A ministra da saúde, Marta Temido, avançou esta quarta-feira que o documento com o plano de vacinação contra a Covid-19 será conhecido “nos próximos dias”. A Comissão Técnica de Vacinação tem agendada “para hoje ou para amanhã” uma reunião sobre este tema, mas ainda aguarda informações dos produtores sobre as próprias vacinas.

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Na conferência de imprensa habitual sobre a situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal, a ministra da saúde acrescentou que a população-alvo indicado neste plano de vacinação deverá ser semelhante ao que tem sido apontado pelas autoridades de saúde noutros países, como Espanha ou a Bélgica.

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“Vale a pena sublinhar que, se consultarem os documentos que já existem noutros países, eles são muito semelhantes ao que definem como população-alvo”, descreveu Marta Temido. Em Portugal, “estamos também na mesma lógica de definição“, em função de “grupo etário, exposição a fatores profissionais de maiores risco e imprescindibilidade”.

Esta semana, o ministro alemão da Saúde disse que prefere ter os centros de vacinação que estão a ser montados em grandes espaços (terminais de aeroportos, recintos desportivos) parados e à espera do que ficar disponível uma vacina e o país não estar pronto para vacinar. Questionada sobre qual o risco de isso acontecer em Portugal, sobretudo tendo em conta a evolução rápida no desenvolvimento de várias vacinas, Marta Temido respondeu “zero”. A ministra garantiu que tudo isso está a ser preparado, e há vários meses, e que, quando alguma vacina for autorizada, Portugal estará preparado para receber, armazenar, distribuir e administrá-la.

Já antes, Temido tinha sido questionada sobre os aspetos logísticos relacionados com o armazenamento e a distribuição das vacinas e explicou que “todos os produtores vão disponibilizar as entregas das vacinas nos próprios países” e, por isso, “a questão do transporte para Portugal não se colocará“. O desafio é “a questão de armazenamento”, que deverá acontecer num único ponto do país.

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“Temos estado a trabalhar nesse tema e temos soluções e planos para esse armazenamento”, garantiu a governante: “Mas a distribuição pelos vários pontos do país, essas questões logísticas estão a ser trabalhadas” pela Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19, composta por “peritos independentes, que funciona na alçada da DGS e que está a desenvolver o seu trabalho para as vacinas contra a Covid-19, mas que intervém em todas as vacinas, na sua utilização e introdução e planificação”.

“Não é uma comissão nova, já existe”, prossegue a ministra: “Neste contexto específico que estamos a ter, a opção que tomámos foi a criação de uma equipa de trabalho, na medida em que não estamos apenas a falar da atuação da vacina, mas também de aspetos logísticos mais exigentes do que o comum e num calendário de vacinação que ainda não conhecemos por completo”.

Nível de restrições no Natal só se saberá “daqui a algum tempo”

Sobre as eventuais medidas de restrição específicas para a época natalícia — regras que já foram delineadas noutros países europeus, como Espanha, Alemanha e Reino Unido —, Marta Temido sublinhou que “só daqui a algum tempo é que vamos perceber exatamente qual é o nível de restrição que teremos nessa altura do ano”.

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Neste momento, e de acordo com as contas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), o risco de transmissão em Portugal é de 1,07 — ou seja, matematicamente, cada pessoa infetada tem a capacidade para contagiar 1,07 outras. Em suma, 100 pessoas infetadas podem originar mais 107 contagiados.

Qualquer valor acima de 1 significa um crescimento exponencial no número diário de infetados. Por isso é que o importante é fazer com que este valor se aproxime cada vez de 1 e depois baixe desse valor “de forma sustentada, durante vários dias”, avisa a ministra de saúde: “Estamos ainda a lutar para chegar o melhor possível aos primeiros dias de dezembro“.

“Vale a pena recordar que vamos ter uma nova fase de estado de emergência, que nos precisamos de concentrar em quebrar cadeias de transmissão e em conter a doença. Alguns países que iniciaram o crescimento desta segunda vaga mais cedo e que adotaram medidas de contenção mais agressivas e mais cedo, estão neste momento a antecipar um pouco melhor o final do mês de dezembro”, justifica Marta Temido.

A ministra garante que o Governo e as autoridades de saúde estão a concretizar o mesmo exercício, mas “há uma coisa que já é muito clara”: “Não vamos poder ter um Natal igual ao dos anos anteriores, por muito que a situação epidemiológica melhore”, alerta a ministra da Saúde.

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SNS “continua a manter capacidade de responder às necessidades”

Marta Temido visitou esta manhã vários estabelecimento de saúde da Administração Regional de Saúde do Norte (ARS Norte) onde a situação epidemiológica da Covid-19 é especialmente preocupante. De acordo com o relato que fez na conferência de imprensa, a mensagem que retirou foi “a capacidade que o SNS continua a manter de responder empenhadamente às necessidades assistenciais”.

“Foi possível acompanhar, nesta manhã de trabalho, não só o esforço da resposta à Covid-19, mas também aquilo que tem sido a resposta à atividade não Covid-19. Todas as equipas com quem conversámos manifestaram essa especial preocupação em garantir que, ao mesmo tempo que se responde à pandemia, manter a capacidade de atendimento nos cuidados de saúde primários“, continuou a ministra.

A ministra da Saúde fez uma referência ao funcionamento em rede do SNS, nomeadamente às transferências de doentes entre hospitais públicos, privados e de cariz social — sejam da região Norte ou para outras zonas do país. “É um aspeto muito positivo, esta capacidade de utilizar o melhor do Sistema Nacional de Saúde”, considerou.

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Mantemos a confiança em todos os profissionais de saúde, que têm feito um esforço muito significativo por continuar a responder, sacrificando a vida pessoal, familiar e os seus momentos de descanso”, frisou Marta Temido, deixando a seguir uma palavra “a todos os portugueses, particularmente àqueles que habitam nas áreas que [visitou] esta manhã pelo apoio que dão à nossa missão, garantindo que se pare as cadeias de transmissão”.

Segundo a ministra da Saúde, essa missão tem dois objetivos: manter a capacidade de resposta do SNS, “reinventando-o, reorganizando-o”; e celebrar “a ajuda que os portugueses dão, muitas vezes com sacrifício económico ou pessoal de prescindir de estar com os entes queridos”. “É esta a resposta que precisamos de continuar a dar nas próximas semanas”, pediu Marta Temido.