A comissão técnica de vacinação contra a Covid-19 da Direção-Geral da Saúde (DGS) está a estudar a possibilidade de administrar uma vacina de outra farmacêutica às pessoas, com mais de 60 anos, que já receberam a primeira dose da vacina da AstraZeneca.

A informação foi avançada pela Comissão Técnica de Vacinação contra COVID-19 (CTVC) à TSF e confirmada ao Observador por Manuel Carmo Gomes, membro desta Comissão Técnica. O epidemiologista escreve ao Observador que, para já, há pouca informação sobre este cruzamento de vacinas.

de momento a evidência sobre a intercambialidade de vacinas ainda é escassa. (…) os ensaios em seres humanos começaram recentemente.” diz Manuel Carmo Gomes.

Segundo a TSF, cerca de 200 mil portugueses, de várias idades, já foram vacinados com a primeira dose desta vacina e as autoridades procuram agora uma solução para terminar a imunização destas pessoas.

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Na reação a esta possibilidade, João Manuel Braz Gonçalves, virologista e professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, avança ao Observador que os dados que existem mostram que não há diminuição na eficácia ao cruzar as vacinas de duas de farmacêuticas diferentes, antes pelo contrário.

Os dados que nós temos dão-nos a indicação que a segurança da utilização de vacinas misturadas, digamos assim, é boa. Até muitas vezes é melhor utilizar duas vacinas diferentes. – João Manuel Braz Gonçalves.

O virologista e  professor da faculdade de farmácia da Universidade de Lisboa defende que a Agência Europeia do Medicamento deve emanar orientações antes da DGS, mas acredita que por causa da urgência, a Direção Geral da Saúde deve antecipar-se. João Manuel Braz Gonçalves acredita que este pode ser o caminho tomado para fazer face a esta adversidade.

Na mesma linha está Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, que acredita que não deve haver problemas em cruzar as duas vacinas de farmacêuticas diferentes.

Do ponto de vista bioquímico, não se antevê nenhum problema pelo cruzamento dos dois tipos de vacina, mas são opções que não foram testadas a fundo e que, por isso, reside sobre elas uma certa incógnita. Afirma Miguel Castanho.

Miguel Castanho revela que uma das opções que já foi testada é usar uma dose da AstraZeneca e uma dose da vacina russa. O investigador lembra que a Agência Europeia do Medicamento ainda não deu “luz verde” ao fármaco russo, mas afirma que dos dados que estão disponíveis, não há razões para não aprovar a vacina Sputnik V.

Ouça aqui a entrevista da Rádio Observador ao investigador Miguel Castanho.

AstraZeneca. “Já foram feitos testes com 2ª dose da vacina russa”

Na semana passada, a DGS suspendeu a administração da vacina da AstraZeneca para pessoas com menos de 60 anos por causa de uma possível ligação à formação de coágulos sanguíneos, anunciada em conferência de imprensa pela Agência Europeia do Medicamento. Vários países seguiram esta prática, mas na passada sexta-feira, o ministro da saúde francês, Olivier Véran, avançou que, em França, vai ser adotada esta estratégia, ou seja, as pessoas que receberam a primeira dose da vacina da AstraZeneca vão receber a segunda dose de outro fármaco.

Segundo os dados divulgados na semana passada, perto de 580 mil pessoas têm a vacinação completa contra a Covid-19, o que representa 6% da população, das quais cerca de 300 mil idosos com 80 ou mais anos. Segundo o relatório semanal da DGS, 579.069 portugueses já receberam as duas doses da vacina contra o SARS-CoV-2.

O relatório, com dados até dia 4 de abril, indicava que tinham sido vacinadas com a primeira dose 1.334.338 pessoas (13% da população).

Já no final da semana, a “task-force” do plano de vacinação revelou que Portugal tinha alcançado a marca de dois milhões de vacinas contra a Covid-19 administradas à população desde o dia 27 de dezembro de 2020.