Uma “nova fase” ou “um novo padrão” da pandemia, mas não uma “nova vaga”, quanto a isso não há certezas. Foi assim que o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, e a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, leram o aumento dos novos casos de Covid-19 que se tem vindo a registar na última semana. Mais casos, contudo, não é sinónimo de mais mortes ou de maior pressão no Serviço Nacional de Saúde, reforçaram ainda, o que se explica pelo facto de estarmos perante uma nova fase em que o grosso da população infetada tem idades muito inferiores às que se registavam na fase anterior.

“Apenas 10% dos novos casos têm idade superior a 70 anos, sendo que 51% das novas infeções ocorreram em pessoas entre os 20 e os 49 anos“, disse António Lacerda Sales na habitual conferência de imprensa sobre a evolução da pandemia. Isto significa, por um lado, que “temos conseguido cuidar dos mais velhos”, mas, por outro, significa que o regresso à vida ‘normal’ está a fazer com que aumentem as infeções entre pessoas em idade ativa.

Graça Freitas explicaria depois que esta nova fase é “protetora em relação à mortalidade”, por atingir jovens adultos genericamente saudáveis, em vez de atingir em força os mais idosos que são, por norma, mais vulneráveis.

“O número de pessoas infetadas acima dos 70 anos tem sido baixo e a mortalidade está sobretudo associada a pessoas com mais de 70 e de 80 anos. Este padrão a que estamos a assistir, onde os novos casos aparecem sobretudo em pessoas jovens e adultos em idade ativa é protetor em relação à mortalidade“, disse Graça Freitas, sublinhando que o novo padrão não faz prever um disparar da mortalidade. Mas é preciso estar atento à evolução da curva. “Estamos atentos mas neste momento o novo padrão atinge sobretudo adultos jovens, relativamente saudáveis, com menor impacto na mortalidade — diferente da primeira fase da epidemia, onde a letalidade foi superior”, disse.

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Neste momento, como sublinhou Lacerda Sales, com um total de 1871 óbitos, a taxa de letalidade global em Portugal é de 2,9% e a taxa de letalidade nos maiores de 70 anos é de 14,5%. Entre as pessoas infetadas, reforçou também o secretário de Estado da Saúde, a grande maioria consegue ficar recuperada: atualmente, 68,4% das pessoas infetadas já foi considerada recuperada.

Segunda vaga? Não é certo. Governo desvaloriza pressão no SNS

Questionada sobre se estamos perante uma segunda vaga, contudo, Graça Freitas teve cautela. Começando por dizer que é notório que estamos numa fase de aumento dos casos, a diretora-geral de Saúde acabou por concluir que não é possível confirmar se se trata ou não de uma segunda vaga, sendo que para isso é preciso esperar mais tempo para avaliar a curva epidémica.

“O que sabemos é que, avaliando a curva epidémica, estamos a experienciar um aumento da curva, mas só daqui a uns dias perceberemos se essa tendência se mantém e a que nível vai ficar”, disse. Ou seja, como em Portugal a curva foi sempre horizontal, mais estabilizada, e não tanto pontiaguda (com picos), é preciso esperar mais dias para perceber qual é a tendência: se vai disparar, se vai continuar estável nestes valores ou se vai baixar.

Uma coisa é certa: para o Governo, o aumento dos casos não está a ser visto como sinal de alarme para o SNS. Atualmente, segundo Lacerda Sales, há 21.500 camas de internamento e há cerca de 400 pessoas internadas, “isto diz tudo”. “Com estes números não me parece que se possa falar sequer em pressão sobre as camas de internamento”, disse aos jornalistas no briefing da DGS. O mesmo para as unidades dos cuidados intensivos, onde a taxa de ocupação anda na ordem dos 65%, sendo que, desses, só “18% correspondem a ocupação por Covid”.

Questionada sobre o já famoso cumprimento com o cotovelo, Graça Freitas desmistificou a ideia de que deve ser evitado. Disse que o cumprimento é rápido e lateral, pelo que “não me parece que constitua risco”. “Um contacto de alto risco implica contacto mais prolongado e de face a face”, disse, desvalorizando os riscos do contacto com o cotovelo.

Já sobre as imagens de ontem no santuário de Fátima, que mostraram milhares de fiéis num grande aglomerado, Lacerda Sales afirmou que a informação que tem é que o santuário não estaria à espera de tanta gente neste dia 13 (porque não é comum haver uma tão grande concentração nos anos anteriores) e por isso, quando se apercebeu, limitou as entradas. “No próximo dia 13 de outubro, a instituição deve estar preparada para garantir o cumprimento das regras”, disse ainda.

Lacerda Sales adiantou ainda que já chegou ao Governo um pedido de reunião urgente com o Ministério por parte da Igreja Católica, do Santuário de Fátima, o que, no entender do secretário de Estado, “revela preocupação” acrescida. A reunião, disse, deverá acontecer com a máxima brevidade.