Portugal entrou na fase de mitigação — a “mais crítica” da pandemia” –, anunciaram esta quarta-feira a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, e o secretário de Estado da Saúde, António Sales. O novo plano para esta fase entra em vigor às 0h00 de quinta-feira e prevê a identificação de quatro níveis de gravidade da doença — assim como os respetivos procedimentos a seguir.

“Portugal está prestes a entrar na terceira fase de pandemia, a fase de mitigação, que é mais crítica e isso exige de nós responsabilidades acrescidas”, começou por dizer António Sales, na conferência de imprensa diária de ponto da situação do novo coronavírus. Graça Freitas acrescentou que “estamos em fase 3.2, o que quer dizer que temos transmissão comunitária, não exuberante nem descontrolada, mas temos“.

Por isso, a partir de dia 26, entra em vigor um novo plano para abordar a Covid-19. “Vamos passar das medidas da fase de contenção para as medidas da fase de mitigação. A fase de transição pode ter alguma turbulência, mas estamos aqui para assistir todos. Estamos cá para resolver e encaminhar corretamente os doentes e para prestar assistência aos doentes de acordo com o grau de gravidade da sua doença.”

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Na prática, o que muda com o novo plano?

Enquanto que na primeira fase de contenção existia “um canal privilegiado para hospitais de referência”, a partir de agora “abrimos totalmente este modelo” e os doentes vão ser, sobretudo, seguidos em domicílio.

Segundo Graça Freitas vão ser identificadas quatro níveis da doença, que terão um tratamento respetivo:

— Os casos ligeiros, ficam em casa.

— Se tiverem sintomas “um pouco mais graves”, mas ainda assim moderados, os utentes são encaminhados para centros de saúde Covid, com áreas dedicadas para avaliação e tratamento de doentes (A.D.C. COVID). “Uma determinada área geográfica pode decidir que em vez de eleger todos os centros de saúde para Covid-19, pode escolher um centro de saúde de cada freguesia”, explicou Graça Freitas.

— Nas situações graves, os doentes são atendidos pela linha SNS 24 e depois encaminhados para um urgência hospitalar onde os os médicos decidem se a pessoa fica, ou não, internada.

— Os casos críticos avançam para internamento.

As regras aplicam-se tanto no setor público, como no privado e no setor social. A exceção é os IPO, que não vão receber doentes infetados.

Lares vão poder recorrer a laboratórios privados para testar idosos e funcionários

No âmbito do novo plano para a fase de mitigação, os lares vão passar a poder “recorrer a laboratórios privados para testar idosos e funcionários”.

“Os testes serão feitos no local mais próximo para aquele lar em específico, seja no hospital, através do INEM, ou num laboratório privado”, adiantou Graça Freitas. Caso se identifiquem casos de contágio nos lares o “mais importante” é separar esses idosos dos outros. “Sempre que for possível, no lar, haver esta separação, será feita. Quando isto não for possível, localmente terão de ser encontradas soluções para fazer esta separação. Essa é a indicação genérica.”

Graça Freitas frisa que a ideia não é tornar o lar “num gueto mas sim providenciar com forças locais, formas de conseguir separar pessoas Covid-19 positivas de pessoas não positivas”.

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Sobre a evacuação de um lar em Vila Real, que decorreu na manhã desta quarta-feira, António Sales agradeceu o “esforço” às forças armadas. “As forças armadas têm sido inexcedíveis”. Neste momento, existem 2 mil camas disponibilizadas pelas forças armadas, 186 no Porto, 700 em Lisboa, e as restantes dispersas pelo país.

“Não há nenhum objetivo de enganar, mentir ou omitir”

Vários autarcas têm vindo a salientar uma discrepância entre os números anunciados oficialmente, e os registados localmente. Graça Freitas garantiu que nenhum informação está a ser omitida. “Há dados que estão absolutamente certos: o número de mortes é inquestionável, entram à meia-noite numa plataforma eletrónica”, começou por dizer a diretora-geral de Saúde. “Há dados mais finos, como os que são por concelho, e essa variável pode não vir preenchida no formulário [de reporte], ou seja, só conseguimos recolher informação dos casos que vêm preenchidos no formulário”, acrescenta. Ainda assim, esclarece que o procedimento está a ser “afinado”. “Podem haver aqui pequenos desencontros, mas não há nenhum objetivo de enganar, mentir ou omitir”, garante.

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“É impossível mentir numa situação destas”, disse, pedindo que “confiem”. “Se o dado não coincide com o da freguesia é porque ainda não chegou até nós”.

Já António Sales apelou a que se evitem “imprecisões e a cacofonia“. “Temos todos de evitar os casos confirmados que não o são. Temos todos responsabilidades”. O secretário de estado frisou ainda que os 80 mil testes prometidos vão chegar aos hospitais até domingo. Atualmente, diz, a capacidade diária do SNS é de 6 mil testes, complementados pela capacidade dos convencionados, que têm capacidade para mais 2.600, “o que dá uma capacidade diária de mais 8.600 testes”. Além disso, existe uma reserva de capacidade para os próximos dias de 24 mil testes.