Para Luís Marques Mendes, a composição do novo Governo “é o primeiro erro político de António Costa”. O antigo líder do PSD afirmou no seu espaço de comentário da SIC, este domingo, que o novo Executivo é “um Governo velho, a continuação do anterior”. Como “só tem duas caras novas”, é mais “uma remodelação” e portanto “sabe a muito pouco”.

Na opinião do também conselheiro de Estado, fica a sensação de que este “é um governo de transição, um remendo”. Isto é, o “Governo verdadeiro” será aquele que “há-de surgir em 2021”. O que, na opinião de Mendes, “é muito mau” porque não dá autoridade aos ministros e não suscita respeito nas pessoas”.

O comentador também não vê o “reforço do núcleo político” no Governo que foi identificado por alguns analistas. E deu o exemplo da promoção de Pedro Siza Vieira a número dois da hierarquia para contrariar a opinião de que o executivo reforçou-se politicamente:

Como [Costa] não tem acordos no Parlamento, precisava de ter governo de combate, com energia nova, que não há, e políticos, que também não tem. Fala-se em Siza Vieira, [novo] número dois, grande promoção. Tenho-o na conta de uma pessoa séria, íntegra, competente, conhecedora dos problemas das empresas. Mas não é nenhum reforço do núcleo político do governo. Siza Vieira não é político, não tem perfil político nem tem peso político próprio, é um amigo do primeiro-ministro, pronto. E não é por o ministro subir na hierarquia que a economia vai ganhar mais peso”.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, foi alvo de uma “desconsideração” de António Costa, considera ainda Marques Mendes: “Na hiearaquia do governo — apesar de contar pouco — fica atrás de Siza Vieira e Mariana da Silva? Não é bonito, sobretudo para quem o apresentou sempre como o grande trunfo do Governo. Mas verdadeiramente — pelo instinto de vingança que tem um bocadinho mas sobretudo pela natureza das coisas — quem vai continuar a mandar no Governo é Mário Centeno”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Parece um Governo do Estado e não do país”

O comentador disse ainda que considera que o Governo “precisava de ser refrescado, estava muito desgastado”, mas “os ministros mais desgastados mantêm-se: da Saúde, Educação e Ciência”. Além disso, “tem mais PS e menos sociedade civil”, já que mesmo “a única ministra que não vem da área do PS, Ana Abrunhosa, tem também do Estado. Parece um Governo do Estado e não do país, não há pessoas das empresas”.

Um governo “de combate” e com ministros escolhidos para sinalizar uma aproximação aos patrões. Como Belém vê o novo executivo.

Marques Mendes deixou, ainda assim, algumas notas positivas sobre a composição do novo governo, embora salientando que “entre os aspetos positivos e negativos, os negativos superam em quantidade e sobretudo em qualidade os aspetos positivos”.

Os elogios, da paridade aos “melhores ministros”

Entre os aspetos positivos estão, por exemplo, o facto de este ser “um Governo quase paritário, em 19 ministros, oito são mulheres”, a nomeação de Ana Mendes Godinho para a pasta do Trabalho — “uma surpresa, muito competente, dinâmica e trabalhadora, vai surpreender na minha opinião, sobretudo na concertação social” — e a escolha de Ana Abrunhosa, “independente que até é mais da área do PSD”, para a Coesão Territorial, porque é “competente, prática, operacional, domina muito bem a questão dos fundos comunitários”.

Marques Mendes elogiou ainda a “aposta consistente” em Alexandra Leitão para “o novo Ministério na área da Modernização e Reforma da Administração Pública”, que poderá ser “um Ministério forte, porque vai ter três áreas: a Administração Pública — que vem das Finanças —, a Modernização Administrativa — que vem de Mariana Vieira da Silva — e uma área importantíssima, das Autarquias locais e descentralização, [que vem] de Eduardo Cabrita [ministro da Administração Interna]”.

Alexandra Leitão e Ricardo Serrão Santos no novo executivo que Costa apresenta esta tarde a Marcelo

Outro aspeto positivo, para o comentador, é o reforço de “dois dos melhores ministros” de António Costa: Pedro Nuno Santos (Infraestruturas e Habitação) e Matos Fernandes (Ambiente e Ação Climática). “Não sobem na hierarquia, mas à volta do Conselho de Ministros é o peso político e os poderes que têm” que importam. O primeiro, lembrou Marques Mendes, “ganha a área dos portos” e o segundo “a área da Floresta, vinda da Agricultura”.