Luvas, viseiras, divisórias para táxis e até proteção para contacto entre pessoas. O plástico tornou-se no maior amigo da luta contra o novo coronavírus, protegendo desde profissionais na linha da frente a familiares que apenas querem dar um abraço. O problema: uma garrafa de plástico demora 450 anos a decompor-se.

Depois de a pandemia ter obrigado à mudança de hábitos e costumes e ter potenciado um maior uso da tecnologia para trabalhar, aprender ou até conviver, alguns hábitos recentemente adquiridos tiveram um retrocesso. O plástico, que até há três meses estava a ser cada vez menos usado, volta agora a ter um papel central nas nossas vidas e tem sido um dos bens mais desejados durante a pandemia. Desde cortinas tão finas como lençóis de algodão a bandejas duras, a versatilidade deste material, que pode ter vários formatos e espessuras, parece ser infinita.

O plástico tem vindo a ser demonizado muito antes da pandemia, mas agora tem vindo a demonstrar lentamente que é um elemento de segurança alimentar. A realidade é que isso dá às pessoas uma sensação de segurança, que acreditam que não ficarão infetadas graças a ele”, explicou ao El Mundo Javier Quiles, diretor de Relações Externas da cadeia espanhola de supermercados Consum.

Esta mudança de mentalidade, no entanto, poderá ter tanto de bom como mau: o material mais desejado de 2020 é também um dos mais menosprezados nestes últimos anos, devido aos problemas que provoca no meio ambiente. A reviravolta tem preocupado as organizações ambientais.

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No início deste mês, a WWF lançou em Espanha uma campanha que pedia civismo, mostrando-se preocupada com “tsunami” de resíduos criados pelos equipamentos de proteção de plástico usados contra a Covid-19 que iam caminho do oceano. Com a campanha “Apanha a Luva”, a organização apelou à colocação de luvas e máscaras de proteção nos contentores do lixo para proteger a saúde e evitar que os rios e mares do planeta fiquem ainda mais poluídos, pedindo um plano urgente de gestão dos resíduos provocados pela pandemia.

WWF preocupada com aumento de plástico no mar com máscaras e luvas

A WWF alertou ainda para o facto de cada máscara cirúrgica, que pesa cerca de quatro gramas, poder demorar 400 anos a degradar-se, estimando que todos os anos cerca de 100 mil animais marinhos morrem presos, asfixiados ou envenenados com resíduos plásticos.

Já em fevereiro deste ano, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) contabilizou “cerca de 600 mil toneladas de plástico nos resíduos urbanos” de 2018. Destas, apenas 12% (72 mil toneladas) foram recicladas, concluiu na altura a associação ambientalista Zero.

Zero alerta para “enorme falhanço”: Portugal reciclou apenas 12% de plástico em 2018