Ursula Von der Leyen está no olho do furacão. Desde que chegou à presidência da Comissão Europeia já teve um Brexit, uma crise sanitária e, como consequência, uma crise económica que ainda está a crescer. Numa altura em que os Estados-membros tentam afirmar o seu poder e o novo coronavírus expõe as fragilidades da União Europeia, a presidente da Comissão Europeia está a enfrentar a desconfiança de alguns dos altos funcionários que trabalham com ela. A Bloomberg cita “veteranos” das instituições europeias que começam a questionar se a Comissão Europeia não será “areia à mais” para a camioneta da ex-ministra da Defesa alemã e apontam a “desorganização” como um dos problemas. Há quem veja o “caos” da comissão Santer em 1999, mas também há quem acredite que Von der Leyen vai dar a volta.

A Bloomberg recorda ainda que nestes últimos dois meses, a presidente da Comissão Europeia foi repreendida pela chanceler Angela Merkel, irritou alguns países por ter ridicularizado a hipótese de eurobonds ou coronabonds e teve de pedir desculpas públicas a Itália por a União Europeia ter falhado aos italianos quando estes mais precisaram.

A pandemia, diz a agência financeira, abriu um buraco nos orçamentos de grande parte dos países do sul da Europa e deixou a Itália dependente do Banco Central Europeu. Para a piorar tudo, a recente decisão do Tribunal Constitucional alemã — que contesta a bazuca de Draghi que tem ajudado os países europeus desde 2015 — veio criar uma crise institucional entre o BCE e o seu principal ‘acionista’. Este incidente já levou Von der Leyen a ameaçar abrir um processo de infração à Alemanha, o seu próprio país.

A grande desorganização

As fontes europeias citadas pela Bloomberg descrevem uma grande desorganização na Comissão Europeia desde que começou a liderança de Von der Leyen e uma delas comparou o caos atual ao que aconteceu em 1999 quando um escândalo de corrupção e desvio de fundos atingiu o colégio de comissários e obrigou o luxemburguês Jacques Santer a renunciar à liderança. As fontes europeias dizem também que há comissários a conspirar contra Von der Leyen e, quando esta tentou impor a sua liderança, falhou.

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Há, no entanto, quem defenda von der Leyen: no mesmo artigo são citados “colegas” que acreditam que, quando se encontrar com o cargo, será uma presidente eficaz. Lembram que a antiga ministra alemã esperava liderar um novo Pacto Ecológico e as condições alteraram-se com a pandemia. Outras fontes destacam que muitas das críticas feitas a Von der Leyen são feitas porque se trata de uma mulher.

O mesmo artigo da Bloomberg diz que von der Leyen foi escolhida porque os líderes europeus queriam, de forma deliberada, evitar candidatos com maior experiência, carisma ou astúcia, preferindo alguém sem conhecimento dos jogos palacianos da política — uma informação que a agência financeira não atribui a nenhuma fonte. Lembra também como o antecessor da alemã, Jean-Claude Juncker, enfrentava os líderes europeus, contando para isso com o seu braço-direito, Martin Selmayr, que já trabalhava na comissão há uma década e “sabia onde os corpos estavam enterrados.”

É ainda recordado que Von der Leyen é apenas a segunda pessoa em 35 anos que ocupa este cargo sem antes ter sido primeira-ministra de um país da União Europeia, destacando que não tem poder nem “rede” em Bruxelas. A presidente da comissão confia muito nos assessores que trouxe de Berlim, havendo uma diferença: não têm a experiência nem o conhecimento da máquina europeia que tinha Selmayr.