Pode dizer-se que a Ford entrou com o pé direito no mundo dos veículos eléctricos. Tendo em conta que a experiência do construtor em carros a bateria era zero, ou próximo disso, a ponto de, para cumprir o prometido e, em 2022, ter mais veículos a bateria do que a gasolina e a gasóleo, se ter visto obrigada a adquirir a plataforma do ID.3 à VW, a Ford surpreendeu com um Mustang Mach-E cheio de potencial, que certamente vai fazer tremer alguns concorrentes. E uma dessas (aparentemente) boas decisões foi retomar o nome Mustang, tradicionalmente associado a coupés desportivos, mas provavelmente um dos seus bens mais valiosos, para o novo SUV a bateria.

O Mustang Mach-E, que vai ser produzido no México, começa por ser um SUV “ligeiro”, por ser mais baixo (1,59 m de altura), vulgarmente denominado crossover. Um pouco à semelhança do Jaguar I-Pace (1,56 m), é mais baixo do que é habitual num Sport Utility Vehicle, visando uma melhor aerodinâmica, peso mais reduzido e um centro de gravidade mais favorável, tudo para garantir um comportamento mais eficaz e dinâmico, capaz de fazer justiça ao nome Mustang.

O comprimento está fixado em 4,71 m, o que o coloca acima do I-Pace (4,68 m) e abaixo do Mercedes EQC (4,76 m) e do Model Y (4,78 m), mas o Mustang eléctrico compensa com um mais forte ar de coupé, o que se fica a dever à forte inclinação dos pilares do tejadilho, especial o C (o traseiro).

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Duas baterias e vários motores

A novidade no Mach-E não é o facto de oferecer duas baterias, Standard Range e Extended Range – que em Portugal deverão ser conhecidas com as denominações Autonomia Padrão e Autonomia Alargada, substancialmente menos sexy –, mas sim as generosas capacidades adoptadas, que permitem à Ford ambicionar uma maior capacidade de percorrer distâncias maiores entre recargas. Se a Jaguar propõe 90 kWh e a Mercedes vai até aos 93 kWh, apesar de apenas disponibilizar 80 kWh ao condutor, o Mustang eléctrico disponibiliza 75,7 kWh na bateria mais pequena (com 288 células da LG Chem) e 98,8 kWh na bateria mais generosa (376 células). Em matéria de carga rápida, a bateria maior suporta potências de 150 kW, para a mais pequena se ficar pelos 115 kW.

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Isto explica que o Mach-E consiga reivindicar 450 km com a bateria Standard Range (420 km se equipado com 4×4) e 600 km com a Extended Range e apenas RWD (540 km com AWD), valores que figuram entre os melhores do mercado. E não há nada que agrade mais aos utilizadores de veículos a bateria do que independência do posto de carga. Isto é uma forte resposta aos 480 km do I-Pace e aos 417 do EQC, sendo mesmo um problema para o Model Y, que é possível que agora venha a reforçar a sua maior bateria, que até aqui anunciava 75 kWh e 540 km entre recargas.

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O Mustang Mach-E pode ser fornecido com apenas um motor atrás (logo com tracção traseira, ou RWD) ou com um motor por eixo, o que lhe garante tracção integral (AWD). Com a bateria Standard Range e RWD, o eléctrico da Ford monta um motor com 258 cv, para subir para 285 cv com a bateria maior. Segundo o site da Ford Lusitana, nas versões AWD, a bateria de 75,7 kWh implica uma potência de 258 cv, valor que sobe para 337 cv quando se dispõe de 98,8 kWh. A versão mais desportiva do Mustang Mach-E, o GT, só surgirá em 2021, ao contrário dos restantes que estão disponíveis em finais de 2020, mas sabe-se que esta versão estará equipada com dois motores que totalizam 465 cv e 830 Nm de torque.

Muito espaço e duas malas

Por dentro, o primeiro eléctrico da Ford revela um habitáculo generoso, para 4,7 metros de comprimento, onde cinco adultos não deverão ter grandes dificuldades em se sentar. O tablier adopta um estilo clean, a fazer recordar os Tesla, com um grande ecrã central vertical com 15,5 polegadas, a que se junta o painel de instrumentos com 10,2”.

A versão GT Performance é a única a recorrer a uma grelha tapada e com uma textura diferente

A marca promete uma série de equipamentos, sendo a maioria proposta de série, para depois surgir a habitual lista dos opcionais, mas ainda é cedo perceber como se encaixam os equipamentos nas diferentes versões e qual o respectivo custo, no caso de se tratarem de extras.

É ainda conhecida a capacidade da mala principal do Ford, que é de 402 litros e está colocada atrás. Neste capítulo, o I-Pace disponibiliza 505 litros e o EQC 500 dm3, não sendo ainda conhecida a volumetria do Model Y. À mala traseira o Mustang alia outra à frente, a frunk, com 100 litros. Curiosamente, esta tem a particularidade de estar equipada com um sistema de esgoto, para se adaptar aos que pretendem utilizá-la para enchê-la de gelo e cervejas. Ou para manter água ou sumos frescos…

Como anda e quanto custa?

Em termos de velocidade máxima, todas as versões estão limitadas a 180 km/h (à excepção muito provavelmente do GT Performance). Quanto à capacidade de arranque, foi igualmente anunciado que as versões menos possantes ficarão abaixo da fasquia dos 8 segundos, para ir de 0-100 km/h, com as mais potentes a baixarem dos 7 segundos. O GT Performance, substancialmente mais possante, ficará abaixo dos 5 segundos. Estes valores são todos alcançados no modo de condução Unbridled (desenfreada), a mais desportiva, face à normal (Engage) e à mais económica (Whisper).

O novo Mach-E junto aos seus “irmãos” Mustang

O início das vendas de algumas versões do MustangMach-E, nomeadamente First Edition, Premium e California Route, está previsto para o fim de 2020. O Mach-E mais acessível, denominado  Select, e o mais desportivo, o GT Performance – o único que tem uma frente distinta, com a grelha tapada a surgir revestida por um material diferente e texturado –, estão agendados para somente 2021.

Nos EUA, os preços arrancam nos 43.895 dólares, ou seja, o equivalente a 39.636€, o que implica um posicionamento muito competitivo para um modelo que já possui uma bateria com 75,7 kWh. Os valores para o nosso país ainda não são conhecidos, nem quando chegará a Portugal, mas sabe-se que na Alemanha será proposto por valores que oscilam entre 47.000€ e 62.000€ e, tradicionalmente, não existem grandes diferenças entre o mercado alemão e o português, no que respeita a modelos eléctricos. Veja aqui como decorreu a revelação do modelo: