“O Titanic está a ser devolvido à natureza”. É desta forma que os cientistas e mergulhadores que visitaram e recolheram imagens do famoso navio pela primeira vez em quase 15 anos descrevem o que se está a passar. O Titanic está a deteriorar-se rapidamente e há importantes partes dos destroços que já desapareceram completamente.

O navio naufragou há 107 anos ao largo da costa do Canadá e está a enferrujar num “isolamento silencioso”, a mais de 3.8 quilómetros de profundidade. Os mergulhadores detetaram um colapso parcial do casco do Titanic, pondo em risco os famosos aposentos do capitão do navio e todos os quartos de luxo. A banheira do capitão, uma imagem querida dos entusiastas da história do Titanic, já não existe.

Nesta imagem é possível ver a banheira dos aposentos do capitão. A fotografia é de uma expedição realizada em 1996. Desde então, a banheira desapareceu completamente

Todo o convés está a colapsar, levando atrás os quartos principais. E a deterioração vai continuar a progredir”, lamenta Parks Stephenson, historiador que participou no mergulho.

Citado pela BBC, Stephenson descreve o processo de deterioração do Titanic como “chocante” e diz que a próxima estrutura a colapsar pode ser o telhado do compartimento interior.

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Mas porque estamos a perder o Titanic, aquele que em tempos foi o maior navio do mundo? As correntes fortes, a corrosão causada pelo sal e as bactérias que consomem metal estão na origem do problema. Os micróbios que estão a “comer” os destroços enfraquecem a estrutura do navio, explica a cientista e perita em ambiente marítimo Clare Fitzsimmons, da Universidade de Newcastle. Isto leva a que os fragmentos fiquem cada vez mais finos, transformando-se num pó que as correntes tratam de arrastar e destruir. Ainda assim, e apesar dos estragos em todo o navio, o vidro das escotilhas está bem preservado. 

Lembra a Science Alert que estudos apontam para o desaparecimento total do Titanic até 2030. Para trás, pode ficar nada mais que uma “mancha de ferrugem no fundo do Atlântico”.

Os cientistas responsáveis pela recolha das primeiras imagens 4K do Titanic fizeram um total de cinco mergulhos em agosto, com um submersível. Trata-se da mesma equipa que, em maio, realizou o mergulho mais profundo de sempre, ao descer à Fossa das Marianas.

Para além das primeiras filmagens de alta resolução do navio — que podem mesmo ser as últimas — a equipa recolheu imagens dos destroços que vão permitir recriações do Titanic em 3D, em realidade virtual e aumentada. Estas reconstruções virtuais poderão ser a única forma de, no futuro, ver e estudar este histórico navio.

Os destroços são o único testemunho que temos do desastre do Titanic. Todos os sobreviventes já morreram. Por isso, acho importante recorrer aos destroços, enquanto os destroços ainda têm algo a dizer”, comentou o historiador Robert Blyth.

Os mergulhadores aproveitaram ainda os mergulhos para prestar homenagem com uma coroa de flores aos mais de 1.500 passageiros que, naquela noite de abril de 1912, morreram no naufrágio.