro pelo Governo da RCA e por 14 grupos armados. Um mês mais tarde, as partes entenderam-se sobre um governo inclusivo, no âmbito do processo de paz.

Portugal está presente na RCA desde o início de 2017, no quadro da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana (MINUSCA), onde agora tem a 5.ª Força Nacional Destacada (FND) e está presente na Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana (EUMT-RCA).

A 5.ª FND, que tem a função de Força de Reação Rápida, integra 180 militares do Exército, na sua maioria elementos dos Comandos (22 oficiais, 44 sargentos e 114 praças, das quais nove são mulheres), e três da Força Aérea.