Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos estão alinhados, mas as estruturas locais não estão a facilitar. PSD e CDS acumulam problemas na região da Grande Lisboa, incluindo na grande coligação não-socialista encabeçada por Carlos Moedas à autarquia presidida por Fernando Medina. As antipatias nas estruturas locais e as ambições políticas pessoais dos vários protagonistas podem comprometer a mobilização da máquina social-democrata em torno de Moedas. Mas os problemas ultrapassam as fronteiras de Lisboa-concelho — em Odivelas e Loures a aliança de direita morreu antes de nascer e os dois partidos vão separados a votos.

Começando por Lisboa. O CDS ambiciona encabeçar as listas nas cinco juntas de freguesias onde o partido teve mais votos em 2017. Aos olhos dos democratas-cristãos trata-se de uma exigência perfeitamente razoável, ainda que ninguém trace linhas vermelhas nesta altura do campeonato. O processo está a decorrer e a expectativa é que as negociações possam chegar a bom porto.

Do lado do PSD, o aviso é claro: é melhor que o CDS modere as expectativas. O PSD/Lisboa parece pouco disposto a abdicar de algumas dessas juntas e ambiciona liderar mesmo em sítios onde foi menos votado nas últimas eleições, como é o caso das Avenidas Novas — para já, o grande irritante nestas negociações. A isto pode somar-se ainda o Parque das Nações, onde o PSD também acredita que pode ganhar.

A juntar a isto Moedas ainda enfrenta outro problema: a tensão entre as estruturas que ajudaram a eleger Luís Newton, que lidera a concelhia do PSD/Lisboa e não morre de amores por Paulo Ribeiro, um dos escolhidos pela direção do PSD para negociar em nome do partido e que é, precisamente, o grande adversário de Newton na concelhia de Lisboa.

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Do lado do CDS, a direção nacional chamou a si a negociação e quem está a negociar Lisboa é o presidente da Mesa do Conselho Nacional, Filipe Anacoreta Correia, e o secretário-geral, Francisco Tavares. A concelhia, liderada por Diogo Moura, e a distrital, liderada por João Gonçalves Pereira, estão insatisfeitas com os primeiros sinais que receberam das negociações e as ondas de choque já se fizeram sentir, como contava aqui o Observador. O último Conselho Nacional do partido, aliás, ficou marcado pelas acusações de “saneamento políticodirigidas a Francisco Rodrigues dos Santos.

A pressão interna sobre a direção do CDS, que aceitou abdicar do lugar de cabeça de lista à Câmara de Lisboa em função da candidatura de Carlos Moedas, é, por isso, enorme. A própria Assunção Cristas quis deixar a fasquia bem alta, quando se retirou da corrida lembrando que o CDS ficou à frente do PSD e pediu “cumprimento de critérios objetivos no diálogo entre os dois partidos”.

Mas os tais critérios objetivos definidos podem ser difíceis de engolir por parte do PSD. Em 2017, o CDS ficou à frente das juntas de freguesia de Campolide, Lumiar, Misericórdia, Parque das Nações e Avenidas Novas — uma junta de freguesia que era do PSD até 2017. Para as estruturas do PSD em Lisboa esse facto releva pouco: “2017 foi um ano atípico”, o CDS “já não vale o que valia” e o “ideal era o PSD encabeçar todas as listas”, comenta com o Observador fonte do aparelho social-democrata.

Além disso, uma cedência desta dimensão por parte de quem negoceia em nome do PSD deixaria Luís Newton fragilizado como presidente da concelhia — algo que o líder do PSD/Lisboa não estará disposto a aceitar. Os escolhidos pela direção de Rio e por Carlos Moedas para gerir as negociações são Paulo Ribeiro, candidato derrotado (por Newton) nas eleições do PSD/Lisboa, e o secretário-geral adjunto João Montenegro.

Os dirigentes da concelhia, liderada por Luís Newton, não reconhecem a Paulo Ribeiro e a João Montenegro poder negocial porque, como diz um dos dirigentes da estrutura local ao Observador, são “a concelhia e a distrital que aprovam as listas, não é a nacional, nem o candidato à câmara”. Do lado da nacional ninguém teme ficar refém de Newton, uma vez que, em último caso, a direção avoca o processo.

A mesma fonte admite que a conversação deve ser feita com Moedas na lista ao executivo, mas que a decisão sobre as juntas depende apenas de dois órgãos (concelhia e distrital), que muito dificilmente vão dar a bênção a juntas de freguesia lideradas pelo CDS. “Muito menos aquelas que eles querem“, diz outra fonte do PSD/Lisboa ao Observador.

Do lado dos negociadores de Moedas, sabe o Observador, os problemas com o CDS são desvalorizados, já que acreditam que as diferenças são próprias de um processo negocial, que até agora é visto desse lado com “normalidade“. Mesmo a quezília com Newton é relativizada, já que o presidente da concelhia estará a ser informado de cada passo dado por Paulo Ribeiro. Luís Newton e o presidente da distrital, Ângelo Pereira, alegam os sociais-democratas, só não estão nas reuniões porque o CDS não quer levar os homólogos para a mesa de conversações e não por veto dos negociadores de Moedas e Rio.

O CDS também está relativamente tranquilo em relação à eventual reação das estruturas do PSD. O processo negocial ainda decorre, terão de existir cedências de parte a parte, é preciso olhar para o perfil das pessoas que estão disponíveis para abraçar determinados pelouros e o objetivo é chegar a um acordo que satisfaça todas as partes. Existirão, naturalmente, decisões que não vão agradar a todos. “É da vida“, diz ao Observador fonte democrata-cristão.

Convulsão no CDS complica contas a Moedas

Odivelas e Loures sem acordo

Encerrados estão já dois processos diferentes. Em Odivelas, PSD e CDS não chegaram sequer a conversar e a aliança morreu antes mesmo de existir. Aos olhos dos sociais-democratas, o partido liderado por Francisco Rodrigues dos Santos representa muito pouco em termos de votos e as referências sobre João Paulo Galhofo, membro da direção alargada de Rodrigues dos Santos e líder da concelhia, estão longe de ser as melhores.

O PSD entendeu, por isso, nem sequer encetar conversações com o CDS em Odivelas. Em 2017, os dois partidos foram juntos a votos e tiveram 21,70% do votos, quase metade daqueles que foram alcançados pelo PS, que conquistou a autarquia. O candidato do PSD será, desta vez, Marco Pina, líder da concelhia, atual vereador e comentador na CMTV.

Em Loures, as conversações entre os dois partidos chegaram a existir, mas a aliança acabou por falhar. Mais uma vez, a () relação entre as estruturas dos dois partidos acabou por ditar o fim prematuro de um projeto comum e os dois partidos vão a votos sozinhos.

Há quatro anos, a coligação acabou por partir depois de Assunção Cristas ter retirado o apoio político a André Ventura. Desta vez, Nelson Baptista, líder da concelhia do PSD/Loures, já sabe de antemão que terá de entrar na corrida autárquica a solo.