Existe uma página de Twitter, alimentada de forma periódica por um adepto do Arsenal, que tem um nome auto-explanatório: “Free Özil”. Ou seja, em português, libertem Özil. Não que Özilesteja capturado, preso ou feito refém de forma literal. Mas porque nos últimos anos é cada vez mais notório que Özil está capturado, preso e feito refém no Arsenal. A história recente do médio alemão é um dos capítulos mais atípicos do últimos anos de futebol europeu e permanece sem grandes explicações. Mas, ao que parece, a aparentemente interminável passagem de Özil pelo Arsenal está prestes a terminar.

De acordo com o DHA Spor, a secção desportiva da agência de notícias da Turquia, o jogador de 32 anos já acordou um contrato de três anos e meio com os turcos do Fenerbahçe. Contudo, outros rumores ligam-no a uma transferência para o DC United, da MLS norte-americana, o clube que Wayne Rooney representou nos Estados Unidos antes de voltar a Inglaterra. Se a segunda opção significava mais uma reforma ao sol de um jogador europeu que ainda não está preparado para terminar a carreira, a primeira era sinónimo da ida de Özil para o país de onde os pais são naturais e de cujo é presidente é amigo próximo, sendo que Erdogan foi mesmo ao casamento do jogador alemão.

Certo é que, de uma forma ou de outra, Mesut Özil vai finalmente deixar o Arsenal durante o mês de janeiro. Um Arsenal onde tudo pareceu começar bem, em 2013, depois de quatro anos de Real Madrid onde foi campeão espanhol e ganhou uma Taça do Rei mas sentiu que não tinha “a fé” dos outros jogadores e da equipa técnica, como o próprio chegou a dizer. Em Londres, onde chegou como a contratação mais cara da história do clube até então, fez desde logo parte da equipa que em 2014 conquistou a Taça de Inglaterra e a Taça da Liga e acabou com uma seca de títulos dos gunners que durava há nove anos. Foi o rei das assistências da Premier League em 2015/16, ganhou mais duas Taças em 2015 e 2017 e era um dos elementos mais importantes de um clube que não conseguia ter sucesso no Campeonato mas parecia compensar com as restantes competições internas.

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Em janeiro de 2018, Özil tinha apenas mais seis meses de contrato com o Arsenal, algo que lhe permitia negociar com qualquer clube e aceitar uma transferência a custo zero. Ainda a recuperar o ritmo competitivo depois de uma lesão no joelho no início da temporada, acabou por renovar por mais três anos, recebendo ainda um aumento salarial que o tornou o jogador mais bem pago da história do Arsenal, a ganhar cerca de 350 mil libras por semana. Foi a partir daqui, porém, que tudo mudou. Arsène Wenger deixou o Emirates no final da época, deixando um clube inteiro órfão de um período que já não vai voltar; Unai Emery aceitou o complexo trabalho de ser o nome que se seguiu a uma lenda.

Arsenal FC v Manchester United - Premier League

As dificuldades do médio alemão no Arsenal começaram com a saída de Wenger e a chegada de Emery

Estatisticamente, a primeira época de Emery ao comando do Arsenal foi a pior de Mesut Özil desde que o alemão tinha chegado à Premier League — entre poucos minutos, poucas assistências e poucos golos. Os gunners foram à final da Liga Europa, que perderam para o Chelsea, e Özil não escondeu a frustração com as opções do treinador espanhol, que terá deixado clara no balneário à frente dos colegas de equipa. Em dezembro de 2019 e depois de um mau início de temporada, Unai Emery foi despedido e substituído por Mikel Arteta, que até aí tinha sido adjunto de Pep Guardiola no Manchester City e nunca se tinha aventurado como treinador principal. A chegada do espanhol, que tinha sido colega de equipa de Özil no próprio Arsenal em anos recentes, permitiu antecipar que o médio alemão podia finalmente encontrar uma nova vida em Londres. Mas todos os otimismos foram manifestamente exagerados.

Em 2019/20, Özil fez 23 jogos e marcou um golo. Em 2020/21, ficou de fora da lista de 25 jogadores que o Arsenal inscreveu na Premier League e tem estado a treinar com os Sub-23, já depois de ter sido criticado por não aceitar a redução salarial associada às quebras provocadas pela pandemia. Mikel Arteta nunca fugiu ao assunto e foi sincero quando questionado sobre o médio alemão, garantindo que sente que “falhou” com o jogador. “Fico magoado porque não gosto de que nenhum jogador na minha equipa não tenha a possibilidade de participar ou de competir. Para mim, é mesmo muito triste porque acho que ninguém merece isso. Neste momento, tendo em conta a lista, é óbvio que ele não pode estar envolvido. Tento ser o mais claro possível com ele e com os adeptos e com a comunicação social porque todos merecem saber as razões disso. Algumas pessoas entendem, outras não entendem (…) No final do dia, estou aqui para tomar decisões. Decisões que, na minha opinião, são as melhores para o clube. E é isso que tenho de fazer”, explicou, na altura, o treinador espanhol, que não deixou fechada a hipótese de Özil ainda conseguir regressar à equipa principal do Arsenal.

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Algo que, à partida, não irá acontecer. A seis meses do fim do contrato e livre para negociar com outros clubes, Mesut Özil está mesmo de saída do clube inglês e, quer seja para a Turquia ou para os Estados Unidos, deixa para trás um capítulo que se tornou negro sem que nunca ninguém percebesse exatamente porquê.