O Turquemenistão é um dos únicos países do mundo sem qualquer caso confirmado de infeção pelo novo coronavírus. O governo, que tudo está a fazer para que o país se mantenha livre da pandemia, foi mais longe e baniu o coronavírus, até do vocabulário oficial. De acordo com a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o Presidente Gurbanguly Berdymukhammedov proibiu que os cidadãos falem sobre a Covid-19 e usem máscaras, tanto no espaço público como no privado. Caso desrespeitem a ordem, correm o risco de serem detidos.

As autoridades turcomenas fizeram jus à sua reputação adotando esse método extremo de erradicar todas as informações sobre o coronavírus”, afirma Jeanne Cavelier, chefe da seção Leste Europeu e Ásia Central da ONG Repórteres Sem Fronteiras.

De acordo com a organização, que denunciou a medida na terça-feira, 5,8 milhões de pessoas estão agora proibidas de usar a palavra em público. E as autoridades não perderam tempo. Segundo a Rádio Azatlyk, o serviço em turcomeno da Radio Free Europe, na capital, Asgabate, os agentes do regime já começaram a prender pessoas que foram ouvidas a falar sobre a pandemia ou que usavam máscaras.

“Os infiltrados do Ministério da Segurança Nacional estão por todo o lado a controlar o que as pessoas dizem sobre a pandemia”, garante Farruj Yusupov, chefe da rádio, que garante que os jornalistas da emissora radiofónica pararam de assinar os seus artigos por motivos de segurança. “Oficialmente, o Turquemenistão está a passar por um momento de grandeza e felicidade, portanto, este problema não pode existir”, explicou.

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O governo, no entanto, não ficou por aqui. Segundo o Turkmenistan Chronicles, um dos poucos jornais independentes e cujo site foi bloqueado no país, a palavra foi inclusivamente retirada dos panfletos que têm sido distribuídos em escolas, hospitais e locais de trabalho para incentivar a população a adotar medidas para combater o vírus.

Esta negação de informações não só coloca em perigo os cidadãos turcomenos de maior risco, como também reforça o autoritarismo imposto pelo presidente Gurbanguly Berdymukhammedov. Instamos a comunidade internacional a reagir e a encarregá-lo de suas violações sistemáticas dos direitos humanos”, reforçou Jeanne Cavelier.

Desta forma, os cidadãos turquemenos só têm acesso a informações provenientes de uma fonte, as autoridades do país, que garantem que até ao momento ainda não foi detetado nenhum caso de Covid-19 no país.

Paralelamente a esta decisão, no entanto, o Presidente, também conhecido como “Pai Protetor”, ordenou que os espaços públicos fossem desinfetados com recurso a uma planta tradicional, a harmala, e adotou uma série de medidas, como o fecho de fronteiras e escolas. Tudo isto sem, no entanto, dizer que é devido ao coronavírus, escreve o El País.

Segundo a mesma rádio, os cidadãos presos na Rússia desde que a embaixada do Turcomenistão no país fechou, no dia 17 de março, têm esperado por um voo que os leve de volta ao país de origem no aeroporto por não terem onde ficar.

O Turquemenistão é um dos países mais “fechados” do mundo, tendo ficado em último lugar no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, feito pelos RSF em 2019. O consumo noticioso é completamente controlado pelo governo, que persegue todos os que clandestinamente se reportam a meios de comunicação estrangeiros. Apenas poucas pessoas têm acesso à internet, que pode ser normalmente usada em cafés, após apresentação de um documento de identificação, e que também é altamente censurada pelo governo.