É num ambiente completamente imersivo que o Oceanário de Lisboa reabre ao público. Poucos visitantes percorrem as salas escuras à procura da paz e da calma que a pandemia da Covid-19 lhes tirou nos últimos dois meses.

A viagem inicia-se de trás para a frente para tentar descobrir curiosos no aquário que foi inaugurado há 22 anos, para a Exposição Internacional de Lisboa de 1998 (Expo’98), e que nunca tinha encerrado até março de 2020.

Junto a um grande vidro com um azul refletido numa sala sem luz, encontra-se um casal à procura de fugir à ansiedade que quarentena criou.

Em declarações à agência Lusa, Lídia Monteiro conta que a visita serve para esquecer “o que se passa lá fora”, no sentido de “poder ver um contexto mais natural”.

“Mesmo em tempos de mais de agitação eu venho cá quase todos os anos e é um espaço em que é possível ter bastante calma e poder fugir um bocadinho às ansiedades criadas por estar em casa“, revela, salientando que tem “muitos problemas de ansiedade” e tem “tido bastantes na quarentena”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Suspirando, Lídia Monteiro realça que o Oceanário é um local que retira essa ansiedade.

“O Oceanário consegue ser um espaço extremamente calmo, especialmente pela maneira como está construído, pelos ambientes escuros. É um ambiente completamente imersivo“, exclama.

A seu lado, Henrique Pereira afirma que aquele grande aquário o transporta para uma realidade diferente, transmitindo-lhe “uma sensação de relaxamento”.

“As pessoas têm estado dois meses em casa, como eu, e, se calhar, vir aqui ver um outro mundo é uma realidade diferente. Faz com que as coisas tomem algum sentido ver uma outra realidade”, observa, acrescentando que é “um escape” à situação de pandemia.

Mais à frente, está Pedro Caldas que visita o Oceanário pela primeira vez. Nunca tinha tido oportunidade de o visitar até agora.

“É primeira vez [que visito]. É fantástico, muito interessante, muitas coisas para ver”, diz.

À Lusa, Pedro Caldas explica que a visita serve para “ocupar o tempo”, uma vez que há poucos espaços públicos abertos.

“Vimos na televisão que estava aberto e aproveitámos para vir”, afirma, salientando a obrigação do uso de máscaras e as áreas de higienização das mãos para os visitantes.

São poucos os que ainda visitam o Oceanário de Lisboa. Quem entra tem de tomar todas as precauções. Ninguém entra sem máscara.

Na zona das lontras, Paulo Cardigos, com a máquina fotográfica em punho, revela que se sente “completamente à vontade” naquele espaço, com as medidas de segurança.

“Já estive muito tempo em casa, confinado, como quase todos. Não ia deitar tudo a perder e sair agora à rua numa situação em que não houvesse estas regras de segurança”, aponta, indicando que “era uma excelente oportunidade” para visitar o Oceanário, até porque gosta de “tirar umas fotos”.

Com cerca de 200 pessoas a trabalhar diariamente, o Oceanário reabriu, na segunda-feira, ao público de uma forma tranquila depois de ter estado encerrado durante dois meses.

À agência Lusa, o presidente do Conselho de Administração do Oceanário de Lisboa, João Falcato, diz que não houve “alteração quase nenhuma” à rotina no tempo em que estiveram fechados.

“Correu muito bem. Conseguimos fazer todas as rotinas na normalidade e os animais não sentiram rigorosamente nada”, afirma, adiantando que tiveram de dividir a equipa de cerca de 42 biólogos, para não correr riscos de contaminação de equipa.

Para João Falcato, o hiato serviu para se reinventarem e adaptarem a uma nova realidade.

“Nós não sentimos grandes dificuldades, o que sentimos foram alguns desafios para nos reinventarmos e continuarmos a estar presentes e a cumprir com a nossa missão num contexto diferente”, observa.

Revelando não ter colocado nenhum trabalhador em situação de layoff, João Falcato indicou que tal não era possível, porque “há muito trabalho para fazer”, adiantando que aproveitaram para pintar as paredes e fazer outras reparações.

“Nós estávamos abertos há 22 anos, há 365 dias por ano… De repente não ter visitantes é, ao mesmo tempo, ter oportunidade de fazer trabalhos de manutenção que nós tínhamos normalmente de fazer à noite. Aproveitámos para fazer o oceanário mais bonito”, diz, referindo, contudo, que o Oceanário terá “perdido 200/300 mil visitantes” desde março.

É bem perto do fundo mar que ressurge a vida do Oceanário de Lisboa, depois de tempos mais conturbados, sem visitantes, o que deixou as lontras “um pouco mais nervosas”, tendo sido criado um programa especial para que elas sentissem o movimento das pessoas.