Em junho o Governo previa chegar ao final do ano com uma taxa de desemprego de 9,6%. Ao apresentar o Orçamento do Estado para este ano, em outubro passado, já achava que chegaria ao final de 2020 com 8,7% de desemprego.

Não foi nem uma coisa nem outra: afinal, Portugal fechou o ano passado com uma taxa de desemprego de 6,8% (apenas 0,3 pontos percentuais acima do conjunto do ano de 2019), até abaixo do que estimava o Banco de Portugal no seu boletim económico de dezembro.

De acordo com os dados divulgados esta quarta-feira pelo INE, “a taxa de desemprego foi de 7,1% no quarto trimestre, menos 0,7 pontos percentuais face ao trimestre anterior e mais 0,4 pontos percentuais face ao período homólogo”.

A taxa de subutilização do trabalho para o conjunto do ano de 2020 – indicador que agrega a população desempregada, o subemprego de trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego, mas não disponíveis e os inativos disponíveis mas que não procuram emprego – foi estimada em 13,9% (1,2 pontos percentuais acima da do ano anterior).

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Só no 4.º trimestre de 2020, a subutilização do trabalho abrangeu 750,3 mil pessoas, um aumento de 10,7% face aos mesmos três meses de 2019.  Um número que se divide desta forma:

Uma população desempregada estimada em 373,2 mil pessoas – diminuiu 7,7% (30,9 mil) em relação ao trimestre anterior e aumentou 5,9% (20,8 mil) relativamente ao trimestre homólogo de 2019.

O subemprego de trabalhadores a tempo parcial abrangeu 163,6 mil pessoas, mais 3,2% (5,0 mil) que no trimestre anterior e mais 5,1% (7,9 mil) que no trimestre homólogo.

O número de inativos disponíveis mas que não procuram emprego foi estimado em 192,0 mil pessoas. Em relação ao trimestre anterior, foi observado um decréscimo de 17,7% (41,3 mil), enquanto, relativamente ao período homólogo, se verificou um aumento de 32,2% (46,8 mil).

Olhando apenas para os inativos, em 2020 deixaram de trabalhar 200 mil pessoas (com 15 ou mais anos), indica o INE.

A razão mais indicada para ter deixado de trabalhar, referida por 29,5% daquele grupo de inativos (59,0 mil), foi ter tido um ‘Trabalho de duração limitada’, mais 18,4 mil (45,3%) do que no 3.º trimestre de 2020. A segunda razão mais mencionada, por 18,3% daquele grupo, foi ‘Outra razão’, onde se incluem a rescisão por mútuo acordo, o layoff e o fim de negócio próprio (36,7 mil, aproximadamente o mesmo número de pessoas do trimestre anterior). E o terceiro motivo mais referido, por 13,5% daqueles inativos (27,1 mil), foi ‘Despedimento individual/coletivo’, com uma variação trimestral negativa de 1,5 mil (5,2%).

De acordo com o INE, a diminuição trimestral da população inativa, iniciada no terceiro trimestre de 2020, pode ser explicada “pela reabertura das empresas que haviam estado temporariamente encerradas e pela redução das restrições à livre circulação de pessoas”, o que permitiu a mais pessoas cumprirem o critério de “desempregados”, uma vez que já poderiam procurar ativamente emprego. Isto permitiu quer o aumento da população empregada, quer da população desempregada.

A taxa de desemprego de jovens (15 a 24 anos) no conjunto do ano situou-se em 22,6%, 4,3 pontos percentuais acima do estimado para o ano anterior, enquanto a proporção de desempregados de longa duração foi estimada em 39,5%, menos 10,3 pontos percentuais do que em 2019, o que correspondeu ao decréscimo mais elevado da série de dados.

Dos jovens dos 15 aos 34 anos residentes em Portugal, 11,6% (255,2 mil) não tinham emprego nem estavam a estudar ou em formação, uma percentagem que aumentou 2,1 pontos percentuais (45,1 mil) em relação a 2019.

O INE destaca que nos três indicadores Europa 2020 – taxa de emprego dos 20 aos 64 anos, taxa de abandono precoce de educação e formação e taxa de escolaridade do ensino superior – observaram os seguintes valores: 74,7%, 8,9% e 39,6% (76,1%, 10,6% e 36,2% em 2019).

Assim, sinaliza, “o primeiro e o terceiro indicadores ficaram um pouco aquém das respetivas metas (75% ou mais e no mínimo 40%, respetivamente), enquanto o segundo superou a meta estabelecida (menos de 10%)”.

Em termos trimestrais, no último trimestre do ano, em que a taxa de desemprego alcançou os 7,1%, a população empregada – 4.859,5 mil pessoas – aumentou 1,2% (59,6 mil) por comparação com o trimestre anterior, mas diminuiu 1% (48,1 mil) em relação ao homólogo.

Simultaneamente, refere, a população empregada ausente do trabalho na semana de referência diminuiu 47,8% (396,1 mil) em relação ao trimestre anterior e aumentou 26,0% (89,4 mil) relativamente ao quarto trimestre de 2019.

De modo semelhante, refere, observou-se um acréscimo trimestral de 8,5% e uma redução homóloga de 6,6% do volume de horas efetivamente trabalhadas.

A transição do desemprego para o emprego (30,4%) foi o valor mais elevado da série iniciada em 2011, sinaliza. A população desempregada, estimada em 373,2 mil pessoas, diminuiu 7,7% (30,9 mil) em relação ao trimestre anterior e aumentou 5,9% (20,8 mil) relativamente ao quarto trimestre de 2019.