(em atualização)

Pelo menos 50 portugueses estavam em Palma, Moçambique, avançou a TVI esta quinta-feira, mas todos conseguiram fugir da zona de conflito. Um deles, como foi anunciado logo nas horas seguintes ao ataque de 24 de março, foi baleado e encontra-se internado num hospital na África do Sul. O partido no poder em Moçambique garante que tudo tem feito para devolver a segurança à região norte do país.

Já as Nações Unidas dizem-se preocupadas com falta de fundos e pedem mais financiamento internacional.

O Daesh reivindicou esta segunda-feira, 29 de março, o controlo sobre Palma, depois de um ataque à sede de distrito desencadeado na quarta-feira anterior, 24 de março, junto aos projetos de gás que estão em desenvolvimento na região. No entanto, uma investigadora garante que o Estado Islâmico usou imagens simuladas para reivindicar o ataque.

Ataques em Moçambique. ONU registou mais de 5.300 deslocados desde ataque a Palma

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Forças governamentais estão a fazer de tudo para devolver segurança

A Comissão Política da Frelimo, partido no poder em Moçambique, assegurou esta quinta-feira que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) “tudo têm feito” para garantir a segurança e o sossego na região norte, face aos ataques de grupos armados. “A Comissão Política saúda o trabalho das Forças de Defesa e Segurança, que tudo têm feito para garantir a segurança e sossego das populações”, refere uma nota de imprensa daquele órgão da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), a que a Lusa teve acesso.

O partido no poder assinala que os “ataques e a brutalidade” de grupos armados na província de Cabo Delgado estão a provocar “sofrimento e drama às populações”.

A Comissão Política da Frelimo é o órgão decisório mais alto do partido no poder em Moçambique no intervalo entre as sessões do Comité Central e dos congressos e reúne-se semanalmente sob  a liderança do presidente da organização, que é também o Presidente da República, Filipe Nyusi.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é desde há cerca de três anos alvo de ataques terroristas e o último aconteceu no passado dia 24, em Palma, quando dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano. A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da ONU, e mais de duas mil mortes, segundo contas da Lusa.

MOZAMBIQUE-UNREST-CONFLICT

O partido no poder assinala que os “ataques e a brutalidade” de grupos armados na província de Cabo Delgado estão a provocar “sofrimento e drama às populações”

Estado Islâmico usou imagens simuladas para reivindicar ataque a Palma

O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia. No entanto, a investigadora Jasmine Opperman afirmou à Lusa que foram usadas imagens simuladas para reivindicar o ataque.

“A foto, mas também o vídeo, que foram usados” representam um cenário que “não foi em Palma, foi em Mocímboa da Praia”, disse a investigadora da ACLED – Armed Conflict Location and Event Data Project, uma organização não governamental especializada na recolha, análise e mapeamento de dados relativos a conflitos. Segundo Opperman, “este ataque foi oferecido ao EI” pelos insurgentes em Moçambique.

Apesar disso, a investigadora diz que “a reivindicação do crédito não é falsa, mas esta é uma reivindicação simulada, como vimos sempre, com o mesmo formato, a mesma linguagem, o mesmo estilo narrativo” e que mostra que tem havido comunicações entre os insurgentes e o Estado Islâmico.

“Temos de analisar a estratégia de expansão global do EI. Eles estão a usar [insurgências] locais, e ainda que no início seja apenas propaganda, apenas precisam de tempo para que a sua narrativa extremista se imponha nesse contexto local”, explicou a investigadora que considera que “a impressão digital” do EI está ainda numa “fase evolutiva” em Cabo Delgado. “Por agora, apenas está a usar estes ataques e a ajustar a narrativa destes ataques à sua propaganda”, mas está a ter várias ajudas para ganhar cada vez mais força, tanto por parte do Governo de Maputo como por atores internacionais.

ONU preocupada com falta de fundos pede mais financiamento internacional

A Organização das Nações Unidas está preocupada com o subfinanciamento de operações humanitárias, entre as quais a de Moçambique, onde apenas 1% de 217 milhões de euros necessários foi angariado. “Exortamos os doadores a dar generosamente a todos os apelos humanitários”, disse Stéphane Dujarric, porta-voz de António Guterres, secretário-geral da ONU. “Vemos o aumento de necessidades críticas em Moçambique. (…) Estamos a dar o nosso melhor”, declarou.

A 13 de março, ao assinalar o segundo aniversário da passagem do ciclone devastador Idai por Moçambique, o secretário-geral da ONU, António Guterres, avisou que a população moçambicana precisa da ajuda urgente de 254 milhões de dólares (cerca de 217 milhões de euros) “para enfrentar a tripla crise resultante da violência, das crises climáticas e da pandemia de covid-19”. A ONU indicou que apenas 1% do valor necessário foi angariado até agora.

Ataques em Moçambique. Moradores de Pemba sentem mais insegurança após ataques no resto da província

De acordo com os últimos números, 950 mil pessoas em Cabo Delgado e nas províncias vizinhas de Niassa e Nampula sofrem de insegurança alimentar. Em fevereiro contavam-se cerca de 670 mil pessoas deslocadas internamente, das quais 80 mil estão atualmente inacessíveis por causa da violência.

A vila de Palma, cerca de 25 quilómetros do projeto de gás natural da multinacional Total, sofreu um ataque armado na quarta-feira da semana passada, que as autoridades moçambicanas dizem ter resultado na morte de dezenas de pessoas e na fuga de centenas. A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da ONU, e mais de duas mil mortes, segundo um cálculo feito pela Lusa.