A pré-temporada no futebol, além de envolver sempre a preparação para a época que se avizinha, é também um momento para as entrevistas mais pessoais e descontraídas que perdem tempo e espaço com o acumular de jogos durante a semana. Rui Patrício, guarda-redes que terminou o ano com mais uma conquista pela Seleção, neste caso na Liga das Nações, não foi exceção e recuou no duas décadas para explicar como a passagem de Marrazes para Alcochete teve momentos complicados mas acabou por mudar a sua vida, ao mesmo tempo que estabeleceu a grande diferença em relação ao que acontece hoje com jovens de 11 ou 12 anos.

A história de Rui Patrício. Ser guarda-redes porque outro amuou

“Sempre fui responsável e nunca dei preocupações aos meus pais. Os meus pais nunca me pressionaram. Hoje existe cada vez mais pressão e é por isso que os miúdos, aos 18 anos, desistem do futebol”, destacou no programa Alta Definição da SIC. “A distância da minha família foi o mais difícil, tanto que chegava a pensar: ‘Será que vale a pena estar aqui?’ Agora, olhando para trás, é bom ver que, às vezes, temos mesmo de passar por momentos menos bons. Os meus pais fizeram um sacrifício grande que foi deixar um filho de 12 anos ir atrás do seu sonho. Era mais difícil para eles do que para mim e eles deixaram-me lutar. A vida na Academia, apesar de termos os nossos momentos a socializar, muda tudo. Vamos para a escola até às 17h, depois Academia, a seguir treino das 18h30 às 20h, e, por fim, jantar, ficar ali um bocadinho a conviver e cama. Todos os dias assim. Sabemos o esforço que é e é difícil, mas estamos atrás de um sonho. Tive momentos menos bons que tentei não passar aos meus pais, e houve um momento em que desabafei e chorei com a minha irmã”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Depois de ter brilhado ao longo de todos os escalões de formação, Rui Patrício estreou-se ainda júnior nos seniores do Sporting, defendendo mesmo uma grande penalidade no triunfo por 1-0 com o Marítimo, e acusou a pressão nos primeiros encontros como titular no conjunto principal. Apesar de alguns erros cometidos, Paulo Bento ganhou a aposta. E assim nasceu aquele que, depois de ter sido fundamental para um inédito sétimo lugar do Wolverhampton na Premier League, levantou a Liga das Nações no dia que o colocou como o guarda-redes mais internacional de sempre, à frente de Vítor Baía. Chave do sucesso? A resistência mental que foi ganhando nas partidas, que o colocaram por exemplo como 12.º melhor jogador do mundo em 2016. Este sábado, na final do Premier League Asia Trophy com o Manchester City, foi também isso que voltou a fazer a diferença.

Rui Patrício ultrapassa Vítor Baía e passa a ser o guarda-redes mais internacional de sempre por Portugal

Depois do 4-0 ao Newcastle com bis de Diogo Jota, o guarda-redes foi o representante da armada portuguesa comandada por Nuno Espírito Santo que mais se destacou frente ao campeão inglês, num encontro onde a equipa de Pep Guardiola (que lançou Bernardo Silva durante o encontro) teve muito mais posse, melhores oportunidades mas não conseguiu marcar ao longo de 90 minutos. Mérito de Patrício. E do seu espírito de sacrifício: depois de ter estado sete minutos a ser assistido no seguimento de um choque com Sterling ainda dentro do primeiro quarto de hora, e quando John Ruddy já aquecia para a entrar, o número 11 ficou em campo com uma visível marca perto do olho direito (e o inchaço foi aumentando com o passar do tempo) e ainda “atrapalhou” o avançado inglês numa grande penalidade pouco depois, que acabaria por sair por cima da trave.

De novo assistido ao intervalo, o internacional regressou ao encontro, cumpriu mesmo os 90 minutos, fez a melhor defesa da final a livre direto de David Silva bem puxado ao poste que manteve o nulo e acabou por decidir no desempate por grandes penalidades depois de já ter sido o melhor ao longo da partida (apesar de não ter havido distinção individual), defendendo três das cinco tentativas dos citizens (3-2). Diogo Jota, João Moutinho, Rúben Neves, Rúben Vinagre e Roderick Miranda foram os outros portugueses do Wolverhampton envolvidos no encontro deste sábado – com a curiosidade de Moutinho ter agarrado na taça para tirar uma imagem de “família” entre todos –, ao passo que Bernardo Silva foi lançado por Guardiola na segunda parte.