Olhos postos na Netflix para a aclamação dos filmes que se estrearam nesta plataforma em 2019, como “O Irlandês”, “Marriage Story”, “Dois Papas” ou “Dolemite Is My Name”, na cerimónia dos Globos de Ouro 2020 que aconteceu na madrugada dests egunda feira no The Beverly Hilton, em Hollywood. A coisa correu mal. Ou melhor, correu mal para quem tem tantas apostas e fichas em jogo. Contudo, a verdade é que seria de esperar. A concorrência, neste ano, era feroz. Dois prémios de interpretação para produções Netflix, Laura Dern (Melhor Atriz Secundária – longa-metragem), por “Marriage Story”, e Olivia Colman (Melhor Atriz – série de televisão dramática), por “The Crown”. Não há motivos para pânico: como já se disse, foi vencida por uma concorrência feroz nas categorias de longa-metragem. Já na televisão, as suas produções de 2019 ficaram aquém da concorrência. E já lá vamos ao resto.

Primeiro, Ricky Gervais. Goste-se ou não, tem uma vantagem face a muitos dos outros comediantes que apresentam estas cerimónias: sabe, genuinamente, rir-se de si próprio. Não é fachada. E quem o sabe assim, permite-se a tudo. E foi isso que ele fez em cerimónias do passado (2010, 2011, 2012 e 2016), animando a festa – que precisa de ser animada – e gozando também com os outros e com o facto de esses mesmos outros não saberem rir-se do seu próprio umbigo. E, vale a pena dizer: foi bonita a festa. Era um ótimo momento para isso. As pessoas riam-se e depois ficavam ofendidas, em 2016 a coisa já tinha começado a dar a volta: há piada, mas ‘bora lá esmiuçar o que é ofensivo.

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A reação à prestação de Ricky Gervais nos Globos de Ouro 2016 foi tão chata que o próprio até fez um espectáculo de stand-up à volta disso (“Humanity”, que chegou à Netflix em 2018). As pessoas – até alguns fãs antigos – ficaram ainda mais ofendidas com Ricky Gervais. O efeito deveria ter sido o contrário. Isto tudo para dizer que Ricky Gervais tem muita graça. E continua a ser um grande apresentador destas cerimónias – especialmente dos Globos de Ouro – mas quando a audiência – a real e a mundial – é tão contida, chata, séria e preocupada em reprimir, é altura de parar de tentar. Eles não te merecem, Ricky.

Agora os prémios. Os prémios também foram agregadores de consenso e houve vitórias óbvias, esperadas. Muitas dobradinhas – ou seja, filmes/séries com dois Globos de Ouro –, seis ao todo, que reforçam muito do que foi dito nas listas de melhores de 2019. Só uma obra teve mais Globos de Ouro do que os outros, “Era Uma Vez… Em Hollywood”, de Quentin Tarantino, com três: Melhor Longa-metragem – comédia ou musical, Melhor Ator Secundário – longa-metragem (Brad Pitt) e Melhor Argumento (Quentin Tarantino). Principal suspeito para os Óscares em fevereiro? É “um dos”, certamente.

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Continuando no cinema, três dobradinhas. Sam Mendes e o seu “1917” (um épico da Primeira Guerra Mundial que chega às salas portuguesas a 23 de janeiro) saíram da cerimónia com Melhor Longa-metragem – drama e Melhor Realizador; Joaquim Phoenix lá foi Melhor Ator – drama pelo seu “Joker”, que também arrecadou Melhor Banda-Sonora pelo trabalho de Hildur Guðnadóttir (que também teve um grande destaque em 2019 com o seu trabalho para “Chernobyl”); e os biopics musicais continuam a ter relevância – depois de “Bohemian Rhapsody” em 2019 – com “Rocketman”, sobre Elton John, com os galardões de Melhor Ator – comédia ou musical, para Taron Egerton, e Melhor Canção Original (“I’m Gonna Love Me Again”, de Elton John).

Surpresas nas restantes categorias de longa-metragem? Nem por isso, Renée Zellweger venceu Melhor Atriz – drama pela sua “Judy”, Awkwafina recebeu o mesmo prémio na categoria comédia ou musical por “A Despedida” (estreia a 9 de janeiro em Portugal) e “Parasitas”, de Bong Joon Ho, Melhor Longa-metragem estrangeira. E num ano assim-assim para o cinema de animação, “Mr. Link” ficou com a estatueta de Melhor Longa-metragem de Animação.

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Se houve três dobradinhas nas categorias de longa-metragem, também existiram três para televisão. Três séries que estiveram no topo de quase todas as listas do ano passado: “Fleabag”, “Succession” e “Chernobyl”. E está tudo certo. Phoebe Waller-Bridge levou para casa os prémios de Melhor Série – musical ou comédia e Melhor Atriz numa série de televisão – musical ou comédia; “Succession”, a série que alguém descreveu – e bem – como “Guerra dos Tronos para adultos” foi galardoada com Melhor Série – drama e Brian Cox assegurou Melhor Actor numa série de televisão – drama; “Chernobyl” venceu nas categorias de Melhor Mini-série/Telefilme e Melhor Ator Secundário numa Mini-série/Telefilme (Stellan Skarsgård).

Vencedores solitários apenas nas categorias de interpretação, Michelle Williams pelo seu papel em “Fosse/Verdon” (Melhor Actriz numa Mini-série/Telefilme), Russel Crowe venceu o mesmo Globo de Ouro, versão masculina, por “The Loudest Voice” e Ramy Youssef foi o Melhor Ator – comédia ou musical pela sua série “Ramy”.

Lançados os primeiros dados, é agora esperar pelas nomeações para os Óscares, que serão anunciadas já na próxima segunda-feira, dia 13. A cerimónia acontecerá este ano a 9 de fevereiro.