Nove em cada dez inquiridos num estudo divulgado esta quinta-feira dizem só sair de casa quando é absolutamente necessário e 83% confessam que já se sentiram tristes ou ansiosos devido ao isolamento social necessário para combater a pandemia de Covid-19.

O Barómetro Covid-19, uma parceria Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP)/Expresso, é um projeto de investigação que acompanha a evolução da pandemia em Portugal e cujos primeiros resultados foram divulgados esta quinta-feira.

Para isso, foi lançado no dia 21 de março um questionário online para avaliar semanalmente, a perceção dos cidadãos quanto ao risco capacidade de resposta das autoridades e dos serviços de saúde, cumprimento das medidas decretadas e impactos no quotidiano individual.

Os resultados da “Semana 1 do inquérito”, que decorreu entre 21 e 26 de março e que contou com 100.000 respostas, revelam que cerca de 92% das pessoas dizem estar em casa e só saírem em caso de “absoluta necessidade”, com as as mulheres (65%) e os inquiridos maiores de 65 anos (97,7%) em destaque.

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A maior parte dos participantes no inquérito (51,7%) afirmou estar “confiante” ou “muito confiante” na capacidade de resposta dos serviços de saúde, com os maiores de 65 anos a liderar este resultado (73,5%), refere a ENSP em comunicado.

Cerca de 83% confessam que já se sentiram “em baixo, agitados, ansiosos ou tristes devido às medidas de distanciamento físico”, sendo que mais de 26% reportou sentir-se desta forma diariamente ou quase todos os dias, com destaque para as mulheres (67,5%).

Ao analisar os dados por faixas etárias, observa-se uma diferença entre as pessoas acima dos 65 anos, que referem nunca experienciar estes sentimentos, e os mais novos, entre os 16 e os 25 anos, que confessam ter estes sentimentos todos os dias.

Os dados indicam também que cerca de 40% dos inquiridos dizem ter receio que exista uma interrupção do fornecimento de bens de primeira necessidade devido à situação atual, numa proporção semelhante entre homens e mulheres e uma distribuição equilibrada entre grupos etários.

No que se refere ao receio de perder o rendimento devido à situação atual relacionada com a covid-19, 60% dos participantes confessaram estar receosos com esta situação. Apenas o grupo etário acima dos 65 anos reporta menos preocupação.

No total, responderam 63.129 mulheres (64.1%) e 35.285 homens (35.8%). Grande parte da amostra (48.767) situou-se no intervalo entre 26 e 45 anos, seguidos de 36.560 com idades entre os 36 e os 65 anos, 7.706 entre 16 e 25 anos e 5.473 com mais de 65 anos.

O objetivo do projeto é “seguir a opinião destas pessoas semanalmente, para perceber a evolução à medida que a epidemia decorre, para perceber o seu impacto nas perceções das pessoas“.

A Escola Nacional de Saúde Pública, que apela para a participação de todos no preenchimento do questionário, ressalva que “estes resultados dizem respeito a um questionário que está a ser aplicado online, pelo que existe a possibilidade de não alcançar todas as frações da população”.

“Estes resultados dizem respeito às primeiras respostas de um estudo que se encontra a decorrer, pelo que os resultados ainda devem ser interpretados com a cautela necessária”, sublinha, adiantando que “refletem apenas as respostas dos participantes, não devendo ser generalizados à população portuguesa”.

Metade dos portugueses com sintomas não cumpre quarentena

Metade dos portugueses com sintomas não cumpre quarentena

Um estudo divulgado esta tarde de quinta-feira pela DECO, com um poto de vista diferente, dava também conta de uma realidade diferente.  Segundo a Deco Proteste, 9% dos portugueses que responderam ao questionário online revelou ter tido pelo menos um dos sintomas característicos da Covid-19 (febre, tosse seca ou dificuldades respiratórias) nos últimos 15 dias, mas 77% não contactaram os serviços de saúde, metade revelou não cumprir a quarentena e apenas 12% dos que apresentaram sintomas ficaram em casa, não saindo em nenhuma circunstância.

Na presença de sintomas suspeitos, as indicações da Direção-Geral da Saúde são para ligar para a linha SNS24 e seguir as instruções, mas apenas 13% dos inquiridos o fez e 7% afirmou que se dirigiu diretamente às urgências.

O estudo da Deco foi feito entre 18 e 20 de março através de um questionário online com uma amostra de 1.002 respostas da população adulta portuguesa.

Na altura em que a Deco Proteste fez o inquérito, as restrições do estado de emergência em Portugal ainda não estavam em vigor, mas o isolamento social já era aconselhado, tendo 68% indicado que cumpria “à risca as recomendações relativas à permanência em casa” e as mulheres mostraram-se “mais respeitadoras do que os homens”.

O estudo mostra também que 74% dos residentes em Lisboa seguem à risca o conselho para ficar em casa, contra 67% dos residentes no Porto.

O inquérito da Deco Proteste indica igualmente que, desde o início das restrições à mobilidade, 17% dos inquiridos dizem sentir-se aborrecido com frequência e 8% queixam-se de solidão, sendo ambos os sentimentos mais comuns entre os mais novos, em particular em idades abaixo dos 38 anos.

Cerca de um quinto dos inquiridos, com destaque para as mulheres, diz que a ansiedade e o medo fazem parte do seu dia-a-dia, sendo as mulheres entre os 25 e os 41 anos as que se revelam mais assustadas. As mulheres foram também as que referiram mais dificuldades em dormir.