Trata-se de um conjunto de apontamentos oficiais tirados durante reuniões de alto nível entre os Estados Unidos e o Reino Unido que o jornal The Telegraph agora revela. É aí que Boris Johnson, atual primeiro-ministro britânico e na altura ministro dos Negócios Estrangeiros no Governo liderado por Theresa May, é citado a enaltecer a atuação de Donald Trump, nomeadamente na política externa, e a dizer que Trump estava finalmente a “tornar a América grande outra vez”, numa referência ao slogan de campanha do norte-americano.

De acordo com o Telegraph, Johnson é citado, por exemplo, a dizer ao então embaixador norte-americano no Reino Unido, numa reunião privada em 2017, que o então presidente norte-americano estava a fazer “coisas fantásticas” na política externa, nomeadamente em países como a China, a Síria e a Coreia do Norte.

Noutros registos, o então ministro dos Negócios Estrangeiros britânico (que chegaria a primeiro-ministro em 2019) é citado a elogiar a “crescente popularidade” de Trump no Reino Unido, em 2017, e a elogiar o facto de, sob a sua liderança, os EUA estarem a voltar a singrar no mundo.

Os registos agora divulgados foram tirados durante um total de sete reuniões entre os oficiais de todo dos ministérios dos Negócios Estrangeiros britânico e norte-americano. Certo é que os elogios de Boris Johnson a Trump captados em privado vão muito mais longe do que aquilo que Boris Johnson se permite dizer em público, e contrariam aquilo que as sondagens têm dito do povo britânico que, na sua maioria, “desaprova” o presidente norte-americano.

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Além dos elogios de Boris Johnson, as notas privadas mostram ainda como Trump resistiu duramente aos apelos de Theresa May para expulsar os diplomatas russos depois do envenenamento de Skripal; como Trump perguntou a Theresa May, durante um almoço, porque é que Boris Johnson não era primeiro-ministro; como Boris Johnson construiu streitas relações de trabalho com Jared Kushner, genro do presidente, e com o conselheiro Stephen Miller, enquanto forjava laços com o círculo mais restrito de Trump; bem como mostram como Trump “intimidava” May com telefonemas que eram descritos como autênticos “pesadelos”.

Já este sábado, numa entrevista ao jornal britânico “The Times”, o ex-embaixador britânico nos EUA Kim Darroch, que se demitiu a 10 de julho de 2019 depois da divulgação de documentos diplomáticos nos quais descrevia Trump e a respetiva administração como “ineptos” e “excecionalmente disfuncionais”, culpava parcialmente Boris Johnson pelo seu afastamento, uma vez que o então ministro dos Negócios Estrangeiros, que disputava a liderança dos conservadores britânicos, não o apoiou perante os ataques do Presidente norte-americano.

Enquanto o Governo cessante de Theresa May o apoiava, relatou o ex-embaixador na entrevista, Boris Johnson, que era o favorito para substituir a então primeira-ministra britânica conservadora, evitou fazê-lo. O antigo embaixador diz ainda que o atual primeiro-ministro britânico, se sentia atraído sobretudo pelo “vocabulário limitado” do líder norte-americano, bem como “pela simplicidade da mensagem, pelo desprezo pelo politicamente correto, pelas imagens por vezes incendiárias” e pela gestão de Trump “da verdade”.

Por sua vez, Trump via Boris Johnson como uma espécie de “alma gémea”. O ex-embaixador britânico defendeu, ainda na entrevista ao The Times, que Johnson está precisamente a usar o mesmo estilo do Presidente norte-americano para apresentar as suas ideias e mensagens ao povo britânico.