A poucos metros os deputados aprovam mais uma renovação do estado de emergência. Sentados à mesa João Ferreira e Isabel Moreira representam partidos com votos diferentes no hemiciclo esta manhã, mas no mesmo candidato no dia 24. A socialista Isabel Moreira foi das primeiras deputadas a declarar apoio público ao candidato apoiado pelo PCP e João Ferreira achou que seria uma “boa oportunidade” convidá-la para tomar um café durante a campanha eleitoral. E nem o cancelamento da ação no dia anterior fez com que a intenção ficasse só por aí. Com agenda disponível e “todo o gosto” em trocar algumas palavras com João Ferreira, Isabel Moreira ajustou horários e lá esteve.

Os cafés bem que chegaram à mesa, mas acabaram por lá ficar. João Ferreira não bebe, Isabel Moreira já tinha tomado o café da manhã em casa. “Dois cafés fico demasiado ansiosa”, confidenciou. Com os cafés trocados por garrafas de água a conversa girou à volta das alterações que foi necessário fazer na campanha eleitoral e a explicação de João Ferreira para a ter mantido: “É preciso dar segurança às pessoas”.

Seguro está o voto de Isabel Moreira que durante a conversa ainda deixou em cima da mesa mais alguns nomes de deputados socialistas que estarão “quase decididos” a votar no comunista. Isabel Moreira quis saber mais sobre o decorrer da campanha e pré-campanha e o candidato presidencial lá foi detalhando que já foi feito até aqui. O encontro na noite de segunda-feira com a área da cultura foi um dos destaques e Isabel Moreira fez questão de frisar que é uma das “áreas mais afetadas”, ainda que “não se fale tanto como a restauração”.

Sobre o porquê de votar em João Ferreira, Isabel Moreira não deixa dúvidas: “É o candidato que respeita a Constituição e é contra os populismos”. Numa declaração que é também um recado para a socialista (sem o apoio expresso do PS) Ana Gomes, Isabel Moreira diz que João Ferreira não adere, por exemplo, a “uma visão populista da justiça”.

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Sem passeio de bicicleta, mas com alertas para o que diz a Constituição sobre o ambiente

Continuando na onda da recolha de apoios, foi entregue a João Ferreira “uma lista de 285 nomes”, que não puderam demonstrar o apoio presencialmente, de pessoas da área do ambiente à candidatura do comunista. Ao candidato que é biólogo de profissão, Heloísa Apolónia — mandatária nacional da campanha — reconheceu o trabalho “político desenvolvido na área ambiental”, que vai além “da formação académica de base” e que, notou, tem contribuído para que “inúmeras pessoas da área do ambiente e ecologia se juntem à candidatura de João Ferreira”.

Notou a ex-deputada d’Os Verdes que “não há processo de desenvolvimento sem um pilar ambiental que esteja agregado também a um pilar social forte”, recordando o artigo 66.º da Constituição da República Portuguesa dedicado ao ambiente e qualidade de vida: “Todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender”.

Além de recolher simbolicamente o apoio de personalidades desta área estava preparado um passeio de bicicleta, para despertar a questão da mobilidade suave, que pode ser um dos meios para algumas conquistas, nomeadamente no dia a dia das cidades, que acabou por não se realizar. A campanha sofre alterações diariamente, mas nem por isso o candidato deixa de assinalar o que estava inicialmente previsto, numa espécie de ‘fazer não fazendo’ mas que permite passar a mensagem.

No parque Amália Rodrigues, em Lisboa, marcou também presença Eugénio Sequeira, ex-presidente da Liga para a Proteção da Natureza para dizer ao “colega de profissão” João Ferreira que há “trabalho que tem de ser feito” e que é ele que representa a hipótese de avançar nesse campo.

O candidato presidencial voltou a recorrer à letra da Constituição para alertar que cabe ao Presidente da República também garantir que os recursos naturais são “utilizados na perspetiva de que têm de ser depois delegados nas próximas gerações”. João Ferreira deixou ainda críticas a quem faz das questões ambientais “um emblema bonito para a lapela sobretudo em tempos de campanha eleitoral”.

“Um Presidente da República não pode estar à margem das preocupações quando jura defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição”, apontou João Ferreira notando que a cooperação com especialistas das áreas ambientais “tem de ser trazida, na melhor cooperação, para o centro da ação política” já que há “uma visão plasmada na Constituição que um Presidente da República não pode ficar alheio”.

Costa e Silva, Marcelo e António Costa na boca dos micro, pequenos e médios empresários

A tarde de João Ferreira foi passada numa conversa com micro, pequenos e médios empresários que deixaram críticas fortes à “amizade” entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa e que não deixaram de lado o plano que Costa e Silva formulou a pedido do Governo para a retoma económica.

Jorge Pisco, presidente da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME) recordou que os sócios-gerentes estão ainda excluídos do apoio que o Governo criou para responder às dificuldades criadas pela pandemia da Covid-19 e na questão da falta de aplicação de fundos comunitários do Portugal2020 “que ainda não foram aplicados e que o Governo já podia ter aplicado”. “Não esperamos que nada de bom daí venha, a situação já é muito complicada e os contactos dos diversos setores causam-nos uma grande preocupação”, afirmou o responsável na expectativa de conhecer as medidas do Executivo para o novo confinamento que entra em vigor na sexta-feira.

Luís Rebelo, empresário da restauração e um dos mais críticos da tarde apontou a responsabilidade pelas falhas ao Governo e a Marcelo Rebelo de Sousa, frisando que não é possível “dissociar um do outro”. “Quando temos um Presidente que acaba por manipular este Governo e o Governo manipulou a forma deste Presidente falamos da mesma coisa, um Estado-nação. Não se pode dissociar a responsabilidade de um de outro, são os dois órgãos de soberania responsáveis”, apontou o empresário .

João Ferreira explicou o porquê da iniciativa que permitiu ouvir durante cerca de uma hora a intervenção de vários empresários: “Esta candidatura não faz daqueles a quem nos dirigimos meros espetadores, quer que eles sejam participantes e hoje foram participantes, fizeram esta iniciativa de campanha”. Prometida ficou já a repetição de iniciativas deste género.

No que diz respeito ao tema, João Ferreira fez a conclusão da sessão afirmando que “não se carregou nas tintas” uma vez que a “situação é verdadeiramente dramática”, mas desengane-se quem pretende atribuir culpas apenas à pandemia. “Os problemas das micro, pequenas e médias empresas não começaram em março, havia todo um contexto de dificuldades, somaram-se os impactos brutais da pandemia”, disse João Ferreira acrescentando que “não se esquece” que Marcelo colocou obstáculos à renovação dos apoios para os empresários.

Este artigo foi atualizado ao longo do dia