Tudo começou numa chamada por videoconferência que contou com mais de 80 jogadores, entre NBA e WNBA. E tudo cresceu com uma frase citada pela The Athletic, atribuída ao base dos Brooklyn Nets, Kyrie Irving, que é ainda vice-presidente da Associação Nacional de Jogadores de Basquetebol (NBPA): “Estou disposto a perder tudo por esta luta pela justiça social”. Será este o início da rebelião no desporto americano em torno de uma causa?

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Se for pela figura de Irving, pode não passar de uma ameaça. Como dizia Adrian Wojnarowski, da ESPN, o jogador está a ser acusado de mudar de forma repentina de ideias numa altura em que já sabe que não deverá realizar mais jogos até ao final da temporada devido a uma lesão no ombro. “Não apoio a decisão de irmos jogar para Orlando. Queiramos ou não admitir, somos atacados enquanto negros todos os dias”, terá acrescentado ainda o base na conversa com cerca de 90 minutos, numa ideia que pode ser apoiada por outros jogadores de peso como Chris Paul (presidente da NBPA), Avery Bradley, Kevin Durant, Donovan Mitchell ou Dwight Howard.

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“O basquetebol não é necessário neste momento, é só uma distração. Não haveria nada que quisesse mais do que ganhar o meu primeiro campeonato na NBA mas a unidade entre as minhas pessoas é um título ainda maior”, disse o poste dos Lakers a esse propósito. “O que se está a passar é demasiado grave para deixarmos passar. Que melhor momento podemos ter do que agora para nos focarmos nas nossas famílias? É uma oportunidade rara que temos de aproveitar ao máximo enquanto comunidade. A colonização europeia despojou-nos da nossa riqueza história e precisamos de nos sentar e descobrir. Quanto menos distrações existirem, mais podemos colocar o foco na nossa ação para nos redescobrirmos”, acrescentou ainda Dwight Howard, conhecido como Superman.

O Yahoo Sports, citando fontes que estiveram nessa chamada por videoconferência, salienta ainda que existem atletas que se sentiram incomodados por não terem sido ouvidos a propósito do regresso. No entanto, a maioria dos atletas e das suas principais estrelas, como LeBron James, concordam com a ideia de terminarem a temporada até por acharem possível juntar a parte de competição com a luta pelos direitos dos cidadãos norte-americanos. O prejuízo em caso de paragem, esse, seria de 900 milhões de dólares só em relação aos direitos televisivos nacionais para estes três meses de competição, a que se juntariam muitos outros em cada equipa.

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Existem outras situações que, de acordo com a imprensa dos EUA, poderão estar a influenciar a posição, como as apertadas regras montadas na bolha criada pela NBA no Walt Disney World Resort, em Orlando (quando no início havia ideia de que essas normas seriam mais ligeiras), a preocupação devido à pandemia do novo coronavírus ou a existência de equipas com reduzidas aspirações desportivas neste novo modelo onde serão feitos apenas mais oito jogos da fase regular antes de se passar para os playoffs. Em paralelo, existem também críticas a Irving e à NBPA, que deveria ter um papel mais ativo quando se votou o regresso à competição a partir de final de julho. Certo parece estar um ponto: com ou sem jogos, as lutas por causas sociais, nomeadamente os movimentos criados a partir da morte de George Floyd, estarão sempre presentes nos (adaptados) pavilhões de basquetebol.

“Adoro a NBA. Essa é a minha família mas este não é o momento de jogar basquetebol porque isso vai tirar as atenções da nossa tarefa neste momento e pela qual estamos a lutar. Vão estar todos preocupados com os playoffs e ninguém vai falar na necessidade de obter justiça depois destes assassinatos sem sentido”, destacou o ex-jogador Stephen Jackson, que tratava Floyd como “um irmão” e que tem estado na frente dos protestos nos EUA, além da presença de outros jogadores da atualidade como Jaylen Brown, Brogdon, Stephen Curry ou Westbrook.