O embaixador do Reino Unido em Portugal, Chris Sainty, justificou nesta sexta-feira a decisão britânica de não retirar Portugal da lista de países cuja situação epidemiológica obriga à realização de quarentena por parte de todos os passageiros que deles viajem para o Reino Unido. Sublinhando que “o primeiro dever de qualquer Governo é proteger a sua população”, Chris Sainty recusou que a decisão seja “uma jogada política”.

“Quero abordar um conjunto de mal-entendidos sobre este processo. Algumas pessoas especularam que há uma jogada política por trás destas decisões. Simplesmente, não é esse o caso”, escreveu o embaixador britânico numa série de mensagens publicadas na tarde desta sexta-feira na rede social Twitter.

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“O primeiro dever de qualquer Governo é proteger a sua população. Estas decisões são inteiramente orientadas por considerações de saúde pública, para minimizar o risco para os passageiros do Reino Unido e o risco de importar novos casos de Covid-19 para o Reino Unido”, acrescenta o embaixador.

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Chris Sainty diz ainda que “simplesmente não é verdade” que os cientistas britânicos “não tenham usado os dados corretos”. “Eles tiveram acesso a todos dados disponíveis publicamente sobre Portugal, bem como muitos dados e evidências fornecidos pelo Governo português”, escreve o embaixador.

A crítica do embaixador é dirigida especificamente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que esta sexta-feira tinha recorrido também ao Twitter para lamentar a decisão britânica e argumentar que se tratou de “uma decisão não fundamentada nem suportada pelos factos”.

No final do debate do Estado da Nação, Augusto Santos Silva chegou mesmo a dizer que “o Governo português demonstrou que a situação portuguesa era muito positiva” e que o Governo britânico não teve “a cortesia” de explicar os fundamentos científicos. Londres “não foi capaz de explicar fundamentos políticos e técnicos da decisão”, acusou o ministro português.

No Twitter, o embaixador britânico ensaiou algumas explicações técnicas. Os cientistas “consideraram muitos indicadores além dos números de casos mais recentes, incluindo dados regionais, dados sobre os testes, a estratégia de testagem e a natureza dos surtos de Covid-19 em Portugal”. Segundo Chris Sainty, a embaixada “facilitou o contacto direto entre especialistas dos dois países para discutir tudo isto”.

“Eu disse muitas vezes que penso que Portugal fez um excelente trabalho na luta contra a pandemia e que o Governo e as autoridades de saúde de Portugal devem ser parabenizadas por conterem, com sucesso, a disseminação do vírus e por manterem as taxas de hospitalização e de mortes muito baixas”, lê-se no Twitter do embaixador.

“Infelizmente, porém, como resultado de uma série de surtos nas semanas recentes, a prevalência do vírus em Portugal continental durante este período manteve-se alta de forma persistente, mesmo quando temos em conta os indicadores que descrevi antes”, acrescenta o diplomata.

O embaixador britânico termina a mensagem dizendo que acredita que “as medidas adotadas pelas autoridades portuguesas são as corretas e vão diminuir a prevalência do vírus”.

Em Portugal já foram diagnosticados 49.692 casos de Covid-19 desde o início da pandemia, tendo a doença levado à morte de 1.712 pessoas. Números muito abaixo dos registados no Reino Unido: 45.677 mortes num universo de 297.914 casos de contágio. Esta sexta-feira, por exemplo, o Reino Unido registou 123 mortes por Covid-19. Portugal registou sete.