“Very well!”. António Costa respirava de alívio no final da conferência de imprensa e imediatamente depois de ouvir a presidente da Comissão Europeia seguir a tradição de não comentar questões de política interna, para fugir à pergunta se teme que uma crise política em Portugal possa pôr em causa a execução dos apoios comunitários que vêm aí. Para o primeiro-ministro esse cenário é “absolutamente insano” e jurou ao lado da Ursula von der Leyen que o Orçamento para 2021 está a ser preparado “com a tranquilidade normal”.

Depois de um encontro entre os dois em São Bento, residência oficial do primeiro-ministro, o primeiro-ministro teve de falar no “irritante” do momento: a difícil negociação do Orçamento do Estado que já foi alvo de três declarações públicas do Presidente da República nos últimos cinco dias: aqui, aqui e aqui. Sempre em forma de aviso, cada vez mais incontornável.

A resposta de Costa veio em duas pistas: uma para tentar serenar ânimos — com a garantia que nas “negociações que estão a decorrer” com os partidos de esquerda, “não há nada que mostre que isso venha a acontecer” — e outra a tentar carregar no acelerador de um acordo. E este é o pedal mais urgente nesta fase, quando faltam apenas 14 dias para a entrega do Orçamento para o próximo ano e decorrem negociações técnicas com a esquerda.

Mas ao lado da mulher que propôs e esteve na primeira linha da defesa da proposta da Comissão Europeia junto do Conselho Europeu, não quis dar parte fraca nessa negociação interna. “Bom, não vou incomodar a presidente da Comissão Europeia com as questões da política nacional”. Ainda assim, acabou por garantir que esse debate “cabe ao Parlamento” e que está a ser preparado “com a tranquilidade normal”.

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FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Prova de serenidade prestada, mas sem deixar um aviso: “Já temos uma crise sanitária e acrescentou-se uma crise económica e social, haver uma crise política era absolutamente insano e injustificado”. Também disse, da sua experiência dos últimos cinco anos, que está “confiante” que “tal como aconteceu nos anos anteriores” tenha “um bom Orçamento”. E que “mais do que nunca é importante” ter este Orçamento “porque esta crise não depende dos apoios europeu, mas nos nossos próprios e da forma como somos capazes de adotar boas políticas”, atendendo às “empresas, emprego e criando um clima de confiança”.

“É fácil? Nunca foi. mas isso faz parte”, admitiu aos jornalistas ao lado da presidente da Comissão Europeia que está em Portugal para participar no Conselho do Estado, mas também para apresentar ao lado de Costa o plano de recuperação e resiliência europeu, esta terça-feira. E Ursula von der Leyen recusou intrometer-se em questões internas, ainda que Bruxelas seja muito sensível a elas, mais ainda quando está prestes a introduzir no país 12,9 mil milhões de euros em subvenções para apoiar a recuperação nacional.

Sobre o que tem em mãos à espera de ratificação dos países, a presidente da Comissão ditou urgência. “As negociações são duras e feitas com intensidade porque todos os atores sabem o que está em causa. A pandemia não acabou e vamos viver com o vírus e isso tem impacto nas economias”, disse ao lado do primeiro-ministro português, um dos líderes do sul da Europa que sente essa emergência. A presidente da Comissão promete que no momento em que as ratificações estejam feitas “vai pôr dinheiro no mercado. Estamos confiantes que o vamos conseguir fazer num curto prazo de tempo”.

E António Costa concorda com essa necessidade de rapidez e mostra que teme sobressaltos de última hora ao dizer que a “capacidade de resposta da Comissão não deve ser comprometida pelos estados membros nos processos de ratificação necessários para implementar o plano”. E isto porque Costa quer pôr “no terreno rapidamente a execução” do plano de recuperação e resiliência cuja primeira versão é conhecida esta terça-feira, mais uma vez com a presidente da Comissão Europeia ao lado que declarou que o mecanismo europeu “foi um fato feito à medida de Portugal”.