“Principal memória do Tour? A vitória em Plateau de Beille. Recordo esse momento com muito carinho porque foi sem dúvida um dos momentos em que comecei a lançar a minha carreira como profissional. Será sempre uma das minhas recordações favoritas”. Depois de ter terminado a carreira em 2017, Alberto Contador, hoje com 37 anos, não demorou a trocar as bicicletas pelos microfones. Melhor, a acrescentar as bicicletas (também como dono de uma equipa) aos microfones, porque à semelhança de outros ciclistas não parou de treinar e passou a experimentar também o triatlo. Este ano, e mais uma vez, é um dos principais comentadores do Eurosport num Tour diferente de todos os outros pelas ausências, pelas datas e pelo contexto. O ciclismo em relação aos tempos no ativo mudou, o peso emblemático da Volta à França é que não. “Não tenho dúvidas, é uma corrida sem igual no ciclismo”.

Desta vez é que é: Alberto Contador retira-se depois da Vuelta

“A principal diferença de hoje é que o patrão dos ciclistas e as suas equipas são similares. A preparação e encontros de pré-temporada cada vez são mais semelhantes quando antes podias fazer as coisas à tua maneira e isso marcava a diferença em relação aos teus rivais. Em corrida nota-se uma tensão grandes e um controlo total da potência. Por exemplo, a velocidade do Critérium du Dauphiné foi muito alta e isso é cada vez mais importante. Também a parte económica tem mais peso porque as equipas, ao estarem em contacto direto com as empresas e os patrocinadores, notam a pressão para obter resultados desportivos e económicos”, destacou o antigo corredor espanhol ao canal televisivo, prosseguindo: “80% da rentabilidade de uma equipa que lute pelas Grandes Voltas vem de um triunfo no Tour. O resto das corridas também são importantes como o Giro de Itália ou a Vuelta a Espanha mas o estatuto e aquilo que se ganha na Volta à França está muito acima das outras corridas”.

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Vencedor do Tour em 2007 e 2009, a que juntou ainda mais dois Giros e três Vueltas, Contador não considera que todas as novas regras por causa da pandemia, das restrições do público aos testes passando pela nova regra de excluir uma equipa que tenha dois ou mais casos positivos de Covid-19, possam afetar a preparação dos corredores e das equipas. De uma forma abrangente, acredita que a modalidade tem formas para contornar o contexto. 

“Não acredito que essas regras mudem nada. O próprio Tour será minucioso em relação ao cumprimento de todos os protocolos para minimizar os riscos e garantir que possamos aproveitar uma boa corrida. Não penso que altere em demasia a preparação das equipas já que, como em qualquer âmbito, um caso positivo de Covid-19 implica coisas que já conhecemos e que não são uma surpresa”, respondeu à pergunta colocada pelo Observador: “As equipas dentro do ciclismo penso que conseguirão resolver bem a situação mas, até de forma independente à pandemia, vemos que todos os anos há equipas que não continuam ou que sofrem uma metamorfose diferente. Afetou outros campos como os vencimentos dos ciclistas e do staff mas as equipas estão estruturadas de uma forma que continuam a lutar por estas corridas e conseguem superar contratempos sem alterar o rumo”.

Em relação aos favoritos, e admitindo que existe margem para uma surpresa como no ano passado, o espanhol aponta para “três principais favoritos: Egan Bernal, Primoz Roglic e Tom Dumoulin”. “Para mim são os principais candidatos a ganhar o Tour este ano, embora saibamos que tudo se pode passar numa corrida como esta. Há muitos ciclistas que chegam num bom momento. Por exemplo, o Quintana está a fazer uma grande temporada tal como o Pogacar, podem fazer grandes coisas neste Tour. O Enric Mas, pela qualidade que tem, também pode ser um ciclista de relevo sem esquecermos o Miguel Ángel López. O Alaphilippe é outro dos grandes nomes que devemos manter sempre no radar ao olhar para a prova. Mais aberto? Não acredito porque já vimos que a Jumbo Visma e a INEOS são as claras dominadoras e tudo aponta para que assim continue, apesar das melhorias que outras grandes equipas conseguiram fazer”, destacou o espanhol.

Egan Bernal, o futuro jornalista que chegou à Europa de bicicleta de montanha e ganhou o Tour por destino

Por fim, Alberto Contador admitiu também que a exclusão de Chris Froome e Geraint Thomas pela INEOS “acabou por ser uma surpresa”. “Já ganharam o Tour e têm peso no pelotão mas vendo a equipa que a Jumbo Visma vai apresentar entendo a decisão de terem feito uma escolha em termos internos e pelos próprios interesses da equipa. Tendo em conta que o Froome vai mudar de equipas no próximo ano não sei até que ponto iria trabalhar pelo Egan Bernal, o mesmo se passa com o Thomas. No final, a verdade é que sabemos poucas coisas sobre o que se passa dentro das equipas. Já no passado tínhamos visto alguma fricção para não chamar outra coisa, pode ter influenciado. É uma decisão que procura o bem-estar da equipa para chegar mais unida”, realçou.

Chris Froome e Geraint Thomas fora da equipa da INEOS para a Volta à França