Miguel Sousa Tavares, cuja filha é casada com o filho mais velho de Ricardo Salgado, considerou, em entrevista ao Diário de Notícias, que a acusação ao ex-banqueiro, pelo Ministério Público, é “forte”, “sólida” e “fundamentada”, não pelo número de crimes imputados (65), mas pela “capacidade de os provar”.

Não é o número de crimes que torna a acusação forte, antes a capacidade de os provar depois, e aí parece-me que têm uma acusação mais sólida e fundamentada”, disse.

A acusação, defende, “baseia-se numa grande quantidade de documentos“. “De facto, há dinheiro que desapareceu. Isso é incontestável. Portanto, alguma coisa, não sei se tudo ou se uma parte, o Ministério Público há de conseguir provar em tribunal”, afirmou. Sousa Tavares admite, porém, que não leu a acusação — até porque “está além da minha paciência lê-la” — e que, por isso, conhece “mal” o caso.

Em 2015, o semanário Sol noticiou que Sousa Tavares teria investido cerca de dois milhões de euros no GES, através do fundo ES Liquidez, em cinco movimentos bancários realizados ao longo do ano de 2013. Mas o jornalista garantiu que não sabia. “Nunca, com o meu conhecimento ou autorização, fui investidor de produtos do BES e do GES”, disse ao jornal.

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Miguel Sousa Tavares tinha 2 milhões investidos no GES mas diz que não sabia

Por outro lado, o processo que envolve o ex-primeiro-ministro, José Sócrates, está suportado, defende Sousa Tavares, em “deduções sem provas” e baseia-se numa “testemunha comprada”, Hélder Bataglia. A única coisa que se sabe, diz, é que Sócrates “vivia à conta de um amigo”, o que “não é crime”, embora possa ser, “eventualmente, uma situação pouco digna para um primeiro-ministro”. “Toda a a tese do Ministério Público assenta em dois pressupostos: o dinheiro de Carlos Santos Silva era de facto de Sócrates e que todo esse dinheiro vinha de corrupção. Agora, como se diz em latim: quod erat demonstrandum; falta fazer a prova disso e essa não está nos autos.”

Ao Diário de Notícias, o também escritor defende ainda que a realização da Festa do Avante! é um “egoísmo” e uma “provocação” e que “devia ser cancelada”. Sousa Tavares vais mais longe e atira que a persistência do partido “equivale, quer queiram quer não, à mesma atitude de Trump e de Bolsonaro ao recusarem-se a usar máscara, querendo significar que não se passa nada de estranho e passa-se”. “Um só infetado que resulte da Festa do Avante! é diretamente imputável à direção do PCP.

Já o escândalo que envolve o rei emérito, Juan Carlos, e que levou à sua saída de Espanha, é “inominável”. “Se acontecesse com um Presidente português estaríamos de rastos.” Mas critica que “ninguém — a imprensa também — se dá ao trabalho de presumir a inocência daqueles que o Ministério Público apresenta na praça pública apenas como acusados, sem direito a contraditório, em muitos casos da justiça em Portugal”.

Escândalos de Juan Carlos. Como é que o rei da democracia caiu em desgraça?