O ministro dos Negócios Estrangeiros português assegurou esta quarta-feira ser possível ultrapassar as divergências nos compromissos ambientais entre a União Europeia (UE) e a América Latina para que se possa avançar num acordo global entre os dois blocos.

Augusto Santos Silva falava na sessão de encerramento dos dois dias de trabalhos do 10.º Encontro “Triângulo Estratégico: América Latina – Europa – África”, iniciativa anual do Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas (IPDAL), destinado a proporcionar uma plataforma de discussão política e económica sobre o Atlântico.

Numa sessão virtual em que participou também o chefe da diplomacia chilena, Andrés Allamand, e a secretária-geral da Ibero-Americana (SEGIB), Rebeca Grynspan, o chefe da diplomacia de Portugal, país que assegura no semestre em curso a presidência da UE, defendeu ser necessário “acelerar” o acordo político entre as duas partes alcançado em junho e julho de 2019.

Estamos a trabalhar nos compromissos ambientais. Será suficiente? Sim, será. Poderá ser clarificado com uma nova agenda, pois há vontade política dos Estados ibero-americanos para aprovar o Acordo sobre Alterações Climáticas de Paris e para combater a desflorestação”, afirmou Santos Silva.

Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros português, todo este processo é, já em si, “um avanço” para as ações climáticas e ambientais no acordo entre a UE e Mercosul, lembrando que a presidência portuguesa da UE não tem a ambição de resolver todos os problemas, mas sim a de encontrar solução para as condições pendentes.

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Santos Silva lembrou, por outro lado, que está em curso o processo de aprovação e de ratificação do acordo político já obtido, assim como a tradução dos termos do consenso para as mais de 20 línguas faladas na Europa, trabalho a cargo dos juristas e linguistas.

Nesse sentido, Santos Silva destacou a área da cooperação digital entre os dois blocos, não só para dar resposta à pandemia de Covid-19, como também para reforçar os instrumentos comerciais e a relação política, lembrando que, em maio, ficará concluída a amarração de um novo cabo digital entre a América Latina (a partir de Fortaleza, Brasil) e a Europa (em Sines, Portugal).

Na intervenção, o chefe da diplomacia portuguesa destacou também a prioridade de Lisboa na relação da Europa com o continente africano, sendo necessário concluir a negociação do novo acordo com os países ACP (África, Caraíbas e Pacífico) para suceder ao assinado em Cotonu (Benim).

Há também já um acordo político, mas falta concluir o processo negocial”, sublinhou Santos Silva, adiantando que gostaria de ver o pacto assinado ainda durante a presidência portuguesa da UE.

Sobre a cimeira Europa/África, prevista inicialmente para 2020, Santos Silva admitiu a possibilidade de que possa vir a realizar-se ainda este ano, logo que a pandemia assim o permita.