A nova produção de seguros e a renovação de seguros existentes está a sofrer uma queda significativa, sobretudo para proteções ligadas a empresas, devido à covid-19, disse à Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS).

“O que vemos é que a nova produção teve uma queda muito significativa, não se estão a subscrever novos seguros em muitas modalidades e também existe uma redução muito grande relativamente aos seguros existentes”, afirmou José Galamba de Oliveira à Lusa, tendo em conta dados de março e alguns de abril, impactados pela crise desencadeada pela pandemia de covid-19.

Segundo o líder da associação que representa a empresas do setor segurador, é significativa a queda nos seguros de acidentes de trabalho, devido a muitos trabalhadores estarem em ‘lay-off’.

Também significativa é a queda nos seguros automóvel e nos seguros de riscos múltiplos (para fazer face a perdas de exploração e responsabilidade civil) devido à redução da atividade das empresas.

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“Há seguros especialmente ligados às empresa que estão a ser impactados porque a atividade foi drasticamente reduzida ou suspensa”, justificou.

Já nos clientes particulares, a redução é menor, mas é notória a redução na contratação de novos seguros, como seguros multirriscos, indicou.

Nos seguros de vida e de produtos de poupança, a subscrição de novos produtos caiu “brutalmente”, afirmou também Galamba de Oliveira.

Quanto aos resgates de Planos de Poupança Reforma (PPR), que um diploma do Governo permitia fazer resgate sem penalização fiscal no caso de famílias atingidas pela crise, o responsável disse que houve um “pequeno pico” quando saiu o diploma, mas que posteriormente a situação normalizou. Já nos seguros de saúde há manutenção das subscrições, acrescentou.

Sobre perspetivas, o presidente da APS recordou que este é um setor intimamente ligado ao ciclo económico e que, além da quebra do negócio, também está a ser impactado pela queda dos mercados financeiros, uma vez que o setor é um grande investidor institucional nos mercados financeiros (como obrigações, ações).

“Obviamente que esta quebra teve impacto na valorização das carteiras [das seguradoras] e tem impacto na solvabilidade e cumprimento de requisitos obrigatórios. Felizmente, o setor está bem capitalizado. Entrou em 2020 com rácios de solvabilidade acima dos mínimos”, disse.

Sobre novos produtos, indicou que, face ao uso de mais teletrabalho e de plataformas eletrónicas pelos consumidores, o setor está a investir em produtos com coberturas adaptadas às novas realidades, como ‘seguro cyber’, que o presidente da APS antecipou que deverá ser muito mais requisitado pelas empresas mas também por particulares.

Também começam a aparecer, indicou, seguros para proteção de rendimentos para famílias que sofram impacto da covid-19.

Sobre as moratórias impostas pelo Governo para o pagamento de seguros por empresas e particulares (à semelhança do que foi feito para o pagamento de créditos bancários), Galamba de Oliveira considerou que não trazem mudanças face ao que as empresas seguradoras já estavam a fazer por acordo com os clientes com dificuldades.

“O setor segurador, desde a primeira hora, tem mostrado uma postura de grande flexibilidade na análise de casos concretos, no sentido de encontrar as melhores soluções, em especial nas coberturas de acidentes obrigatórias, trabalho, responsabilidade civil”, afirmou.

Quanto ao fundo da APS de compensação financeira a familiares de vítimas mortais de covid-19 em contexto profissional (profissionais de saúde, pessoal de limpeza, polícias, profissionais que transportam lixo médico, trabalhadores de lares, entre outros), no valor de 1,5 milhões de euros, indicou Galamba de Oliveira que de momento a associação está em contacto com entidades que representam estas profissões para divulgar o fundo.

Para já, ainda não há informação de quantas famílias poderão beneficiar desta compensação, mas já está o processo todo montado e equipas prontas para ir para o terreno.

O valor a atribuir a cada família vai depender de critérios como o número de pessoas do agregado familiar, o rendimento e o grau de dependência que tinham da pessoa afetada. “O valor poderá ser de 20, 30 mil euros, mas vai depender muito de casa situação em concreto”, afirmou.