Pelo menos 500 pessoas foram condenadas a penas de prisão, desde o final de março, por violarem medidas decretadas pelo Governo de Myanmar para conter a pandemia de Covid-19, disse esta quinta-feira a Human Rights Watch (HRW).

Entre as pessoas condenadas, a entre um mês e um ano de prisão, estão crianças, trabalhadores emigrantes que voltaram às suas casas e minorias religiosas, segundo a organização não-governamental (ONG) de direitos humanos.

Para a HRW, as autoridades de Myanmar (ex-Birmânia) devem parar de prender pessoas por infrações relacionadas com às medidas de combate à Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

A maioria foi condenada com recurso a leis como a lei a nacional de gestão de desastres, a lei de prevenção e controlo de doenças transmissíveis e outras disposições do código penal birmanês. As autoridades têm em mãos centenas de outros casos em andamento ou que já resultaram em multas.

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Prender pessoas por violar as diretrizes do recolher obrigatório, confinamento e distanciamento social é quase sempre desproporcional e contraproducente para reduzir as ameaças à saúde pública, de acordo com a HRW.

Limitar os riscos à saúde pública por meio do distanciamento social é crucial, mas prender pessoas por ficarem fora à noite apenas aumenta o risco de todos”, disse Phil Robertson, vice-diretor da Human Rights Watch para a Ásia.

“Atirar centenas para prisões lotadas e sem higiene derrota o propósito de conter a propagação da Covid-19”, acrescentou Robertson.

Em março e abril, as autoridades nacionais, estaduais e locais anunciaram várias diretrizes e restrições destinadas a reduzir a disseminação do novo coronavírus.

As medidas incluem um confinamento obrigatório de 28 dias para as pessoas vindas do estrangeiro, recolher obrigatório noturno, proibição de reuniões com mais de cinco pessoas e vários bloqueios em cidades.

Em 28 de março, os media do governo anunciavam que “aqueles que violam a ordem de saúde pública podem enfrentar penas de prisão”. Segundo vários casos acompanhados pelos media e pela sociedade civil de Myanmar, as autoridades agiram muito além da ameaça à saúde pública representada pela Covid-19.

A lei internacional de direitos humanos, segundo a HRW, reconhece que no contexto de uma grave emergência de saúde pública, as restrições a alguns direitos podem ser justificadas, mas somente quando essas medidas são estritamente necessárias, legais, baseadas em evidências científicas, com escopo e duração limitados e proporcionadas para lidar com a crise, não sendo nem arbitrária e nem discriminatória na sua aplicação.

A maioria dos presos foi acusada de violar ordens do recolher obrigatório, que acarreta uma sentença de até seis meses por “desobediência a uma ordem devidamente promulgada por um funcionário público”.

Em 4 de maio, seis advogados foram condenados a três meses de prisão por realizarem um protesto numa fábrica em Rangum por causa de uma disputa salarial. As autoridades interromperam o protesto e acusaram os seis líderes e outros trabalhadores sob a lei de prevenção e controlo de doenças transmissíveis.

Para a HRW, embora o confinamento e o distanciamento social sejam uma parte vital da resposta da saúde pública à pandemia, a sua aplicação não deve dar origem a novas ferramentas de abuso.

Em Myanmar foram registados oficialmente 206 casos de Covid-19 e seis mortes, sendo que 126 pessoas já recuperaram da doença.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 352 mil mortos e infetou mais de 5,6 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Cerca de 2,2 milhões de doentes foram considerados curados.