“Assunto muito mal explicado e grave para o Governo do Partido Socialista”, é assim que Rio Rio classifica a polémica em torno da venda de seis barragens pela EDP. E, quando diz ‘Governo do Partido Socialista’, Rio refere-se não apenas ao atual, mas também ao que estava em funções em 2007 quando foi vendida a extensão da exploração por mais 13 anos de 27 barragens por 700 milhões de euros. Questionado pelos jornalistas sobre a chamada do presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ao Parlamento, Rio diz que é “fundamental que o presidente da APA explique o que é que o levou a alterar o parecer técnico da autora”, sugerindo que houve “toques políticos” num parecer que inicialmente era negativo.

Em julho, um parecer interno da APA, assinado pela diretora de recursos hídricos, defendia que não estavam reunidas as condições legais para autorizar a transferência destes contratos da EDP para a Engie e alertava para o facto de as contrapartidas ambientais prometidas pela EDP nas barragens do Baixo Sabor e Foz Tua não estarem todas implementadas. A diretora considerava também que a APA não estava em condições de autorizar a transmissão porque “estava em causa o interesse público e a situação não é clara face aos processos judiciais, nacional e comunitário, que estão a decorrer”.

É com base nesse parecer técnico inicial que Rui Rio afirma que “a sustentação do parecer técnico da APA é clara quanto à impossibilidade e às dúvidas do valor das barragens que estamos a falar”, mas preconiza depois que foi “dada a volta por cima, com retoques políticos”.

Venda de barragens da EDP gerou reservas dentro da APA, mas Finanças não avaliaram impacto financeiro de negócio entre privados

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já no campo da troca de acusações entre Rui Rio e Matos Fernandes, que começou com Rio a acusar o ministro Matos Fernandes de ser “advogado de defesa da EDP” (e que mereceu como resposta de Matos Fernandes a acusação de que Rio estaria a mentir), Rui Rio volta à carga dizendo que Matos Fernandes “escondeu que o parecer técnico original é negativo” quando veio a “público dizer que a APA deu parecer positivo”.

Mas o líder dos sociais-democratas tinha ainda críticas mais alargadas à atuação do Governo nos últimos dias em relação a este tema, desta vez acusando o Executivo de condicionar a RTP.

“Põem a RTP a dizer que a empresa, que foi criada com um funcionário, foi com 28 funcionários. Tenho o documento a dizer que foi só um”, apontou Rui Rio que diz que há “um esforço incrível da parte do Governo em baralhar, mentir, para que as pessoas não percebam nada”.

PSD e PAN pedem audição urgente do presidente da APA sobre negócio da EDP

Rio diz que é normal para António Costa ter no Governo ministros que mentem

O rol de críticas não se ficou pelos ataques diretos a Matos Fernandes, com Rui Rio a recordar os casos mais recentes que fragilizaram Eduardo Cabrita e Francisca Van Dunem para dizer que para Costa “é normal” ter ministros que mentem.

“Mentir, faltar à verdade não é para o primeiro-ministro muito grave, é normal”, apontou Rui Rio quando foi questionado sobre se seria necessária alguma remodelação ministerial no Governo ou se Matos Fernandes devia sair do Executivo. “Penso que o mais provável, depois do que aconteceu com Eduardo Cabrita e a ministra da Justiça é que o primeiro-ministro mantenha o ministro do Ambiente porque mentir, faltar à verdade não é para o primeiro-ministro muito grave, é normal. Tenho que admitir que no Governo dele seja normal, no meu não seria”, apontou.