No ano em que comemora o décimo aniversário, a Ani São-João precisa de “obras urgentes” nas instalações e mais associados para enfrentar as dificuldades de uma associação que não recebe subsídio camarário, mas poupa trabalho à autarquia.

O albergue da associação de defesa dos animais é camarário, construído no âmbito do Orçamento Participativo municipal de São João da Madeira que a Ani São-João ganhou, em 2014, mas o “projeto de arquitetura desvirtua por completo as reais necessidades do quotidiano”, segundo a recém-eleita presidente, Raquel Gomes de Pinho. Segundo a bancária de 40 anos, a instituição usufrui das instalações há 11 meses, apesar de ainda não ter assinado o protocolo de parceria com a câmara municipal, que prevê o uso das instalações e que a autarquia suporte o custo da implementação do “chip” e a vacinação antirrábica nos animais nos casos de adoção. Apesar de haver boas relações e “vontade do executivo” municipal para inaugurar formalmente o espaço, são necessárias obras para pôr as instalações de “cara lavada”, mas ainda não há protocolo assinado para se poderem realizar os arranjos.

Nascida em 2009, para dar devidas condições aos animais que seguiam para o abate no canil municipal, a Ani São-João promove adoções, resgata animais abandonados ou em situações de negligência, providenciando cuidados de saúde – nomeadamente a esterilização de todos – e socialização a esses animais, procurando também sensibilizar a população com campanhas.

“Nós gostamos de conhecer bem as famílias e tentar perceber em que condições os animais vão viver. Por exemplo, se se trata de um gato, se vai ter acesso ao exterior ou não. Sabemos que há a iminência de atropelamento, se for um cão se a pessoa está com ideias de o ter acorrentado ou não”, exemplificou.

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O balanço dos últimos 10 anos é “positivo”, o grande desafio foi “a própria causa em si”, porque é considerada ainda uma “causa menor”, apesar de a presidente argumentar que “há lugar para ajudar todos” e que, ajudando os animais, também se ajudam pessoas.

“Se nós cuidarmos dos animais das ruas, vamos, obviamente, promover também uma cidade com mais salubridade, até mesmo com mais segurança. Infelizmente, há muita gente que se queixa dos animais em matilhas. Portanto, também estamos a cuidar de pessoas. O maior desafio é conseguir a sensibilização das pessoas para a causa”, disse, referindo ainda um “volte face” nos últimos anos.

Isto porque a associação começou a sentir um apoio de forma expressiva, ganhando dois orçamentos participativos, o da câmara municipal para a construção do albergue, e o da junta de freguesia para a construção de um parque de recreio, passeio e exercício canino.

“Isso foi um desafio ultrapassado. À luz do que tem acontecido, das recentes leis, da eleição de um partido que se assume pró-natureza e animais com um deputado, e que agora são quatro, percebemos que realmente não é uma causa assim tão menor. Estamos a ganhar voz e a conseguir fazer alguma coisa”, indicou. Porém, ao nível da Ani São-João há ainda “muito trabalho por fazer na cidade”, há muitos animais e “matilhas descontroladas, em que nascem ninhadas facilmente” e, além das obras, é preciso “conseguir captar e sensibilizar pessoas para a associação”.

“Não temos apoios formais, nem do executivo municipal, nem de alguém que nos dê um subsídio mensal. É com o desdobramento em eventos, campanhas, apelos nas redes sociais e pequenas coisas para ganhar dinheiro quando precisamos de operar um animal. Se tivéssemos uma estrutura forte em termos de associados, teríamos liquidez para conseguir contornar estas questões”, sublinhou.

Esse é um dos aspetos negativos desta década de existência, “numa cidade com mais de 20 mil habitantes”, a Ani São-João conta apenas com cerca de 100 associados, apesar de ser um ‘marca’ estabelecida no município de São João da Madeira, apelando a um maior número de sócios, mas também a um possível apoio camarário, tendo em conta que são a “única associação formal com vista à proteção animal na cidade”.

“Até hoje recebemos zero em dinheiro, temos os terrenos fruto do Orçamento Participativo. Poupamos dinheiro e encargos à câmara, fazemos a recolha. Quando há um animal atropelado, a responsabilidade não é nossa, é da veterinária municipal. [Às vezes] a PSP liga para a associação e imputa-nos essa responsabilidade. A partir do momento em que tomamos conta da ocorrência, estamos a diminuir encargos. Se fosse justo, o município estaria a devolver-nos alguma coisa e não devolve”, frisou.

Para o futuro, o objetivo da associação passa por conseguir colocar mais um funcionário nas instalações – que neste momento só tem uma –, assim como o alargamento já previsto das boxes para os animais e ainda a criação de um gatil.