Em Inglaterra, naquela que é considerada a melhor liga de futebol do mundo, a rotatividade é um conceito que é levado bastante mais à sério do que aquilo a que estamos habituados em Portugal. Tanto graças ao poderio financeiro, que garante capacidade para contratar vários jogadores acima da média para a mesma posição, como à exigência da competição, entre Premier League, Taça de Inglaterra e Taça da Liga e ainda competições europeias, no caso das principais equipas.

E talvez tenha sido por esse motivo que o sétimo lugar do Wolverhampton na temporada passada, a primeira de regresso ao principal escalão do futebol inglês, acompanhado das meias-finais da Taça de Inglaterra e ainda do apuramento para a Liga Europa, tenham causado estranheza. Ao contrário daquilo que acontece com as principais equipas em Inglaterra, o Wolves de Nuno Espírito Santo utilizou durante grande parte da época anterior os mesmos onze jogadores titulares, fez quase sempre as mesmas substituições e raramente desestabilizou o sistema tático montado com três defesas, cinco médios e dois avançados.

Para chegar a esta fórmula, porém, Espírito Santo precisou de fazer uma alteração estratégica a meio do ano, quando reforçou o setor intermédio que atuava na altura com apenas dois elementos e descobriu o segredo para os resultados surpreendentes que acabou por registar nas últimas semanas da temporada. Ora, esta época, com as saídas de Ivan Cavaleiro e Hélder Costa e as entradas de Patrick Cutrone e Pedro Neto, esperava-se que a lógica de Nuno Espírito Santo, desde o onze inicial às substituições e passando pelo sistema tático, fosse o mesmo: e foi isso que aconteceu.

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Só que esta temporada, já com algumas semanas a jogar de três em três dias graças à Liga Europa, com um arranque de Premier League difícil em que o Wolverhampton ainda não conseguiu vencer e no rescaldo de uma derrota em casa perante o Sp. Braga para a Europa, Nuno Espírito Santo decidiu mudar a filosofia logo em setembro. Mantendo-se os três defesas, o Wolves jogava este domingo com o Crystal Palace com quatro médios e três avançados, juntando-se Adama Traoré aos habituais Raúl Jiménez e Diogo Jota para reforçar o fluxo ofensivo que tem faltado à equipa nos últimos jogos.

Ao longo da primeira parte, depois de um início mais morno, o Wolves tomou conta do jogo e passou a controlar tudo aquilo que se passava no meio-campo defensivo do Crystal Palace, que só chegava perto da baliza de Rui Patrício através de investidas individuais de Zaha. A equipa de Espírito Santo criou várias oportunidades para marcar — Dendoncker foi o primeiro a tentar (10′), Doherty viu Guaita roubar-lhe o golo com uma defesa impressionante (29′) e Diogo Jota também rematou para defesa do guarda-redes — mas acabou por ir para o intervalo com o resultado ainda no nulo. A aproveitar o jogo entrelinhas que o Palace estava a permitir, o Wolves estava a realizar uma das exibições mais consistentes desde o início da temporada mas pecava na finalização.

A forma como o Wolves saiu para o intervalo, completamente por cima do jogo e a construir ocasiões de golo cada vez mais sucessivas, deixava adivinhar que a equipa de Nuno Espírito Santo iria entrar para o segundo tempo à procura do golo que, finalmente, poderia dar início à primeira vitória na Premier League. Ainda assim, em apenas 40 segundos, o Crystal Palace fez tudo aquilo que não tinha feito no primeiro tempo — Schlupp acelerou na esquerda e cruzou atrasado, onde Joel Ward apareceu vindo de trás para rematar; a bola desviou em Dendoncker, traiu Rui Patrício e a equipa de Londres estava em vantagem no primeiro minuto da segunda parte.

Até ao final, o Wolverhampton procurou voltar a implementar o ritmo que tinha conseguido alcançar nos primeiros 45 minutos, garantiu a posse de bola e apostou na velocidade de Traoré para tentar o empate. Espírito Santo lançou Rúben Neves para soltar Moutinho e Dendoncker de funções mais defensivas e ainda apostou no ex-Lazio PedroNeto e em Cutrone, como forma de povoar de maneira mais intensa o setor mais adiantado. Os foxes terminaram mesmo a partida a jogar com dez, graças à expulsão de Saiss, e viram o Palace desperdiçar várias oportunidades para aumentar a vantagem, mas conseguiram empatar no quinto (!) minuto de descontos: Diogo Jota, ao segundo poste e depois de um cruzamento de Traoré na direita, aproveitou um erro de Ward para marcar. Mesmo evitando a derrota, o Wolves continua sem ganhar na Premier League e está atualmente em penúltimo, com quatro pontos. E para uma equipa que ficou em sétimo na época passada e que está na Liga Europa, as estatísticas são assustadoras — nas últimas seis vezes que o Wolverhampton chegou a esta fase da principal liga inglesa sem vencer, acabou por ser despromovido no final da temporada em cinco ocasiões.